Cícero: ‘Tenho sentido cada vez mais prazer em cantar’
Cícero Rosa Lins, artisticamente conhecido pelo seu primeiro nome, é um dos nomes mais promissores da música contemporânea brasileira. Desde 2011 – ano no qual lançou a pedrada no charco que foi Canções de Apartamento, álbum bastante celebrado no panorama indie brasileiro – que tem vindo a consolidar a sua música, lançando álbuns que vão explorando diferentes facetas da sua personalidade e do que o rodeia, através de explorações sonoras variadas. Cícero & Albatroz, o quarto lançado sob o seu nome, é o primeiro álbum criado inteiramente em conjunto com banda e é facilmente o mais sonante da sua carreira até hoje.
Como antecipação do seu regresso a Portugal para uma série de concertos marcados para Junho, Cícero aceitou responder a algumas perguntas da Comunidade Cultura e Arte. As perguntas incidiram maioritariamente sobre o seu álbum mais recente, mas levantando também o véu sobre o seu crescimento como artista.
A primeira coisa em que pensei ao ouvir o teu último disco foi que os teus álbuns têm soado cada vez mais expansivos. Sentes-te cada vez mais confortável na pele de artista?
Sim, nos últimos anos toquei bastante e conheci esse aspecto da minha personalidade, onde me sinto bem em tocar ao vivo, para muitas ou poucas pessoas.
Principalmente neste Cícero & Albatroz [título do último disco], a tua voz soa mais límpida e destacada. Sentes que a voz desempenha um maior papel na tua música, hoje em dia?
Me sinto muito ligado ao arranjo, às vozes melódicas que se sobrepõem numa música. A minha voz é uma delas, faz parte de um todo, mas como carrega a letra, acaba por levar toda a música a outro lugar, de maior destaque. Mas é verdade que tenho sentido cada vez mais prazer em cantar.
As tuas letras também parecem voltar-se mais para o exterior agora, descrevendo situações mais citadinas, com alguma crítica social subjacente. Foi uma necessidade que sentiste ou simplesmente surgiu naturalmente?
O Brasil, o Rio de Janeiro, passam por momentos difíceis onde esses temas se impõem. Gostaria de compor mais para a natureza das coisas, para o centro das questões, mas nos últimos tempos tenho sido muito afectado pelas urgências da cidade.
O mais recente tumulto político no Brasil é algo que te inspire a escrever?
Sim, certamente.
De que forma mudou o teu processo criativo, agora que gravas com mais elementos?
É um outro resultado, um outro processo criativo, que inclui uma dinâmica de grupo, a troca com o outro.
O que surgiu primeiro: “Albatroz”, a canção [do disco A Praia], ou Albatroz, a banda?
A canção.
Agora que já se passaram cerca de cinco meses após o lançamento do álbum, qual tem sido a reacção do público?
Muito calorosa, como vem sendo ao longo dos discos. Há uma bonita troca entre meu processo criativo e o olhar do público sobre ele. No Brasil, os shows costumam celebrar isso.
Ouves os teus álbuns anteriores de vez em quando? Como te sentes relativamente a cada um deles hoje em dia?
Não ouço muito mas, quando ouço, ouço o Sábado. Cada disco é uma fotografia, então é como rever fotos suas da faculdade, das férias do ano passado, coisas assim.
Sentes-te muito diferente do Cícero que escreveu o Canções de Apartamento?
Muito, não só pelo tempo em si, mas pelas coisas que vivi nos últimos anos.
Tens prestado alguma atenção à música contemporânea portuguesa? Há alguns artistas que gostarias de destacar?
Gosto muito do Manel Cruz, do Capitão Fausto, do B Fachada, de bastante gente.
O que esperas deste teu regresso aos palcos portugueses?
Reencontrar as cidades, rever o público, conhecer novas cidades, ver novos públicos, aumentar e aprofundar minha relação com o País.
Datas da tour portuguesa de Cícero: