Cinco filmes restaurados de Éric Rohmer são exibidos nos cinemas, três são estreias absolutas em Portugal
3 destes 5 filmes de Éric Rohmer têm agora a sua estreia comercial em Portugal: Perceval, o Galês (1978), 4 Aventuras de Reinette e Mirabelle (1987) e A Árvore, o Presidente e a Mediateca (1993).
Os filmes de Éric Rohmer (sabe mais sobre o realizador) estão de volta ao grande ecrã nos cinemas nacionais. A Leopardo Filmes adquiriu, em 2020, um conjunto de filmes da autoria do cineasta Éric Rohmer, um dos grandes nomes da Nouvelle Vague francesa. Ao todo foram compradas 20 longas-metragens do realizador francês que estão a estrear de forma faseada nos cinemas nacionais. Depois serão editados em DVD.
Ciclo Éric Rohmer regressa às salas dos cinemas nacionais a partir de 26 de Maio, depois de em Março e Abril terem sido exibidos quatro filmes. Estes cinco novos filmes serão exibidos nos cinemas Medeia Nimas, em Lisboa, e no Teatro Campo Alegre, no Porto. E ainda, ao longo dos meses de Junho e Julho no TAGV, em Coimbra, Theatro Circo de Braga, CAE da Figueira da Foz, e auditório Charlot em Setúbal.
Uma parte da obra cinematográfica de Éric Rohmer foi alimentada pela literatura e o cineasta fez algumas adaptações notáveis, entre as quais se destacam A Marquesa d’O (1976), a partir da novela de Heinrich Von Kleist, e Perceval, o Galês (1978), inédito em sala em Portugal, a partir de Chrétien de Troyes, que o próprio Rohmer colocou de forma genial em verso — “Ao contrário do que se diz habitualmente, a poesia é mais fácil de entender do que a prosa. Estes octossílabos estão mais próximos da língua falada actualmente, mesmo a de uma criança de seis anos, do que a própria prosa muito escrita através da qual o leitor francês de hoje é convidado a ler o texto de Chrétien de Troyes” (Éric Rohmer).
A Marquesa d’O é não só um dos seus grandes filmes, que teve um enorme êxito, mas também a melhor das adaptações de Kleist para o cinema. Rohmer seguiu “palavra a palavra” o texto de Kleist, afirmando que “rejuvenescer uma obra não significa modernizá-la mas sim devolvê-la ao seu tempo”, “pintar o mundo de outra época com o mesmo tipo de detalhes com que pintara o mundo de hoje nos ‘Contos Morais’ ”. E é um equivalente disso que vai trabalhar depois em Perceval, o Galês, resgatando para o cinema as formas de expressão medievais: “Quero mostrar como as pessoas se viam a si mesmas na Idade Média”.
Espírito inquieto, Rohmer sempre procurou novas potencialidades expressivas para a linguagem do cinema. E alguns dos filmes que por diversas razões foi realizando fora das séries, aos quais ele próprio chamou “pequenos intermédios” tinham um carácter menos programático e permitiam-lhe uma maior liberdade. 4 Aventuras de Reinette e Mirabelle (1987), é um filme-compêndio com 4 histórias curtas feito a meio da série “Comédias e Provérbios”; A Árvore, o Presidente e a Mediateca (1993) e Os Encontros de Paris (1995) surgem pelo meio dos “Contos das Quatro Estações” (os dois primeiros terão também agora a sua estreia comercial em Portugal). Como referem Carlos F. Heredero e António Santamarina (Éric Rohmer, ed Cátedra), nestes filmes aparecem preocupações referenciais como o urbanismo, a arte moderna e o mercado da arte, o dinheiro, o mundo rural, a ecologia, e mesmo a política. Com as suas personagens em permanente itinerância, filmada com a habitual precisão topográfica de Rohmer. Filmes com uma textura “aberta e porosa”, filmes de “busca”, de uma grande liberdade e ligeiros de acordo com o espírito da Nouvelle Vague, estes “pequenos intermédios” têm uma importância muito especial na obra rohmeriana.
A Marquesa d’O (1976)
Filme de Éric Rohmer com Edith Clever, Bruno Ganz e Edda Seippel. A obra venceu o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, em 1976. e Edith Clever venceu o prémio de Melhor Actriz no Festival de Munique, em 1977.
Este filme é uma divagação sobre a dialéctica entre a moral social e a moral subjectiva, A Marquesa d’O adapta a obra homónima de Heinrich von Kleist. Em 1799, durante a invasão russa da Lombardia, uma jovem viúva aristocrata está prestes a ser violada, quando o Conde F. sai em sua defesa. Uns meses depois, a jovem descobre que está grávida. E decide procurar o pai desse filho por nascer.
A partir de 26 Maio nos cinemas.
Perceval, O Galês (1978)
Filme de de Éric Rohmer com Fabrice Luchini, André Dussollier e Solange Boulanger. É uma estreia absoluta nos cinemas nacionais. O filme ganhou o prémio de Melhor Filme, em 1980, pelo Sindicato Francês de Críticos de Cinema.
Esta é a história da longa jornada de Perceval, um jovem corajoso que sonha ser cavaleiro do Rei Artur. Inspirado na obra de Chrétien de Troyes e tendo como cenário a época medieval, o filme de Rohmer aborda a iniciação às armas, o amor cortês, a amizade e a união entre cavaleiros, bem como o árduo percurso de acesso à espiritualidade e à palavra divina.
A partir de 26 Maio nos cinemas.
4 Aventuras de Reinette e Mirabelle (1987)
Filme de Éric Rohmer com Joëlle Miquel, Jessica Forde e Fabrice Luchini. É uma estreia inédita nos cinemas nacionais. O filme ficou no top 10 da Cahiers du Cinéma, em 1987.
Reinette, oriunda do meio rural, e Mirabelle, uma jovem citadina, encontram-se durante umas férias no campo. As duas tornam-se tão amigas que decidem dividir um apartamento em Paris, uma vez que, em breve, irão iniciar os estudos na universidade. No entanto, Reinette é simples e optimista, enquanto Mirabelle é preguiçosa e pessimista. As suas personalidades tão opostas acabam por criar conflitos na casa que partilham. As aventuras das duas jovens são-nos apresentadas em quatro curtas-metragens: A Hora Azul; O Empregado do Café; O Mendigo, a Cleptomaníaca e a Burlona; A Venda do Quadro.
A partir de 2 de Junho nos cinemas.
A Árvore, o Presidente e a Mediateca (1993)
Filme de Éric Rohmer com Pascal Greggory, Arielle Dombasle e Fabrice Luchini. Estreia inédita nos cinemas portugueses. Filme teve uma menção especial no Festival de Montréal – FIPRESCI e ficou no top 10 da Cahiers du Cinéma, em 1993.
Julien Dechaumes, presidente da Câmara da pequena localidade de Saint-Juire, ambiciona construir um gigantesco complexo cultural e desportivo, para consagrar a sua administração. Louvado pela população e tendo conseguido o financiamento para o projecto, graças aos seus contactos com o Ministério da Cultura, Dechaumes antecipa o seu sucesso, mas eis que começam a surgir imprevistos. Rohmer critica os contrastes entre a província e as grandes cidades, entre a cultura real e a cultura desprovida de verdadeiro sentido, numa sátira mordaz às políticas culturais, usadas como argumento eleitoral.
A partir de 2 de Junho nos cinemas.
Os Encontros de Paris (1995)
Filme de Éric Rohmer com Clara Bellar, Antoine Basler e Mathias Mégard. Filme fez parte da selecção oficial do Festival de Locarno, em 1995.
Um tríptico composto pelas curtas-metragens O Encontro das 7 Horas; Os Bancos de Paris; Mãe e Filho, 1907. Três histórias de amor e coincidências, que combinam os temas de Éric Rohmer: a sedução amorosa, a elegância da linguagem, as aparências, os paradoxos, a verdade e um eterno amor à cidade de Paris.