Culturgest celebra 30 anos e dá a conhecer novos trabalhos de Albano Jerónimo, Nadia Beugré e Luís Severo

por Comunidade Cultura e Arte,    11 Julho, 2023
Culturgest celebra 30 anos e dá a conhecer novos trabalhos de Albano Jerónimo, Nadia Beugré e Luís Severo
Luís Severo (2019) / Fotografia de João Rosa – CCA

No segundo semestre de 2023, a Culturgest celebra o seu 30.º aniversário apresentando várias estreias nacionais e um novo espaço para exposições. Crimes ambientais, abordagens político-sexuais, questões de género e identidade, esvaziamento versus sobrepopulação de territórios ou o lugar da Terra no Universo são alguns dos temas abordados nesta temporada.  

Destaque para o teatro com Agnieszka PolskaAlbano JerónimoCláudia Lucas Chéu e a companhia Hotel Europa; na dança, destaque para Jan MartensMilo Rau e Nadia Beugré que apresentam os seus espetáculos mais recentes; na música, a celebração do aniversário da Culturgest (que abriu as suas portas no dia 11 de outubro de 1993) acontece com dois concertos de Ricardo Toscano — que também entra na sua terceira década em 2023 —, concertos de apresentação dos novos trabalhos de Luís Severo e Joana Sá e com nomes internacionais como Alessandro Cortini e ainda, Nivhek (também conhecida como Grouper).

Na área das conferências, estará presente um dos mais reconhecidos filósofos da atualidade, Paul B. Preciado, a filósofa ambientalista Elisa Aaltola e ainda, destaque para dois ciclos de conferências: Lugares, Proximidades e Território e Aqui, no Universo.

A Culturgest recebe ainda Humanity Summit, um encontro que reúne defensores dos direitos humanos, chefes de Estado, políticos, agentes de mudança, e o evento Histórias Comuns/Common Stories, em colaboração com o festival Alkantara que reúne várias entidades culturais nacionais e europeias.

Nas artes visuais, a propósito da celebração do trigésimo aniversário da Culturgest, é inaugurado um novo espaço de exposições de entrada gratuita — localizado na zona da antiga livraria da Culturgest, com uma mostra dedicada às edições de Alberto Carneiro — e é apresentada uma grande exposição dedicada à Coleção da Caixa Geral de Depósitos, dando a conhecer obras mais antigas e mais recentes de uma grande variedade de artistas, assim como a continuação do ciclo Território, com exposições em Lisboa e no Porto.

“O Meu Amigo H.” Fotografia de Paulo Pacheco

TEATRO 

The Talking Car/O Carro FalanteAgnieszka Polska, 14 e 15 SET
A Mina e Tribunal Mina, Hotel Europa, 6-8 OUT 
O Meu Amigo H., Albano Jerónimo, Cláudia Lucas Chéu, 18-20 JAN 

Entre setembro e janeiro, a Culturgest apresenta três espetáculos de teatro. Integrado na BoCA Bienal, a artista polaca Agnieszka Polska, premiada com o National Gallery Prize (Berlim), apresenta a sua primeira peça de teatro, The Talking Car, umapeça onde um grupo de pessoas tenta sair de um carro em alta velocidade. Música repetitiva e animações hipnóticas aumentam a melancolia deste conto imersivo sobre o complexo sistema de agentes humanos e não-humanos. 
A companhia de teatro documental Hotel Europa apresenta um programa de dois espetáculos relacionados com a vila mineira de São Pedro da Cova: A Mina e Tribunal MinaA Mina aborda a história de São Pedro da Cova, assombrada pela unidade mineira, que, durante dois séculos, foi o principal sustento das famílias e como a sua desativação criou graves problemas sociais; Tribunal Mina aborda um caso de 2001, quando foram depositadas toneladas de resíduos tóxicos da Siderurgia Nacional nas minas de carvão, com impactos ambientais trágicos. A interpretação é feita por habitantes de São Pedro da Cova, que partilham com o público as suas histórias de vida.
Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu apresentam O Meu Amigo H. que parte do drama My Friend Hitler, do escritor japonês Yukio Mishima, que aborda a relação entre o ditador alemão e três figuras próximas. Na adaptação da peça, Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu afastam-se do seu contexto histórico e aproximam-se do espectro da intolerância e do ressentimento dos tempos atuais. 

“any attempt will end in crushed bodies and shattered bone” / Fotografia de Phile Deprez

DANÇA 

any attempt will end in crushed bodies and shattered bones, Jan Martens/GRIP & Dance On Ensemble, 22 e 23 SET 
Antígona na Amazónia, Milo Rau /NTGent, 11 e 12 NOV
Profético (Nós Já Nascemos), Nadia Beugré, 24 e 25 NOV

Na dança, o coreógrafo belga Jan Martens apresenta any attempt will end in crushed bodies and shattered bones, título que parte de uma citação do presidente chinês Xi Jinping durante os protestos de Hong Kong, em 2019, e serve como sinal ominoso da violência física e verbal que caracteriza os nossos tempos. O grandioso espetáculo apresenta 17 intérpretes em palco sendo uma ode à liberdade individual. 
No âmbito do Alkantara Festival, são apresentados dois espetáculos: Antígona na Amazónia, de Milo Rau/NTGent e Profético (Nós Já Nascemos)deNadia Beugré. O diretor artístico Milo Rau apresenta Antígona na Amazónia, um espetáculo que cruza a mitologia europeia com a luta atual pela salvação da Amazónia através do diálogo entre intervenções e passagens filmadas.  A diretora artística Nadia Beugré regressa a Portugal com Profético (Nós Já Nascemos), sobre um grupo de pessoas da comunidade trans de Abidjan, na Costa do Marfim, onde nasceu Nadia Beugré. O espetáculo desenvolve uma investigação coreográfica sobre género, identidade e a vida na periferia da norma. A coreografia junta duas realidades em palco, por vezes íntima, por vezes explosiva.

Ricardo Toscano / Fotografia de Vera Marmelo

MÚSICA

Alessandro Cortini & Marco CiceriNati Infiniti, 19 SET
Concertos 30 anos Culturgest: Ricardo Toscano with Strings e Ricardo Toscano Trio, Chasing Contradictions, 11 e 12 OUT 
NivhekEngine (com filme de Takashi Makino), 8 NOV
Luís SeveroCedo ou Tarde, 14 DEZ 
Joana SáCorpo-Escuta/a body as listening, 12 JAN

Na música, destaque para a eletrónica internacional, com a presença de três nomes fundamentais. O primeiro, em setembro, é Alessandro Cortini, conhecido por ser um dos elementos da banda norte-americana Nine Inch Nails. Apresenta Nati Infiniti (Nascido Infinito)numa versão para palco da instalação que mostrou na primeira edição do Sónar em Lisboa, em 2022. Com ele estará o artista visual Marco Ciceri, responsável pelas imagens no grande ecrã da Culturgest.

Em novembro, Liz Harris, mais conhecida como Grouper, reativa o seu projeto Nivhek. Tal como Alessandro Cortini, Engine será uma pequena tour europeia feita pela versão concerto de uma instalação inaugurada no Instituto de Arte Contemporânea de Portland, nos Estados Unidos, no início deste ano. Ao longo de um filme original de Takashi Makino, Liz explora o som maquinal e brutal das drag races – corridas de carros de alta-performance, criando uma metáfora sonora com o poder, excesso e a própria destruição dos recursos do planeta.

Na música nacional, o destaque é para o duplo concerto que celebra os 30 anos da Culturgest. Ricardo Toscano, que também celebra 30 anos em 2023, é o anfitrião e traz-nos dois projetos: primeiro, no dia 11 de outubro, junta o seu quarteto à Orquestra de Câmara Portuguesa para uma versão do clássico Charlie Parker with Strings, de 1950, num concerto conduzido pelo maestro e arranjador Pedro Moreira, atual presidente do Hot Clube de Portugal. 

No dia seguinte, dia 12, Ricardo Toscano traz o seu trio para apresentar o seu premiado álbum de 2022, Chasing Contradictions — prémio Play para o melhor disco de jazz; considerado pela crítica o melhor álbum de jazz de 2022 ou constando na lista dos melhores álbuns do ano de vários meios.

Em dezembro, Luís Severo apresenta o seu mais recente álbum, Cedo ou Tarde, que será lançado no último trimestre deste ano. Feito de opostos — manhã e noite, luz e escuridão, optimismo e pessimismo —, Luís Severo tem um olhar social e político sobre os nossos desafios como sociedade, e oferece-nos alguma esperança para os apocalipses que assistimos todos os dias.

Em janeiro, a compositora e pianista Joana Sá apresenta Corpo-Escuta/a body as listening: um concerto-performance que é apenas uma das muitas facetas de um projeto imenso que fará durante os próximos longos meses — para além do concerto na Culturgest, haverá um livro, um disco, uma instalação online e uma palestra-performance. Em palco, reflexões sonoras sobre corpos que ressoam, que podem ser instrumentos, sobre objetos que pode ser instrumentos, sobre os nossos sentidos.

Paul B. Preciado / Fotografia de Catherine Opie

CONFERÊNCIAS E DEBATES

O Amor como um Método Moral: Biofília na Era da Mudança Climática, Extinção das Espécies e Indústrias Animais, Elisa Aaltola, 13 SET 
Eu Sou o Monstro Que Vos Fala, Paul B. Preciado, 17 SET 
Humanity Summit, 21 SET 
Crimes Ambientais, Andreia Galvão, André Amálio, Rui Berkemeier, Teresa Havlíčková, Viriato Soromenho-Marques, 4 OUT
Ciclo Lugares, Proximidades e Território, curadoria de José Reis e Liliana Coutinho, 14 NOV – 5 DEZ (O Cuidado do Lugar, Jeff Malpas, 14 NOV; Todos os Tempos se Cruzarão. Cuidar de um PaísDésirée Pedro, Carlos Antunes, Maria Manuel de Oliveira, 22 NOV; Voltar aos Mapas: Inscrever os Lugares e Libertar as Mãos, José António Bandeirinha, José Reis e Magda Henriques, 5 DEZ)
Histórias Comuns/Common Stories, Integrado no projeto europeu Common Stories, 22 NOV 
Ciclo Aqui, no Universo, em parceria com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, 30 JAN-30 ABR 2024 (A Terra, à Luz de Outros Planetas, Pedro Machado, Ricardo Trigo, 30 JAN)

Na área das conferências, a filósofa finlandesa Elisa Aaltola explora diferentes definições filosóficas e psicológicas do amor, aplicando-as ao contexto contemporâneo e explorando o conceito de amor pela natureza e pelos animais, conhecido como Biofilia. Continuando com a temática ambiental, acontece a conversa Crimes Ambientaisonde participam na conversa André Amálio Teresa Havlíčková, autores da peça Tribunal Mina,Andreia Galvão, colaboradora do Hotel Europa e ativista ambiental, Rui Berkemeier, colaborador na Associação ZERO e Viriato Soromenho-Marques, filósofo com uma reconhecida atividade ambientalista. A partir das investigações realizadas no contexto do Tribunal Mina, o debate debruça-se sobre o tema dos crimes ambientais praticados em Portugal e na Europa. 

Sobre as questões humanitárias, e integrado na BoCA Bienal, Paul B. Preciado, um dos maiores nomes da filosofia da atualidade, homem trans, desafia a psicanálise a abrir-se às novas abordagens político-sexuais com Eu Sou o Monstro Que Vos FalaAinda na mesma temática, e em parceria com a Cimeira da Humanidade, a Culturgest recebe a Humanity Summit, um eventoque reúne uma diversidade de especialistas em questões ligadas aos direitos humanos, membros da sociedade civil, chefes de estado, políticos, agentes de mudança, investidores de impacto, líderes de empresas e estudantes com o objetivo de criar uma plataforma que impulsione as mudanças urgentes e necessárias no mundo. 

Nesta temporada, a Culturgest aborda a temática do território através de várias perspetivas. Será apresentado oCiclo Lugares, Proximidades e Território que propõe um olhar sobre o território português para além das habituais dualidades interior-litoral, cidade-campo, esvaziamento e concentração. Todos os Tempos se Cruzarão. Cuidar de um País propõe demonstrar como, num contexto de esvaziamento do país e de hiperconcentração da população em determinadas zonas, a arquitetura e a arte procuram encontrar estratégias que têm sabido estruturar o território. No mesmo âmbito, a conferência Voltar aos Mapas: Inscrever os Lugares e Libertar as Mãos questiona o papel do mapa nos tempos modernos onde a simplificação do mesmo gerou injustiça espacial e desigualdades territoriais. 

Inserido também no festival Alkantara e integrado no projetoeuropeu Common Stories, a Culturgest apresenta ainda Histórias Comuns/Common Stories, que junta a Maison de la Culture de Seine-Saint-Denis (Paris), o Alkantara Festival e a Culturgest (Lisboa), entre outras entidades, num projeto de três anos, em torno da diversidade nas artes cénicas. A cidade de Lisboa recebe em novembro o primeiro laboratório artístico CommonLAb, no espaço Alkantara, reunindo artistas emergentes que trabalham sobre questões de identidade e diversidade, e a primeira discussão pública da Fábrica de Boas Práticas, na Culturgest, sobre como acolher a diversidade nas instituições culturais.

Por fim, haverá espaço para o universo com o ciclo Aqui, no Universo. A Culturgest e o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) associam-se para reunir investigadores e pensadores em diálogo, que unem a cultura científica às preocupações humanas e às perturbações de origem humana. 

“Fazer, Território #4” / Fotografia de Mário Novais

ARTES VISUAIS

FazerTerritório #4, Fidelidade Arte, Lisboa, Inauguração a 22 SET, 25 SET-5 JAN, Culturgest Porto, Inauguração a 2 FEV, 3 FEV-12 MAI
Profanações, Território #3, Culturgest Porto: Inauguração a 29 SET, 30 SET-14 JAN
Ideias, Projetos e Envolvimentos, Alberto Carneiro, Inauguração a 13 OUT, 14 OUT- 21 JAN
Fantasma Gaiata – A Coleção da CGD, Culturgest Lisboa, Inauguração a 13 OUT, 14 OUT- 21 JAN

Continuam: 
#slow #stop… #think #move, Território #2, Culturgest Porto, Até 10 SET
Colecção Primavera-Verão, Ana Santos, Culturgest Lisboa, Até 10 SET

Nas artes visuais, em Lisboa, para além das exposições, será inaugurado um novo espaço de exposições. Em 2023, na semana de aniversário da Culturgest, será inaugurado um novo espaço de exposições nas galerias de Lisboa que ocupa o espaço da antiga livraria. Será dedicado a exposições de entrada gratuita que partem da ideia ampla de livro e de noções conexas como edição, escrita, documentação, inscrição, papel, entre outras. A pretexto da apresentação da obra O Canavial: Memória Metamorfose de um Corpo Ausente, na exposição que celebra os 30 anos da Culturgest, o primeiro momento deste novo espaço é dedicado às edições de Alberto Carneiro. Entre cartazes, catálogos, brochuras, serigrafias ou livros desenhados por Carneiro, as obras reunidas constituirão a maior mostra de edições do artista até à data.

Continuando a celebração do aniversário, é apresentada Fantasma Gaiata – A Coleção da CGD. O ano de 2021 assinalou o regresso das aquisições programáticas para a Coleção da Caixa Geral de Depósitos –  considerado um dos acervos de arte contemporânea portuguesa mais relevantes do país. A propósito da celebração do trigésimo aniversário da Culturgest, a mesma abre as galerias para que o público possa novamente contactar com este importante acervo. A exposição prestará especial atenção às aquisições mais recentes.

Na Fidelidade Arte, em Lisboa, e na Culturgest Porto continua a ser apresentado o ciclo Território, parceria entre a Fidelidade Arte e a Culturgest – que traz aos públicos das duas cidades um conjunto de nove exposições coletivas concebidas por outros tantos curadores nacionais. O terceiro momento do ciclo Território inaugura Profanações, com curadoria de David Revés, na Culturgest Porto, e a exposição Território #4 intitulada Fazer apresenta, simultaneamente, uma revista e uma exposição. Concebida por Frederico Duarte e Vera Sacchetti que trabalham na área da crítica e da curadoria do design. Fazer procura definir as esferas de agência do design contemporâneo pelas vozes de quem lhe dá forma. Cada exposição conclui com o lançamento da revista impressa. 

CINEMA

Doclisboa, 19-29 OUT

Na área do cinema, o Doclisboa regressa à Culturgest para a sua vigésima primeira edição com destaque para a retrospetiva dedicada à coligação de cineastas radicais que, em plena Grande Depressão, lutaram pelo nascimento do Documentário Social, enquanto instrumento de justiça na América do “New Deal”. O Doclisboa propõe uma programação que conflui diversos olhares e formas de pensar o mundo, a história e o futuro. Voltam as secções Riscos, Da Terra à Lua, Heart Beat, Verdes Anos e Cinema de Urgência, as competições Internacional e Portuguesa, o espaço para profissionais, Nebulae, e o projeto educativo do festival.

PARTICIPAÇÃO
Motion, Teatro do Frio, 24-26 NOV 
2050 Tempestade Mental, 26 SET

No âmbito da área da participação, a Culturgest continua a apresentar projetos artísticos que privilegiam o envolvimento social, focados na interação e colaboração. Apresenta Motion, do Teatro do Frio, um projeto de pesquisa e criação que cruza procedimentos e metodologias do teatro e da dança contemporânea com o contexto das artes visuais. 
Haverá mais uma edição da Tempestade Mental – subordinado ao tema 2050 Tempestade Mental. Um projeto que reúne um conjunto de conferências dirigidas a jovens dos 15 aos 18 anos. 2050 Tempestade Mental é um desafio à concretização de futuros: das comunidades humanas à relação com os animais e a natureza, da legislação às cerimónias e aos rituais. O que é que consegues fazer em 90 minutos?

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