“Californication”, dos Red Hot Chili Peppers, celebra 20 anos

por José Malta,    7 Junho, 2019
“Californication”, dos Red Hot Chili Peppers, celebra 20 anos
Capa do disco
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Há precisamente 20 anos atrás os Red Hot Chili Peppers lançavam Californication, o seu sétimo álbum de estúdio que seria o seu terceiro lançado na década de 90. A banda californiana formada no início dos anos 80, prometia vir a ser uma das mais emblemáticas bandas do futuro dado o modo como conseguiam conectar o rock com o funk, criando um estilo muito próprio nos seus trabalhos iniciais mas que viria a sofrer transformações com o passar dos anos e com a adição de novas vertentes. Em 1999 a banda contava já com entradas e saídas de músicos que deixaram marca em todo o seu reportório. Contando desde o início com o carismático vocalista Anthony Kiedis, que nesta altura resolvera pintar o seu cabelo de cor loura, e o mítico baixista Flea, conhecido pela sua técnica inconfundível e por muitas vezes se apresentar em palco como veio ao mundo, a banda contava ainda com Chad Smith na bateria desde o álbum Mother’s Milk lançado em 1989.

Na guitarra, depois da morte trágica de Hillel Slovak a banda teve alguma dificuldade em encontrar um guitarrista que se mostrasse presente em todos os trabalhos, havendo assim várias alternativas em vista. John Frusciante que já tinha gravado Mother’s Milk bem como o aclamado Blood Sugar Sex Magik regressava depois de um intervalo onde Dave Navarro ficaria ao leme da guitarra em One Hot Minute, lançado em 1995, álbum esse que não tivera um impacto como se esperaria. O regresso de Frusciante criaria uma espectativa enorme nos fãs que se mostravam bastante entusiasmados com um novo álbum da banda.

Californication seria assim o álbum que traria uma enorme explosão musical que colocaria os Red Hot Chili Peppers definitivamente no topo. O título, que junta as palavras California e fornication (fornicação), uma palavra pejorativa que fora utilizada por alguns para retratar o desenvolvimento descontrolado do sul da Califórnia e que mais tarde foi conotada com a sua multiculturalidade, viria a criar alguma controvérsia. Com uma capa bastante peculiar, que exibe uma piscina onde se encontra um céu alaranjado, ao entardecer, e um céu que mostra a água que deveria estar na piscina, à primeira vista o álbum poderia trazer algo musicalmente místico consigo. Californication foi assim um dos grandes álbuns que encerraria uma década de ouro na música e que venderia cerca de 15 milhões de cópias até hoje em todo o mundo.

As letras do álbum abordam alguns temas controversos como drogas, suícidio e globalização, o que em 1999 só o tornaria ainda mais interessante. É com o baixo ultrassónico de Flea que se junta à bateria de Chad Smith, à guitarra de John Frusciante e à voz inconfundível de Anthony Kiedis que começamos a volta ao álbum com Around The World, uma das mais emblemáticas canções da banda norte-americana que inaugura um álbum altamente enérgico. Depois da pequena volta ao mundo surge um universo paralelo em Parallel Universe, canção que faz referência ao estado onde a banda se formou quando nos versos o narrador se sente como um Rei da Califórnia, estado nativo da banda cujo trabalho até hoje se encontra fortemente associado.

Sendo que os Red Hot Chilli Peppers marcaram a adolescência de toda uma geração, onde as primeiras cicatrizes da vida começam a surgir, Scar Tissue é uma canção que confere uma juventude eterna à própria banda. Num tom mais calmo, relativamente às faixas anteriores, a terceira faixa de Californication arrecadou o Grammy de Melhor Canção Rock no ano 2000. A letra foi composta por todos os membros sendo uma melodia sublime que marcou uma geração que presenciava o que de melhor havia na música rock e que nunca deixou de ser ouvida até hoje. Segue-se Otherside, outra canção ilustre que mostra o melhor rock da banda numa letra algo melancólica, onde os versos “How long, how long will I slide?” e “Take it on the other side” que são repetidos intensivamente dão a sensação de ser interpretada por alguém que pensa em cometer suicídio. Já a canção Get on Top traz-nos novamente um estilo acelerado e enérgico com uma mistura intensa dos instrumentos, algo bastante característico dos Red Hot Chilli Peppers.

A canção que intitula o álbum surge na sexta faixa. Num tom novamente mais suave, Californication é outra das canções mais ilustres deste álbum. Contando com uma letra algo extensa que fala de desastres naturais, guerra, política e até de cirurgias plásticas é assim que surge um significado concreto daquilo que realmente é a expressão Californication. Com um videoclip onde os membros na banda aparecem num videojogo em 3D, um elemento bastante característico da alta tecnologia dos anos 90, esta é até hoje uma das canções mais ilustres dos Red Hot Chili Peppers que os colocou no topo das mais prestigiadas bandas rock de sempre.

O álbum prossegue ainda com outras canções que não se destacaram tanto mas que não deixaram de conferir a energia necessária a Californication. Easily conta com uma harmonia entre os instrumentos da banda bem como a voz de Anthony Kiedis. Porcelain trata-se de uma canção calma que conta com uma letra curta mas que é bem interpretada. Emit Remus, I like It Dirt, This Velvet Glove, Saviour Purple Stain e Righ on Time são canções que mostram bem o estilo musical de um funk que se mistura com o rock, muito próprio dos Red Hot Chili Peppers, estilo esse que ainda faz com que hoje sejam uma das bandas mais aclamadas do rock de todos os tempos. Californication encerra com Road Tripping, canção em forma de balada que não conta com a bateria de Chad Smith e com uma letra que retrata uma viagem com o chamado “sonho americano” em vista.

Californication era assim visto como uma novidade musical de uma das mais bem-sucedidas bandas rock do momento, que viria a encerrar uma década de ouro na música cheia de novos intérpretes e de novidades musicais. Vinte anos depois, Californication é mais do que um simples álbum dos anos 90 mas sim um emblema da infância e da adolescência daqueles que viveram intensamente o fim de um século na flor da idade. Os Red Hot Chili Peppers continuam a ser um grupo altamente carismático e hoje, com Josh Klinghoffer na guitarra após a nova saída de Frusciante em 2009, continuam a andar na estrada e a produzir trabalhos musicais de qualidade. Sempre com a Califórnia como casa e também como fonte de inspiração, com sonhos perdidos e vividos à mistura, os Red Hot Chili Peppers são uma banda que ficará eternamente nos nossos corações como aquele grupo de amigos que nos fez crescer e que ainda hoje nos põe um sorriso na cara sempre que ouvimos as suas canções, como se fosse a primeira vez que os ouvimos a tocar.

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