Cristiano Ronaldo fez-me chorar
Não sou um fã de Cristiano Ronaldo, mas na última semana estive muito perto de chorar com três coisas que dele soube. E não consigo deixar de me comover ao pensar no assunto, arrisco dizer que dificilmente conseguirei não olhar para o melhor jogador português de todos os tempos (e um dos cinco melhores de sempre) de uma maneira carinhosa e agradecida.
Vi Cristiano a mostrar ao filho mais velho a pensão onde viveu na sua adolescência. Uma pensão com casa de banho no fundo do corredor e um quarto acanhado que partilhou com um outro jovem jogador. O filho, incrédulo, não queria acreditar que o seu pai, um Deus na terra, tivesse ali vivido. E ainda menos acreditou quando o pai chorou ao rever pessoas que ali trabalhavam; personagens de uma outra vida.
Vi Cristiano, numa entrevista, recordar o pai. Vi-o a perder o controle da emoção, as lágrimas a cair quando o jornalista inglês lhe mostrou imagens de arquivo do pai, imagens que ele nunca vira. E depois de um longo silêncio, confessou: “O meu pai estava sempre bêbado, nunca consegui ter uma conversa com ele. Gostava tanto que ele tivesse visto onde cheguei”.
Vi também o craque português a recordar as noites em que ia para o Mc’Donalds com fome, a maneira agradecida como recordou duas empregadas que lhe davam os hambúrgueres que sobravam. “Sabe, gostava muito de jantar com a Dona Edna e com uma outra senhora que lá trabalhava. Gostava de as rever para devolver tudo o que me deram e para lhes mostrar gratidão”.
Cristiano Ronaldo é um jogador superlativo. Uma estrela planetária – não há lugar no mundo onde possa estar sem ser reconhecido. É também multimilionário. É jovem ainda, tem inúmeras solicitações todos os dias, coisas que nem sequer poderei imaginar. Porém, não perdeu a memória. Nem o respeito e orgulho pelo lugar de onde veio. Não tem vergonha das suas raízes e de quem é. E continua, com todas as mordomias que conquistou, a ser um animal competitivo que o faz, desse ponto de vista, o maior atleta da história do futebol.
Não, depois disto Cristiano Ronaldo será para mim intocável. Porque nos oferece a possibilidade de sermos o melhor que conseguirmos ser. De o sermos independentemente de onde viemos. De um palácio ou de um buraco em Câmara de Lobos. Cristiano foi uma flor que nasceu de uma pedra. Estava condenado a não ser merda nenhuma, condenado a comer os hambúrgueres que os clientes não quisessem comer, mas conquistou o mundo com o que tinha dentro. Percebo agora que dentro dele corre um paraíso.