Casa do Cinema Manoel de Oliveira tem nova exposição a partir do “extraordinário arquivo pessoal” do realizador
O “extraordinário arquivo pessoal” do realizador Manoel de Oliveira originou uma nova exposição, sobre a obra feita entre 1970 e 1990, entre a incompreensão e o reconhecimento, que abre na sexta-feira na Casa do Cinema, no Porto.
Esta exposição é a segunda de três mostras organizadas pela Casa do Cinema Manoel de Oliveira, num “projeto de longo curso” com o objetivo de “sinalizar o extraordinário arquivo pessoal do cineasta, integralmente depositado em Serralves”, lê-se no roteiro expositivo.
Patente até 03 de novembro, a exposição intitula-se “Liberdade! 1970-1990”, abrangendo vinte anos de produção cinematográfica de Manoel de Oliveira, balizada pelos filmes “O Passado e o Presente” (1971) e “NON ou a Vã Glória de Mandar” (1990).
“É este um período em que a incompreensão (e até a violência) com que alguns destes filmes foram recebidos em Portugal, em tudo contrastava com o reconhecimento que esses mesmos filmes obtinham junto dos festivais internacionais e da crítica estrangeira”, afirmam os curadores António Preto e João Mário Grilo, no roteiro da exposição.
Naquele período, Manoel de Oliveira fez mais de dez filmes que “ilustram uma das fases mais seminais, inventivas e radicais” do seu percurso, nomeadamente “Amor de Perdição”, “Visita ou Memórias e Confissões” (1982) – que, por instruções do cineasta, só foi revelado publicamente depois da morte – ou “Os Canibais” (1988).
Para os dois curadores, a obra de Manoel de Oliveira deste período, “na sua desmedida e destemida radicalidade, mais do que nenhuma outra, dava corpo ao grito de liberdade que se impunha”, nos primeiros anos após a ditadura.
Segundo os curadores, esta segunda exposição “dá continuidade ao estaleiro que vem da exposição anterior”, “A Bem da Nação (1929-1969)”, que esteve patente em 2023.
Trata-se de “desarquivar o arquivo, de ouvir o que ele nos diz e de mostrar o que ele nos mostra”, explicam os curadores.
É que Manoel de Oliveira, que morreu em 2015 aos 107 anos, “foi diligentemente guardando toda a documentação que se relacionava com o seu trabalho – rascunhos, argumentos, planificações, folhas de rodagem, correspondência, fotografias, cartazes, livros, recortes de jornais, centenas de prémios…”.
É sobre esse arquivo, depositado pelos herdeiros do cineasta, que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira tem vindo a trabalhar não só na organização de exposições como também de publicações que deverão culminar num “grande colóquio internacional”, ainda por divulgar.
O objetivo é “despertar a atenção da comunidade universitária para o arquivo de Manoel de Oliveira” e estimular a investigação em torno do arquivo documental.
A exposição “Liberdade! 1970-1990”, que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira coloca também na celebração do cinquentenário do 25 de Abril de 1974, contará com um extenso ciclo de cinema com filmes de Oliveira e de outros realizadores portugueses estreados na mesma altura.
Vão ser mostrados, por exemplo, “O Cerco” (1970), de António da Cunha Telles, “O mal-amado” (1974), de Fernando Matos Silva, “Deus Pátria Autoridade” (1976), de Rui Simões, “Oxalá” (1987), de António-Pedro Vasconcelos, “O movimento das coisas” (1985), de Manuela Serra, ou “O sangue” (1989), de Pedro Costa.