Casa da Música deve angariar mais mecenas e parceiros para assegurar serviço, revela relatório
A Casa da Música, no Porto, deverá angariar mais mecenas e estabelecer parcerias com mais municípios para assegurar o serviço prestado, defende o grupo de reflexão criado para repensar a missão da instituição.
“A nossa área de angariação de mecenato deve ser revista e revitalizada”, refere o grupo de reflexão, criado em 2022 para repensar a missão e a estrutura da Casa da Música.
Em termos de despesa, a orquestra surge como “primeira das hipóteses” para um eventual ajustamento, tendo em conta a sua dimensão sinfónica, e é também considerada a restrição da programação “em função dos recursos” assegurados.
No relatório, a que a agência Lusa teve hoje acesso e que será discutido esta tarde pelo Conselho de Fundadores, o grupo de trabalho considera que deve ser escolhido “um responsável sabedor” da angariação de mecenato, defendendo que “não chega tentar aplicar as regras gerais do ‘marketing’”.
“Este tipo de mecenas frequenta a instituição beneficiária. E apreciam estar na Casa, gostam de ver tudo e de ser vistos. Isso aconselha a fazer espetáculos com intervalos de 15 a 20 minutos durante os quais se possa assegurar a dimensão social”, lê-se no documento.
Para o grupo de reflexão, importa que a Casa da Música volte a ter “uma sala de concertos que seja também um local de convívio” e que a programação corresponda às expectativas dos frequentadores.
Para tal, são também necessárias parcerias com mais municípios em redor do Porto, defende o grupo de reflexão, lembrando que essas parcerias permitiriam à Casa da Música “fazer face aos grandes encargos que tem e exercer a sua função”.
“A Casa da Música (…) deveria alargar a sua área de influência, começando pelos municípios vizinhos, aos quais deveria abrir o mundo da música”, refere o documento, destacando também a necessidade de se atraírem mais turistas e assegurar os jovens.
A par dos municípios, o grupo considera que a Área Metropolitana do Porto (AMP) deveria funcionar como “uma entidade unificada”, estabelecendo com a Casa da Música um programa de apoio, através do qual seriam fornecidos serviços para todo o território e atribuída a respetiva contrapartida.
Caso o reforço de parceiros e mecenas não se concretize, o grupo lembra que tal pode levar a Casa da Música a “uma situação de aperto financeiro”, o que obrigará a “escolhas difíceis” como cortes na oferta e racionalização de gastos.
Numa situação de “aperto financeiro”, o grupo acredita, no entanto, que não será conveniente “extinguir qualquer dos agrupamentos, porque todos estão justificados no seu contributo”.
Para o grupo de reflexão, no entanto, a Orquestra Sinfónica Porto Casa da Música é “a primeira das hipóteses para fazer um ajustamento”, uma vez que é a formação responsável por parte substantiva dos gastos.
“Uma das formas de levar a orquestra para um menor numero de elementos (…) poderá ser a não-renovação de contratos com músicos que se vão reformando”, considera.
Uma orquestra sinfónica mobiliza, em geral, 80 a cem músicos, conforme o repertório sinfónico, repartidos pelos diferentes naipes de instrumentos (cordas, madeiras, metais, percussão, instrumentos de tecla).
Por forma a assegurar “um trajeto mais tranquilo e previsível”, o grupo recomenda que seja criado um plano de atividades a médio prazo, ao qual deve ser associado um plano de financiamento.
“A programação respetiva seria restringida em função dos recursos que conseguirmos assegurar”, indica, notando que para tornar o respetivo plano “mais operacional” deveriam ser consideradas duas versões, uma relacionada com a programação mínima oferecida, outra dependente dos apoios mecenáticos, e ainda outra de prestação de serviços.
A Casa da Música foi inaugurada em 2005. Quando da constituição da Fundação da Casa da Música e respetiva construção do edifício, junto à Avenida da Boavista, no Porto, o Estado fixou uma subvenção de 10 milhões de euros, por ano, que inicialmente esperava vir a reduzir com o envolvimento dos privados.
Em 2012, devido à ‘troika’, os 10 milhões de euros foram reduzidos a três milhões de euros anuais, que só foram totalmente repostos em 2021.
O músico portuense Mário Barreiros foi escolhido pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, para representar o Ministério da Cultura no grupo de reflexão sobre a Casa da Música, adiantou, em novembro de 2022, o jornal Público.
O novo modelo de instituição para a Casa da Música deverá ser aplicado pelo próximo conselho de administração, em 2024.
Nos órgãos sociais, a Fundação Casa da Música integra um conselho de fundadores, que inclui representantes do Estado e de privados.