Cova da Iria Psych Fest: o rock sempre a rasgar e outras peripécias
No dia 13 de Maio os amplificadores ligaram-se à corrente no volume máximo e subiu a temperatura na rua S. Roque da Lameira: o Woodstock 69 Rock Bar acolheu a primeira edição do Cova da Iria Psych Fest. Em parceria com a editora e promotora Lovers and Lollypops, a casa animou os planos de quem já ia tarde para iniciar a sua peregrinação a Fátima, trazendo ao cantinho pequeno (mas aconchegado) da cidade do Porto o krautrock expansivo dos nipónicos Minami Deutsch e o sempre amável e enérgico Mr. Gallini.
O relógio marcava as 18 horas da tarde quando Gallini deu início às festividades. Lovely Demos, Vol. 1, o primeiro álbum deste projecto de Bruno Monteiro, estava à venda no bar, e foi tocado quase na íntegra durante a sua actuação, que durou pouco mais de 30 minutos. Misturadas com os temas do disco surgiram também pequenas pistas do que se segue no repertório a solo do baterista dos Stone Dead; e não é de estranhar, já que Gallini tem toda uma Amazing Trilogy a revelar ao mundo.
Depois do concerto, seguiu-se uma conversa bem-humorada numa espécie de backstage improvisado. Questionado sobre as diferenças que se manifestam no processo criativo quando compõe para si mesmo ao invés de o fazer com o seu gig principal em mente, Bruno referiu que “as influências são mais ou menos as mesmas; talvez o que mude seja a forma de abordar a música. Quando escrevo para os Stone Dead já estou a pensar no que os outros vão trazer também. Não defino demasiado as coisas porque quero ter o input deles. Por outro lado, agora no meu próximo disco vou ter coisas que na banda não costumamos fazer. Vai ser todo ele baseado em música electrónica”.
“O que curto mais quando estou só eu no palco é a liberdade para poder improvisar imenso”, disse. “Posso esquecer-me de letras e isso tudo. Não parece assim tão mau porque sou só eu… hoje aconteceu montes de vezes”, referiu entre risos. Mas realçou que “uma cena menos boa é o facto de às vezes ser um tédio enorme andar sozinho [embora de vez em quando goste de o fazer]… é fixe tu teres malta contigo a partilhar as experiências”. A malta dos Stone Dead anda ocupada – “estamos a compor um álbum do caralho e provavelmente para o ano já se vai ouvir qualquer coisa” – e os sucessores de Lovely Demos, Vol. 1 também não demorarão assim tanto tempo a sair, pelo que razões não faltam para prestar atenção ao que Gallini e os seus companheiros andam a maquinar.
Depois da conversa, as energias estavam recuperadas, e era tempo de apreciar a sonoridade envolvente dos Minami Deutsch. Portugal foi uma das últimas paragens da pequena tour europeia do grupo japonês, mas o concerto mostrou que a espera valeu a pena, tendo sido capaz de encantar o público entusiástico do Woodstock 69, que aplaudiu efusivamente grande parte do seu novo disco With Dim Light.
Esta é já a segunda vez que a banda passa por terras lusitanas. “O pessoal daqui recebe sempre muito bem o que fazemos e a cidade do Porto está a tornar-se numa das nossas favoritas. A hospitalidade é muito boa… e a comida também! Acho que gostamos do país em geral. O dono do Sabotage Club é um gajo particularmente engraçado. É o nosso pai aqui em Portugal”, mencionaram, com uma boa-disposição contagiante. “E acho que também nos estamos a divertir mais porque já é a nossa segunda tour. Temos mais confiança agora… mesmo quando fazemos jams e começamos a improvisar. O jam é sempre um desafio para nós. Vamos sempre descobrindo coisas novas musicalmente”.
O rock cintilante começava a chegar ao fim e instalavam-se os zumbidos nos ouvidos. Por volta das 20:30, já os concertos tinham acabado, mas, com os artistas em descontraída confraternização com os seus fãs, a animação do convívio estava só no começo. Acabava com um último rasgo de feedback barulhento por parte do guitarrista dos Minami Deutsch a primeira edição do Cova da Iria Psych Fest, mas no ar ficou a promessa: para o ano, a festa é para repetir.