‘Darkest Hour’ ombreia com os melhores pela escrita e a interpretação de Gary Oldman é imaculada
Na chamada Oscar Season é apanágio o aparecimento de filmes biográficos acerca de grandes personalidades históricas. Este é um tipo de cinema que habitualmente nos traz uma linha narrativa previsível dentro da dramatização da vida pessoal de uma personalidade inspiradora. Joe Wright, que trouxe Atonement e Pride & Prejudice, não é um realizador particularmente brilhante, mas temos que lhe reconhecer o mérito de um certo cinema comercial tradicionalista e romantizado, com uma belíssima banda sonora, que quando bem executado consegue trazer ao espectador uma sensação prazerosa, ainda que lhe seja reconhecível uma ornamentação excessiva, a olhar para os grandes prémios da indústria.
Darkest Hour não foge a essa convencionalidade dramática, mas existe nele algo que o diferencia dos dramas do género, começando pela sua estrutura focada, e consequentemente empacotada, apenas nas primeiras semanas de Winston Churchill enquanto Primeiro Ministro britânico, nomeado para o cargo no momento em que o exército britânico está encurralado na praia de Dunkirk (curioso o paralelismo de bastidores que se faz com o filme de Christopher Nolan) e o Reino Unido se prepara para ser invadido pelos nazis. Não se pode dizer que Darkest Hour vá pelo caminho fácil da glorificação de Churchill, pessoa, criando um laço de empatia com o espectador, como fez, por hipótese, The Theory of Everything, com a figura de Stephen Hawking. Churchill era rude, bruto e mal-educado, pouco apreciado quer pelo seu partido, quer pela sua própria família. É esse Churchill que está na tela, o que reflecte, pelo menos, alguma coragem e preocupação por parte do realizador com o realismo histórico exigível a um filme que, relatando factos históricos reais, se quer o mais exacto possível.
Gary Oldman ajuda e muito. É a sua interpretação hipnótica e imaculada, talvez mesmo a melhor da sua carreira, que faz realmente a diferença aqui, e são raros os casos em que os intérpretes se conseguem autonomamente superiorizar ao material fílmico onde se movem, sem ser por mero benefício das características das personagens que interpretam (novamente The Theory of Everything). Essa absorção no acutilante diálogo que movimenta todo o filme, transportado por Oldman, consegue, no limite, perdoar as tentações de dar um protagonismo forçado a personagens como a dactilógrafa pessoal de Churchill, interpretada por Lily James, numa tentativa de afastar Darkest Hour do rótulo de filme de homens para homens. A casual infantilização do rei George VI, interpretado por Ben Mendelsohn, e alguma paternalização nalgumas das cenas mais poderosas do filme, impedem Darkest Hour de ser destacadamente o mais interessante filme do género dos anos recentes. Assim, apenas ombreia os melhores pela sua escrita, à qual foi dada a voz de um inexcedível Gary Oldman.