Carolina Deslandes define novo disco “Caos” como “mais honesto e um bocadinho mais triste, mais raivoso”
A cantautora Carolina Deslandes definiu o seu novo álbum, “Caos”, a sair na sexta-feira, como “honesto, autêntico e raivoso”, numa entrevista à agência Lusa em que também antecipa o próximo álbum, “Calma”, a publicar em outubro.
A compositora afirmou que “‘Caos’ é um álbum em que se tem um bocadinho das sonoridades que quis abordar”. “Há parte de uma letra da Amália [Rodrigues], há uma canção popular que é ‘A Saia da Carolina’, mas depois coisas completamente diferentes como ‘Terapia’ ou ‘Supermercado’, que têm a ver com a música que ouvia na minha adolescência, depois coisas à voz e à guitarra. Há uma mistura grande de géneros e de sonoridades”.
Este é “um disco mais honesto e um bocadinho mais triste, mais raivoso”, reforçou. “Eu dei-lhe este nome, para simbolizar essa confusão. Se olharmos com atenção é uma confusão autorizada. É um disco muito livre e muito honesto, é isso”.
“Caos” é constituído por 16 canções, nas quais a cantautora aborda relações amorosas, o quotidiano, mas também a situação da mulher, em “A Saia da Carolina”.
Deslandes reconheceu que esta canção “é um protesto”, realçando que “é uma mudança da narrativa que ouvimos em todas as histórias, canções populares e infantis, em que a mulher usa saia, é recatada, que tem de ter cuidado, que lhe pode acontecer alguma coisa de mal e tem de ficar fechada em casa, e é uma mudança dessa narrativa em que a Carolina já não veste saias, veste fato, não tem que ter cuidado com nada, mas sim com ela”.
“Nós ouvimos dizer que a mulher tem de ser delicada, tem de saber coser uma bainha, tem de saber cozinhar, que os homens se conquistam pelo estômago, a mulher ‘tem de’, ‘tem de’… E é por causa desses ‘tem de’ que quando usufruo da minha liberdade e não estou a fazer nada de ofensivo, as pessoas se sentem todas ofendidas pelos meus comportamentos”.
A canção, acrescentou, “é uma celebração da liberdade e da liberdade feminina”.
A canção “A Saia da Carolina”, para a compositora, “é essa celebração da liberdade de cada uma e da liberdade de cada um”.
“O que seria eu, em 2023, ter que pedir licença para ser exatamente aquilo que sou. Estou a cumprir a lei, não estou a chatear ninguém, tenho só opiniões e tenho a minha forma de ser e de estar”, declarou.
O álbum celebra dez anos da “cumplicidade” com o músico Agir, que é um dos produtores, realçou Carolina Deslandes. O outro é o músico Jon.
As canções foram escritas por Deslandes com Feodor Bivol, Pedro Mourato e Diogo Clemente, entre outros autores.
O álbum abre com “Raiva” e inclui, entre outros temas, “Conta-me”, “Amei-te”, “Odeia-me”, “Precipício”, que interpreta com Carlão, e “Coisas no Silêncio”, que compôs e interpreta com Bárbara Tinoco.
“O Carlão e a Bárbara Tinoco vieram dar ainda mais alma a um disco ao qual dei tudo”, sublinhou Deslandes à Lusa.
A compositora afirmou que convidou Tinoco pois gosta e admira muito o seu trabalho, e que esta música foi escrita como se de um jogo de ténis se tratasse: “A Bárbara fez o primeiro verso, em seguida fiz eu, depois comecei o refrão e foi assim. Nós entendemo-nos muito bem e ela tinha-me já convidado para participar no EP dela e calhou compormos juntas; perguntei-lhe se ela queria participar no meu álbum e ela disse que sim”, contou.
Bárbara Tinoco é a compositora que Deslandes mais aprecia e admira, como garantiu, afirmando que seria “pretensioso” da sua parte considerar que “fez escola”, relativamente às diferentes cantautores que têm surgido na cena musical nacional, admitindo que está “mais próxima [de Bárbara Tinoco] por uma questão geracional”.
“Antes de mim tive a Mafalda Veiga e a Luísa Sobral”, lembrou.
Carolina Deslandes declarou que se entrega a tudo o que compõe para si e não tem inibições, mas é diferente o processo quando compõe para outros intérpretes.
“Às vezes alguma coisa inspira-me, um filme, qualquer coisa, e eu começo a escrever, mas percebo que aquilo não é para a minha voz e penso em quem pode interpretar. Ligo-lhe, pergunto-lhe e mando, sem qualquer compromisso; pode dizer-me que sim ou que não”.
Quando é convidada para escrever, vai a estúdio e fala com o intérprete, procura conhecer-lhe a sua história e o que quer dizer, e compõe.
“Se ele o vai gravar e cantar durante anos e anos, em espetáculos, é natural que tenha de gostar do que canta e que se identifique”.
Carolina DEslandes tem agendados dois concertos, no dia 30 de novembro, na Altice Arena, em Lisboa, e no dia 7 de dezembro, na Super Bock Arena, no Porto.
Promete que vão ser “inacreditáveis” com “surpresas e novas canções”, assim como alguns convidados – e não desvenda nomes.
Este é o quarto álbum de Deslandes, e surge depois de ter sido distinguida com o Globo de Ouro SIC/Caras para a Melhor Música com “Por Um Triz”, tema da sua autoria que apresentou no Festival da Canção, no ano passado – o ano em que foi nomeada para os prémios Grammy Latinos, na categoria de Melhor Vídeo em Versão Longa com “Mulher”.