“Dark Waters”, de Todd Haynes: um filme activista
Dark Waters – Verdade Envenenada chega esta quinta-feira (9) às salas de cinema portuguesas, com Mark Ruffalo e Anne Hathaway nos principais papéis. O filme retrata a longa batalha de Robert Bilott para expor os crimes de uma das maiores empresas químicas do mundo. O Espalha-Factos já assistiu e diz-te porque vale a pena ir ver Dark Waters.
Uma história verídica
Mark Ruffalo assume as rédeas do filme para contar a história real de Robert Bilott. O advogado empresarial recebe provas de ligações entre as mortes de vários animais nas redondezas da fábrica de uma das gigantes químicas mundiais, DuPont, na sua terra natal.
Reluntantemente, Bilott volta a Parkersbourg, West Virginia, para ver pelos seus próprios olhos o que se passa… Entra numa luta legal que durará duas décadas para defender a população de Parkersburg e responsabilizar a DuPont pelos crimes ambientais e pelos danos causados à saúde pública dos mais diretamente afetados.
A verdade nua e crua
Dark Waters é baseado num artigo de Nathaniel Rich publicado em 2016 no The New York Times Magazine intitulado “The Lawyer Who Became DuPont’s Worst Nightmare”. Trata-se de um filme realista, que leva o seu tempo a mostrar-nos todos os passos, todos os obstáculos, toda a minuciosa investigação que Robert Bilott sabia que teria de fazer e enfrentar para poder levar a cabo com sucesso um processo que já vai em vinte anos desde que começou.
Sem glamour, sem romance, a longa-metragem realizada por Todd Haynes (Carol) – da mesma produtora de O Caso Spotlight e Green Book (ambos vencedores do Óscar de Melhor Filme) – mantém um tom objetivo e cru acentuado pela cinematografia, que nos traz um filme em tons frios, cinzentos e azuis, relembrando a poluição, a contaminação e a doença causadas pela empresa processada por Bilott. A banda sonora original de Marcelo Zarvos traz emoção ao filme, dando-lhe alguma vida e ritmo, mas combinando na perfeição com o seu tom algo tenebroso.
Bem espaçado e pensado, uma das falhas que podemos apontar é o tom expositivo do filme, que se pode tornar um pouco cansativo, mas que é cortado pelos momentos mais emocionais da trama. Além disso, o tom enganador do trailer, que nalgumas ocasiões faz parecer deste filme um thriller com perseguição à mistura – um tom que transparece um pouco em apenas duas cenas, talvez até desnecessárias, mas que servem para, de alguma forma, aumentar a pressão e a perceção do risco pessoal que todo o processo teria envolvido para Bilott.
Mark Ruffalo domina o ecrã
Mark Ruffalo brilha em Dark Waters, prendendo o nosso olhar em si durante as duas horas de duração da longa-metragem. Algumas das cenas partilha com Anne Hathaway, que retrata a sua esposa e que surge no filme como um apoio e inspiração para Bilott, mas também para mostrar o custo pessoal que uma luta como esta pode ter na vida de quem a trava. Para além de Hathaway (que ganhou o Óscar de Melhor Atriz Secundária em Os Miseráveis), o elenco conta ainda com Tim Robbins (vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário em Mystic River), Victor Garber, Mare Winnigham, William Jackson Harper (The Good Place) e Bill Pullman.
Um filme ativista
Ruffalo é também produtor de Dark Waters, um filme que não é inocente, contando uma história real e atual de crime ambiental numa época em que a demanda por ação política de combate às alterações climáticas está em alta. O filme foi, aliás, vencedor do Prémio Truly Moving Picture, dado a um filme “transformador para o público”, e nomeado como Melhor Filme Dramático pela HUMANITAS, uma organização que homenageia arte que defenda os direitos humanos.
Em aproximadamente duas horas, Dark Waters traz ao grande ecrã uma história que merece ser contada, uma trama interessante e uma história que nos persegue depois de sair da sala de cinema. Apesar de não ser um filme com um final feliz, que retrata os meandros legais pelos quais as empresas fogem à lei, poluem água, ar e terras e adoecem as populações e animais em redor, este deixa-nos pelo menos com uma leve esperança: a de que, com perseverança e coragem, fazer a coisa certa pode mesmo ser a única forma de enfrentar os gigantes que nos tentam espezinhar e maltratar, e assim mudar o estado das coisas.
Este artigo foi escrito por Mariana Nunes e foi originalmente publicado em Espalha Factos.