Cozido à portuguesa

O cozido à portuguesa não é apenas um conjunto de ingredientes num prato. É uma orquestra em que cada ingrediente interligado gera uma sinfonia.
Como se o maestro fosse o cozinheiro, as carnes representassem as variadas cordas: violinos, harpas…, os legumes os instrumentos de sopro: trompetes, trompas…, e os espectadores somos nós, que no final do concerto, aplaudimos.
Tudo está ligado entre si, e se por acaso cada ingrediente for cozinhado à parte, algo se perde, diria mesmo que o prato fica mudo, sem voz, como na orquestra, se algum instrumento falha, não existe harmonia. A couve, os legumes, o feijão e o arroz, não atingem o seu verdadeiro significado se não forem cozidos no caldo dos enchidos e das carnes. Todos precisam de todos, para fazer deste prato um dos melhores da nossa gastronomia.
O cozido à portuguesa é um retrato da nossa cozinha: rica, feita com tempo, e onde todos os ingredientes são reutilizáveis. É um prato que aconchega, une pessoas à volta da mesa, aquece, e que nos leva a contar histórias. E se há coisa que nos define como povo, é sabermos juntar tudo isso num tacho, daí um dos dias mais recorrentes do cozido à portuguesa ser o Domingo, o dia em que as famílias estão reunidas, almoçam, e passam a tarde toda na galhofa.
É um prato do povo que combate os individualismos, o cozido nunca foi feito para uma só pessoa, seria impossível, tem de ser feito em grandes quantidades. É uma comida para partilhar, e é nessa partilha que está a alma do cozido à portuguesa. Talvez se mexêssemos menos no telemóvel e comêssemos mais cozido, o espírito de comunidade se acendesse.