Cão Solteiro apresenta Heading against the wall na pista de dança do Lux e em streaming

por Linda Formiga,    10 Novembro, 2020
Cão Solteiro apresenta <i>Heading against the wall</i> na pista de dança do Lux e em streaming
Cão Solteiro
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Heading against the wall é o novo espectáculo do colectivo Cão Solteiro com André Godinho que estará em cena no TBA (que provisoriamente passou para o Lux) e está inserido no Alkantara Festival. O espectáculo será apresentado simultaneamente ao vivo e em streaming, permitindo a criação de vários espectáculos diferentes.

Os espectáculos apresentados pelo colectivo Cão Solteiro são normalmente de interpretação aberta, em que cada um dos espectadores é convidado a estabelecer, ou não, uma ligação entre os mais diversos estímulos, verbais, paraverbais, físicos ou sensoriais. Heading against the wall, que teve inicialmente como base o filme de Franju “La tête contre le murs”, é mais um exemplo da intricada relação entre elementos, a forma como flui não é rigidamente apresentada, nem a interpretação nem o texto são estanques num espectáculo que só tem como certos a voz-off e cerca 90 perguntas que vão sendo aleatoriamente retiradas de uma caixa. Como André Godinho teve a oportunidade de nos dizer “as perguntas foram construídas durante os ensaios e outras ficcionadas, não havendo certeza da fronteira entre a realidade e a ficção, porque as respostas são dadas no momento”. Com Cecília Henriques, Paula Sá Nogueira e Greg Wohead a trabalharem no momento as falas, e por uma questão de integração com Greg, toda a peça é em inglês com apontamentos em português pelas duas atrizes. Podemos ouvir desabafos, pequenos segredos, receios e medos, peculiaridades e situações vividas, ou não, por cada um dos actores. Podemos embalar numa dissertação que só fará sentido a quem a narra ou podemos relacionarmo-nos com esta, com os pontos de contacto entre cada uma das vivências a serem ténues, por vezes reduzidos a uma palavra ou a uma peça de roupa, ou a passar despercebidos no complexo (e belíssimo) desenho de luzes. 

Heading against the Wall é apresentado com um pequeno excerto de Possibly maybe de Björk “Uncertainty excites me, babe / Who knows what’s going to happen? / Lottery or car crash / Or you’ll join a cult”. Mas também poderia passar por Climbing up the Walls, dos Radiohead, com “I got the smell of a local man/Who’s got the loneliest feeling” porque, e numa interpretação pessoal, os temas dissecados podem não ser alvo de censura externa, mas de censura interna. Dos momentos e das memórias que vivem presos dentro de cada um e a própria clausura que cada um faz destes. A externalização de momentos de fragilidade e de momentos de intimidade, a transposição de um pesadelo, de um desejo, de um devaneio para o improviso.

Em simultâneo ao espectáculo que ocorre nos dias 13 e 16 de Novembro, teremos emissão em streaming, porém não será uma transmissão do que acontece na pista de dança do Lux. André Godinho explicou-nos que “o que acontece no streaming é que existe uma grande parte é pré-gravada, com o áudio que é pré-gravado, e na versão online existe uma manipulação. Os elementos filmados ao vivo estão dependentes do que acontece em cena. O nosso objeto de streaming é um objeto diferente. É um objeto que tem os mesmos elementos, mas é um objeto diferente. Não é suposto ser uma coisa adaptada a outra. Uma não substitui a outra. Funcionam de forma completamente independente”. 

Inicialmente previsto para ter só uma apresentação, o espectáculo Heading against the Wall esteve agendado para ter três datas, e acaba por ter duas. Estas alterações foram ponto forte em toda a concepção. André Godinho esclarece que “começámos por pensar que íamos fazer só um espectáculo de teatro, no Teatro do Bairro Alto. Durante a quarentena pensámos que os teatros iam todos fechar e que não seria possível apresentar isto ao vivo e começámos a construir uma versão em streaming. Depois percebemos que podíamos fazer um espectáculo físico, mas já não seria no Teatro do Bairro Alto. Quando decidimos ir para o Lux tivemos de refazer as ideias, inicialmente tinha mais uma ideia de comentário. Estivemos a ensaiar no estúdio da Tóbis, que é um estúdio de cinema e que tem mais diretamente a ver com o cinema e de repente estamos numa discoteca. Construir algo completamente diferente e que esse historial é uma coisa que também interessa ter presente. Tudo foi readaptado. Mas foi readaptado com todas as incertezas que foram surgindo.”

Esta constante readaptação é algo presente nos mais variados sectores da cultura nos tempos que correm. André Godinho, que viveu as muitas readaptações exigidas, não sabe como a cultura se vai adaptar, mas acredita que “não podemos ignorar a realidade à nossa volta e por isso não podemos pensar que só queremos fazer espectáculos da maneira como eram feitos. É importante adaptarmo-nos ao presente e às maneiras como podemos contornar as dificuldades”.

A peça estará em cena na sexta-feira, 13 de novembro às 19h e na segunda-feira, 16 de novembro às 19h. Predominantemente em inglês com alguns apontamentos em português. Sem legendagem.

STREAMING
Nos dias 13 e 16 novembro, haverá streaming de uma versão do espetáculo nos canais digitais do TBA e Alkantara às 19h
Nos dias 14 e 15 novembro, ficará disponível em diferido a versão de 13 novembro.

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