Death From Above: os sempre saudosos, mas (desta vez) pouco inovadores
No início do milénio, os Lightning Bolt causavam o pânico nas salas de concertos, utilizando apenas um baixo e uma bateria. Depois disso, ninguém esperava que surgisse um duo semelhante, capaz de agitar multidões. A verdade é que surgiram vários, contudo, os Death From Above 1979 surpreenderam, acrescentando sintetizadores orelhudos à sujidade do baixo. Em 2004, após o lançamento do primeiro longa duração, You’re A Woman, I’m A Machine, muitos tentaram procurar definições para o som da banda.
A dupla canadiana formada por Jesse F. Keeler (baixo e sintetizadores) e Sebastien Grainger (bateria e voz) misturou influências características do punk, com teclados alusivos à electrónica da época. Quando ouvíamos “Romantic Rights” ou “Blood On Our Hands” sentia-se uma aura punk; aos compassos frenéticos juntava-se o baixo distorcido; a produção lo-fi oferecia uma crueza imbatível à sonoridade da banda.
Um ano depois do álbum de estreia, a dupla separou-se, regressando em 2011, para uma digressão que passou pelo Festival Paredes de Coura. Apenas com You’re A Woman, I’m A Machine na bagagem, a banda assinou um concerto que ficou, certamente, na história do festival minhoto. Os dois fizeram do anfiteatro natural uma pista que aglomerou mosh pits e passos de dança inesgotáveis. Dez anos volvidos desde o lançamento do primeiro disco, em 2014, editaram The Physical World e agora, regressam com o novo Outrage! Is Now.
Chegam a 2017 e perdem o “1979” do nome, as músicas ganham corpo e tornam-se, de certa forma, mais vulgares. Sob a produção de Eric Valentine, homem que já trabalhou com nomes tão distintos como Lostprophets, Good Charlotte ou Maroon 5. Os sintetizadores perdem para o baixo, que neste trabalho, ganha volume e destaque.
A reacção imediata à primeira faixa do álbum: “okay, isto são os Death From Above”. “Nomad” abre sem precedentes, rápida e robusta, e parece querer anunciar que estão de volta à energia de outros tempos. É de facto, uma introdução apetecível para as restantes nove faixas. A voz de Sebastien Grainger está mais controlada, já não há espaço para grandes gritarias, dando lugar a vocalizações mais afinadas e limpas.
As faixas seguintes perdem a pedalada, assumem um registo próximo dos projectos anteriormente produzidos por Eric Valentine. Canções como “Freeze Me”, “Moonlight” e “Caught Up” estão longe dos tempos áureos da banda. É muito comum produzirem músicas com temporizações mais lentas, já o fizeraram no disco anterior – basta recordar “White Is Red” –, embora, The Physical World não se demarque tanto da identidade sonora que a banda habituou. A música homónima do álbum impinge algumas deambulações electrónicas actuais e drum machines até à entrada distorcida do baixo. Pelo contrário, o instrumental de “Never Swim Alone” relembra o passado da banda, enquanto a composição lírica entra por temas mais contemporâneos: “Babies in biker jackets / Laptops and dark sunglasses / Cocaine brunch, no reservation”. “All I C Is U & Me” e “NVR 4EVR” são criações ligeiramente bizarras e ultrapassadas, que nos remetem automaticamente para aquele pop punk produzido no início do milénio; a malha antecedente destas duas, “Statues” volta a demonstrar uma certa incoerência na identidade dos canadianos. No fim, “Holly Books” – lançada como single do álbum – é música para os nossos ouvidos, contempla-se por compassos mais progressivos; é pesada, mas consegue ter tempo para acalmar ao piano, sem que destoe dos graves despejados pelo baixo.
Outrage! Is Now é intermitente, tornando-se muitas vezes confuso e até, de certa forma, bipolar. A aposta em Eric Valentine na cadeira de produtor, revelou-se inconclusiva, e pouco inovadora para a sonoridade da banda. Apesar de ser um álbum inconsistente, os Death From Above demonstram estar com criatividade ilimitada; bastante perceptível nalguns detalhes. Pode não acrescentar nada de novo, no entanto, os pormenores interessantes, serão razão mais que suficiente para ouvir o disco em repeat.