Chelsea Wolfe: melancólica como sempre, turbulenta como nunca
Existem lugares escuros que desafiam sonoridades misteriosas, embora a ausência de luz nos remeta também para o silêncio. A essência de artistas como Eluvium ou Julianna Barwick pode transportar leveza. Contudo, carrega atmosferas, de certa forma, melancólicas. Viver na escuridão e melancolia de Chelsea Wolfe pode parecer semelhante, mas é invariavelmente diferente; é como viver numa gruta onde a voz vai ecoando e abrindo pequenas brechas de luz. Os seus trabalhos de vocalizações agudas e distantes assumem, regularmente, uma postura de superioridade nas suas produções; nem será preciso ir muito longe, basta recordar Pain Is Beauty (2013) ou Sing Songs Together (2013) – um disco split com King Dude. Muito querida entre os fãs de música extrema, Chelsea Wolfe é, curiosamente, uma das compositoras mais misteriosas do século XXI.
Anteriormente, em Abyss, os arranjos eram mais orquestrais e projectavam, com facilidade, a voz sobrecelestial de Chelsea Wolfe. Hiss Spun leva-nos para lugares mais profundos, onde a melancolia se arrasta por uma guitarra altamente distorcida, relembrando-nos, por exemplo, os Cult Of Luna. Este álbum assume a dose certa de notas pesadas e ruidosas, visivelmente trabalhadas pela produção de Kurt Ballou (guitarrista dos Converge).
A participação do guitarrista Troy Van Leeuwen (Queens Of The Stone Age) – em “Spun”, “Vex”, “Offering”, “Two Spirit” – acrescenta riffs límpidos que, ainda assim, não se perdem na sombra das frequências carregadas de electricidade deformada. O contributo vocal de Aaron Turner (ISIS e Old Man Gloom), em “Vex”, coloca-a ao nível de uma canção doom metal, abandonando a postura drone e noise predominante ao longo do álbum. “The Culling” é um tema sombriamente bonito, no qual Chelsea Wolfe arrasta a voz por entre acordes fúnebres e notas sorumbáticas até rebentar num riff bem medido e concreto. O single “16 Psyche” e a canção “Twin Fawn” assumem uma dimensão orelhuda sem que se afastem das restantes faixas; simplesmente, aproximam-se de sonoridades influenciadas por Neurosis.
Hiss Spun, tal como Apokalypsis (2011), é um disco obscuro, que continua a explorar paisagens negras, bastante características de Chelsea Wolfe. No entanto, nunca abandona as vocalizações limpas, agudas e reverberantes. São onze faixas – à excepção da apaziguadora “Two Spirit” – derretidas pelo peso e reverb das guitarras; e por uma bateria grave e assertiva. Toda a envolvência melancólica da compositora norte-americana é reforçada neste trabalho. Dúvidas não existirão de que este será o disco certo para os dias mais sombrios deste Outono/Inverno.