“Casa dos 24” no Porto reabre com exposição dedicada ao arquitecto Fernando Távora
A exposição “A Urgência da Cidade: o Porto e 100 anos de Fernando Távora” reabre, na quinta-feira, as portas da chamada ‘Casa dos 24’, espaço requalificado em 2002 pelo arquiteto portuense e que passa integrar o Museu do Porto.
“É um momento muito simbólico para cidade. Por um lado, porque se devolve a primitiva Câmara Municipal à cidade, reabrindo as portas de um símbolo da vontade de ser do Porto, da vontade dos cidadãos tomarem voz no destino da cidade, por outro porque se evoca um herói do Porto – Fernando Távora”, afirmou à Lusa o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, Jorge Sobrado, na véspera da abertura de portas.
A abertura da Casa e da exposição, que acontece um dia antes de se cumprirem 100 anos sobre o nascimento do arquiteto Fernando Távora (1923-2005), serve de lançamento para as comemorações do centenário daquele que é considerado o fundador da “Escola do Porto” e que se vão estender até 2024.
Partilhando espaço com a Sé Catedral do Porto, a antiga Casa da Câmara, conhecida como ‘Casa dos 24’, estava fechada pelo menos desde 2016, tendo nos anos anteriores funcionado como posto de turismo.
O edifício, tal como hoje a cidade o conhece, é uma recriação contemporânea do arquiteto portuense Fernando Távora, que em 2002 assinou o projeto de recuperação do espaço destruído num incêndio em 1875.
“Construída em meados de 1450, [foi] considerada a primeira sede do poder autárquico onde, até final do século XVII, se reuniam em assembleia os chamados homens-bons, ou os representantes dos 24 ofícios da cidade“, pode ler-se no ‘site’ da autarquia.
A exposição oferece, em simultâneo, uma viagem pela história da cidade, mas também sobre o arquiteto, propondo um roteiro de vida e obra, que põe em evidência projetos como o estudo de renovação do Barredo ou a reabilitação do Palácio do Freixo.
“É uma exposição que se subordina à memória, [ao] lugar e ao seu ator, dimensões que se relacionam entre si através da abordagem simplista do lugar de Távora. Compreender a arquitetura da antiga Casa da Câmara é compreender simultaneamente a história da cidade”, explicou o responsável do Museu e Bibliotecas do Porto.
No exterior, a imagem de Távora, inscrita nos vidros que personificam a visão de fruição, que em 2002, Távora queria imprimir ao espaço, já suscita curiosidade entre os milhares de turistas que se passeavam hoje pelo terreiro da Sé.
No interior da antiga Torre do Senado, dividida em três pisos com generosos pés direitos, ultimam-se os preparativos para a inauguração, que acontece na tarde de quinta-feira.
O palmo de Távora que serve de medida à Casa, o brasão liberal, ou a estátua do guerreiro-fundador “O Porto”(cujos trabalhos de reinstalação estão em curso), são alguns dos símbolos que compõem a narrativa da “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto”.
No primeiro piso, detalhou Jorge Sobrado, evoca-se “a memória, a simbólica e história do lugar”, símbolos dos quais Fernando Távora se apropriou e que de algum modo tematizou no desenho.
No piso intermédio, convida-se o visitante a embarcar numa viagem pelos estudos e projetos do arquiteto no Porto, e no piso à cota inferior, que faz ligação à Rua de São Sebastião, são exploradas as facetas de viajante e colecionador do arquiteto, com peças da sua coleção pessoal, entre elas uma cerâmica de Picasso e uma outra de Rosa Ramalho.
Para Jorge Sobrado, a reabertura deste edifício “é um poderoso símbolo que se junta à rede do Museu do Porto e que vai permitir reforçar a função de narradora e pedagógica do museu”, composto por mais de uma dezena de estações, estendendo-se desde o Reservatório, localizado no Parque da Pasteleira, terminando na Bonjóia, no ponto mais oriental.
A exposição temporária de homenagem a Fernando Távora vai estar patente até 29 de outubro, data que pode ser alargada.
A restante programação “entre o vazio e o cheio” respeitará a casa enquanto “monumento/escultura” e enquanto palco cultural e artístico.
Manuel Real, curador científico da exposição e responsável pelo primeiro estudo arqueológico realizado em 1984, considera que o projeto de Fernando Távora não só dignificou aquele edifício descrito à data como “uma ruína infame”, como foi o seu “salvamento” ao permitir preservar um espaço emblemático da história da cidade.