Cientistas descobrem primeira evidência do uso da capacidade de imaginação em animais
A capacidade de se transportar para outros locais ou momentos com o pensamento era, até agora, uma capacidade que se acreditava estar reservada aos humanos, mas um grupo de investigadores detetou que os ratos também têm imaginação.
Para alcançar esta descoberta, cientistas do Janelia Research Center do Howard Hughes Medical Institute, na Virgínia (Estados Unidos), desenvolveram uma espécie de “detetor de pensamento”, capaz de medir, em tempo real, a atividade neuronal de ratos e traduzir seu significado, revelou esta quinta-feira este instituto médico.
O sistema combina realidade virtual de 360 graus e uma interface cérebro-máquina (IMC) para sondar os pensamentos internos dos ratos, medindo a atividade elétrica do hipocampo, a região do cérebro onde as memórias são armazenadas e geradas.
Quando o cérebro está a recordar, há uma atividade específica no hipocampo relacionada a essa atividade, mas até agora não tinha sido detetada em animais.
O sistema permitiu aos investigadores verificar como, tal como os humanos, quando os roedores vivenciam locais e eventos, padrões específicos de atividade neuronal são ativados no seu hipocampo.
Os cientistas descobriram, assim, que um rato pode ativar a atividade do hipocampo apenas pensando num lugar, sem se deslocar fisicamente, ou seja, imaginando-o.
Como primeira fase da experiência, os investigadores criaram uma espécie de “dicionário de pensamentos” que lhes permitia descodificar os sinais cerebrais do rato quando este experimentasse alguma coisa.
Realizaram depois dois testes, que foram ‘batizados’ com nomes cinematográficos.
Num destes, chamado “Jumper”, em homenagem ao filme e livro cujo protagonista tem a capacidade de se teletransportar, o rato foi introduzido no sistema e enquanto caminhava sobre um cinto esférico, os seus movimentos eram refletidos na tela de 360 graus. Quando alcançou o seu objetivo, foi recompensado.
O sistema registou a atividade do hipocampo do rato e mostrou como os seus neurónios são ativados quando o rato ‘navega’ para atingir o alvo.
O resultado final é que o animal utiliza os seus pensamentos para alcançar a recompensa, pensando primeiro onde precisa de ir para obtê-la, um processo imaginativo que as pessoas vivenciam regularmente.
Na segunda experiência, chamada “Jedi”, em homenagem à saga Star Wars, o rato fica fixado num local virtual e move um objeto para um local apenas pelo pensamento, da mesma forma que alguém sentado pode imaginar a levantar-se para pegar numa chávena de café, sem se mover.
Em seguida, os investigadores mudaram o local alvo, exigindo que o animal produzisse padrões de atividade associados ao novo local.
A equipa descobriu que os ratos podem controlar com precisão e flexibilidade a atividade do hipocampo, assim como os humanos.
Além disso, os animais conseguem manter essa atividade no hipocampo por vários segundos, tempo semelhante ao que os humanos levam para reviver acontecimentos passados ou imaginar novos cenários.
“Imaginar é uma das coisas mais extraordinárias que os humanos podem fazer. Agora descobrimos que os animais também podem fazer isso e encontramos uma maneira de estudá-lo”, realçou um dos investigadores, Albert Lee.
O estudo também mostrou que o sistema de interface cérebro-máquina (IMC) pode ser utilizado para sondar a atividade do hipocampo, o que representa um grande avanço no estudo desta importante região do cérebro.