‘Call Me Foxy’, o funk aguerrido de Da Chick
Da Chick é uma artista portuguesa que, desde 2012, tem mostrado que faz tenções de trazer o funk de volta para o século XXI. Emergiu na cena musical com o seu EP Curly Mess, que, além de mostrar os elementos preponderantes do funk e soul, revela a personalidade aguerrida da artista. O projecto apresentou Teresa de Sousa como uma rapariga cheia de garra, com muita agressividade e poderio, mas com um trabalho instrumental menos aprimorado e detalhado do que nos projectos que se seguiriam. Em 2015 chega Chick to Chick, o álbum de estreia que conta com produção de Moullinex e Xinobi, entre outros; sendo que estes dois produtores também contribuíram para o EP anterior. É um álbum apelativo com algumas inovações merecedoras de destaque. “Funk Call” utiliza a distorção abrasiva a seu favor e “Miss Darkness” consegue criar uma atmosfera tristonha e espacial adornada de um sintetizador tremido, dando um toque moderno a um estilo já conhecido.
Dois anos depois, Da Chick está de volta à música, disposta a vingar no mundo da electrónica com ginga. Call Me Foxy foi produzido pela artista em parceria com Saintard, produtor francês que conheceu no Soundcloud. A faixa título foi a escolhida para ser o single, e transparece visivelmente o groove intemporal que daqui a cem anos ainda vai pôr as pessoas a dançar. O baixo sempre presente complementa o tom meio anasalado e à vontade de Da Chick, e os teclados quentes rivalizam com a bateria seca que se ouve bem distante. Seja a cantar ou em modo rap, Teresa mostra-se confortável no meio de todo o funk. Os sopros são também uma boa adição e contribuem ainda mais para cimentar o título e atmosfera do single.
O melhor aspecto de Call Me Foxy é a descontracção que Da Chick consegue demonstrar. Denota-se um tom sensual na voz da artista em “Ride my Pussy (Wagon)”, e o solo frenético de guitarra é um final adequado para a música, à medida que caminha para o fade out. Em “Let ‘Hem Talk” Teresa surge desafiante, pronta para enfrentar todos os haters. Mas a verdade é que as músicas não têm muito mais que se lhe diga para lá da personalidade de Da Chick. As letras não são propriamente inspiradas e a maioria dos versos roça um nível básico. Os instrumentais são apelativos, mas apenas porque se baseiam numa sonoridade facilmente cativante. A personalidade da artista é, sem dúvida, a sua principal arma de ataque, e infelizmente tem vindo a perder preponderância ao longo da curta discografia.
Em Call Me Foxy, há batidas apelativas; e instrumentalmente Da Chick continua a conseguir puxar para a dança. Cómoda e assertiva, Teresa de Sousa está empenhada em revitalizar o funk com a sua abordagem reconhecível. Mas, à medida que a produção atinge novos níveis de complexidade e ritmo, o brilho pessoal de Da Chick parece gradualmente perder força. Esperemos que o seu próximo lançamento nos continue a fazer abanar a cabeça e nos permita dizer, sem sombra de dúvida, que é Da Chick quem se perde nos meio dos instrumentais, com a chalaça e alegria que é indubitavelmente sua.
Músicas preferidas: “Call Me Foxy” e “Hot Sauce”
Músicas menos apelativas: “Ride my Pussy (Wagon)”