CDS em vias de extinção
O CDS será extinto ou desaparecerá do modo como o conhecemos. Dentro de 10 anos muito poucos apoiarão um partido que hoje já não é carne nem peixe. Praticamente ninguém entregará o seu voto a um partido que pouco ou nada representa. As pessoas que viveram as agruras da descolonização praticamente já não existem. Os filhos e netos dos grandes latifundiários que enriqueceram no Estado Novo diversificaram os negócios ou faliram (a agricultura vale hoje bem menos de 5 por cento do PIB), os meninos ricos formatados para ser o que os seus pais, avós e bisavós tinham antes sido, diminuíram a sua “pegada ecológica” e reduzem-se a duas ou três áreas de influência. Além disto que não é pouco, o CDS aboliu a democracia cristã do seu programa e todas as outras aproximações ideológicas que foram tentadas a seguir. Paulo Portas com tantas mudanças de identidade transformou o CDS num corpo anfíbio que é capaz de defender tudo e o seu contrário.
Assunção Cristas tem segurado o partido na sua popularidade, afeto e talento político. E alguns dos seus quadros, manifestamente gente com qualidade (Adolfo Mesquita Nunes, Pedro Mota Soares, Cecília Meireles ou João Almeida) têm disfarçado a irrelevância ideológica do CDS. Com o fim anunciado de uma líder que é diferente do partido a que preside, os resultados serão progressivamente mais pobres até se tornarem irrelevantes.
O CDS, nos próximos anos, voltará a ser o partido do táxi. Perderá o poder que lhe resta e será substituído por um outro partido à direita que possa ser capaz de representar os interesses de franjas da população – infelizmente o que se perfila, quando as circunstâncias se juntarem numa tempestade perfeita, é a do nascimento de um partido populista verdadeiramente ameaçador. Não julguem, também por isso, que falo da possibilidade de extinção do CDS como uma boa notícia. O seu definhamento abrirá a possibilidade de um outro projeto perigoso e anti sistémico, à imagem do que pensa uma parte da população. Ou então abrirá a possibilidade de renascimento de um PSD que aglutine as várias necessidades, urgências e fome do centro-direita português. Mas isso são contas de um outro rosário e contas para serem feitas dentro de uns anos.
Nestes dias de grande inquietude para a direita portuguesa tem-se falado da hipótese de formar uma grande coligação que possa contrabalançar a ameaça do poder crescente da esquerda. Uma hipótese desesperada e fora do tempo. Uma hipótese que ainda mais reforça a fragilidade da oposição a António Costa. Obrigar os portugueses a imaginar uma coligação de Rui Rio, Assunção Cristas e Pedro Santana Lopes é forçá-los a concluir que o seu voto será entregue a uma coligação de mortos-vivos. Mortos-vivos políticos, entenda-se.