Cinco filmes do Festival de Cannes que queremos ver nos cinemas portugueses (para além dos mais óbvios)
Começa hoje a 72.º edição de um dos festivais mais importantes do ano cinematográfico. Olhámos para o seu cartaz, tentando vislumbrar os filmes que poderão marcar 2019, na esperança que sejam exibidos no nosso país.
Este ano vamos contar com novas obras de alguns dos cineastas mais badalados da atualidade. Quentin Tarantino, Terrence Malick, Pedro Almodóvar e Jim Jarmusch vão apresentar-nos os seus novos projetos na Seleção Oficial. Mas podemos ir mais fundo, e tentar despertar a atenção para artistas menos consagrados, mas com filmes que podem merecer ser seguidos com atenção.
Assim, foquemo-nos em 5 filmes que vão estar no nosso radar nesta edição do festival.
“Oh Mercy”, Arnaud Desplechin
O realizador francês volta a ter um filme nomeado para a Seleção Oficial, sendo esta a sua sexta oportunidade de levar para casa a Palma de Ouro. Depois do extraordinário “Três Recordações da Minha Juventude” (2015) – um “coming of age” nostálgico com aroma a Nouvelle Vague – e do confuso, mas não menos interessante thriller/drama/comédia “Os Fantasmas de Ismael” (2017), Desplechin volta-se agora para o drama criminal. O filme narra a história de um agente da polícia que tenta resolver um homicídio violento perpetrado contra uma idosa e conta com as participações de Léa Seydoux, Sara Forestier, Roschdy Zem e Antoine Reinartz.
“Liberté”, Albert Serra
O espanhol Albert Serra estará pela terceira vez em Cannes, estreando-se na secção Un Certain Regard, mostra paralela à Seleção Oficial composta por cinema mais alternativo, recompensando cineastas menos conhecidos. Após o sucesso crítico de “A Morte de Luís XIV” (2016), Serra voltará a explorar a vivência da corte francesa, com o extraordinário formalismo ao qual já nos habituou, compensando a exuberância dos seus cenários e guarda roupa imaculadamente enquadrados, com o minimalismo da sua narrativa. Helmut Berger, Lluís Serrat e Iliana Zabeth fazem parte do elenco.
“Tommaso”, Abel Ferrara
Abel Ferrara é um polémico cineasta americano independente que, apesar de não ser muito (re)conhecido, é desde os anos 80 responsável por algumas das maiores obras primas do cinema – “Vingança de uma Mulher” (1981), “O Rei de Nova Iorque” (1990), “Polícia Sem Lei” (1992), entre outros. O seu novo trabalho será exibido na secção Special Screenings, voltando a contar com o habitué William Dafoe, que contracenará com a mulher e a filha do realizador. Um drama improvisado filmado em estilo documentário, que provavelmente será uma reflexão metalinguística análoga à própria vida de Ferrara.
“Ang Hupa”, Lav Diaz
Lav Diaz é um realizador Filipino cuja obra se debate com as dificuldades sociais e políticas do seu país, sendo provavelmente o maior lutador contra o fascismo que temos hoje em dia no cinema. O seu novo projeto integrará a Quinzena dos Realizadores, secção independente e paralela ao festival, que, nas palavras de Luc Mullet, “se distingue pela sua liberdade de pensamento, o seu carácter não competitivo e a sua genuína intenção de partilhar os seus filmes”. Voltando à minuciosa fotografia a preto e branco do seu último filme a estrear em Portugal – “A Estação do Diabo” (2018) – a narrativa da sua nova obra decorre no ano de 2034 no Sudoeste Asiático que se encontra em escuridão há 3 anos em consequência de massivas erupções vulcânicas. O cinema do Filipino é bastante exigente para com o espetador que, no entanto, acabará recompensado pelos paralelismos pertinentes que traça com a atualidade.
“Zombi Child”, Bertrand Bonello
“Apollonide – Memórias de Um Bordel” (2011) e “Nocturama” (2016) são filmes que marcarão a década cinematográfica que se aproxima do seu término, sendo muito grande a probabilidade dos filmes de Bonello figurarem nas listagens de melhores filmes dos anos 2010. Se o polémico “Nocturama” foi rejeitado por Cannes a sua nova obra terá a oportunidade de participar na Quinzena dos Realizadores. Baseado num roteiro escrito pelo próprio, o filme narra a história de uma rapariga haitiana que confessa um antigo segredo de família a um grupo de novos amigos e que gera repercussões inimagináveis. Um filme de género que contará certamente com a pegada autoral do realizador francês.
Muitos outros filmes poderiam ter sido selecionados para esta lista, mas quisemos destacar trabalhos possivelmente menos expostos e mais alternativos na perspetiva de dar a conhecer um outro cinema, alargando o vocabulário cinematográfico a quem assim o pretender.
Artigo escrito por Bruno Victorino