Coletivo alemão de jornalistas Correctiv e três universidades estão a testar sistemas com recurso a Inteligência Artificial para combater as “Fake News”
O centro de investigação alemão sem fins lucrativos Correctiv transforma a teoria de três universidades em prática, através da plataforma “faktenforum” que luta contra as “Fake News” usando Inteligência Artificial (IA).
“Estamos a tentar criar uma plataforma comunitária para transferir a ideia do jornalismo cidadão para a verificação de factos”, revelou à Lusa a coordenadora do projeto Caroline Lindekamp, do Correctiv.
“Começámos no início deste ano, mesmo a tempo do ‘super ano eleitoral’. Estamos a oferecer workshops quinzenais ou encontros sobre desinformação ou verificação de factos. Lançamos também uma newsletter cada duas semanas”, descreveu, sublinhando o “crescente interesse” da sociedade civil nestes temas.
Além das eleições europeias, marcadas para 09 de junho, três regiões da Alemanha vão também a votos no Outono.
“As pessoas percebem o enorme risco que a desinformação representa para a democracia”, revelou Lindekamp.
O Correctiv divulgou, no ano passado, uma investigação que dava conta de uma reunião secreta em que vários membros da extrema-direita, na Alemanha, discutiam um plano de deportações em massa de imigrantes e até de alemães com raízes ou antecedentes migratórios.
A informação fez manchete em todos os jornais alemães, levando milhares de pessoas às ruas de todo o país contra a extrema-direita e do partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão).
“Queremos dar às pessoas instrumentos para que continuem a ser interventivas, para que possam ser uma parte ativa na democracia através do jornalismo (…) Não diria que vamos conseguir resolver o problema da desinformação, mas acredita que vamos contribuir para isso”, Caroline Lindekamp.
O “Faktenforum”, que integra o projeto NoFake, organiza “cursos de literacia” e workshops presenciais com organizações locais para munir a sociedade civil e os media de ferramentas que lhes permitam descodificar informações falsas.
“Temos uma equipa editorial que está a fazer a verificação de factos, como a eliminação de alegações falsas, e temos uma linha de denúncia para os utilizadores que podem sugerir potenciais alegações falsas à equipa para verificação de factos”, adiantou.
As três universidades parceiras no projeto, de Bochum (Ruhr-Universität Bochum), Berlim (TU Berlin) e Dortmund (TU Dortmund), estão a criar sistemas de assistência com suporte de Inteligência Artificial que não apenas detetam possíveis informações incorretas, como também ajudam na análise de textos e imagens.
“Temos problemas muito complexos a acontecer. Há muitas crises internacionais em simultâneo e isso cria um clima favorável à propagação da desinformação. Quando as pessoas estão suscetíveis ou têm medo, a desinformação sobrevive mais facilmente”, constatou Caroline Lindekamp.
“A propaganda sempre acompanhou as guerras. A novidade agora é que existe AI, novas tecnologias, novas aplicações que ajudam a que a desinformação se espalhe a uma escala global”, concluiu.
Para Lindekamp, o “Faktenforum” é uma “pequena peça no puzzle do combate à desinformação” e os vários esforços que têm estado a ser feitos são “muito importantes”.