Cuidado com os termos
Ideologia de género e marxismo cultural são expressões vulgarmente usadas nos novos e velhos media. Mas na verdade, ninguém sabe o que significam.
Estas terminologias foram cunhadas num determinado setor conservador da sociedade, um dos mais reativos.
Em si, os termos não possuem significado científico, embora desvendem um teor caricatural o que, curiosamente, revela mais sobre a origem das expressões do que os seus alvos desejados.
Habitualmente, “ideologia de género” é utilizado de forma pejorativa perante um acontecimento que envolva pessoas gays, transgénero ou bissexuais, mas também há casos em que se procura denegrir atos de homens e mulheres feministas, ou avanços sociais, como o direito à educação sexual. No fim das contas, o termo procura fomentar a ideia de que determinada entidade quer forçar toda a gente a abdicar das suas orientações sexuais e gostos pessoais.
Já “marxismo cultural” é empregue de forma lata, caracterizando negativamente qualquer ação ou ato político pertencente a organizações progressistas. A grande falha no discurso é que ninguém caracteriza como “marxismo cultural” a jornada de trabalho de 8 horas, a existência de um mínimo salarial, ou o direito a gozar férias pagas, nem a existência de períodos de descanso, como os fins de semana.
Ambos os termos costumam ser acompanhados de insinuações que “alertam” para os sinais evidentes da próxima ditadura comunista. Na verdade, não passam de uma forma de agitar o caldo social, lançando a confusão e o pânico, desviando as atenções da falta de respostas políticas das forças economicamente liberais.
Texto de Luís Grilo
Publicado originalmente no jornal aguedense Soberania do Povo (Semanário mais antigo de Portugal). Tendo sido aqui repoduzido com a devida autorização do autor.
Luís Grilo nasceu em Águeda há 28 anos e estudou jornalismo em Coimbra. Escreve, toca e mete-se nas políticas.