Design, identidades
Quando comecei a escrever sobre design, fui-me apercebendo cada vez mais de duas coisas. Um, ao contrário do que muita gente pensa, o design é em grande medida uma actividade triste e precária, mal paga para a maioria dos que a praticam, muito lucrativa para uns poucos. É um mundo de estagiários, funcionários e patrões, e de grandes desigualdades. O design apesar dos macs, dos óculos de massa, das revistas reluzentes, das conferências histéricas de optimismo, tinha o mesmo esqueleto, os mesmos músculos, da exploração capitalista. Havia capitalistas e havia proletários. Dois, boa sorte a quem queira convencer um estudante de design, estagiário, funcionário, que é um proletário. Todos eles pensam que vão ser alegres profissionais liberais, empreendedores que enfrentam os problemas naturais dos primeiros anos a caminho do sucesso. Seria tão fácil resolver muitos dos problemas que afligem os designers reconhecendo simplesmente que são problemas laborais, iguaizinhos aos dos arquitectos, condutores da Uber, etc. Mas é difícil convencer os designers que merecem respeito, pagamento e direitos porque trabalham e não apenas porque o design é uma tarefa muito importante.
O que quero dizer com isto é que, de acordo com o marxismo, uma maneira eficaz de criar uma sociedade mais justa passa por convencer todo o tipo de trabalhadores que, apesar de todas as diferenças das suas profissões, têm uma coisa em comum: são trabalhadores. Porém, a dificuldade que descrevo acima em relação aos designers é a mesma dificuldade que aflige o marxismo. No fundo, trata-se de convencer um monte de gente que têm a identidade comum de um trabalhador. É em parte isso que significa a foice e o martelo, os trabalhadores do campo e os trabalhadores da cidade, todos os trabalhadores. Mas é bastante difícil a um designer rever-se num martelo. É preciso bastante esforço de imaginação. Quando muito funciona como uma metáfora.
Assim, quando ouço gente a dizer que o marxismo e as políticas de identidade estão em pólos opostos, aquilo que penso é que o marxismo assenta numa política de identidade, a ideia que uma série de tarefas podem ser descritas enquanto trabalho, e certas pessoas enquanto proletariado. Mas é só uma identidade, um meio de conseguir que as pessoas se unam em nome de uma causa maior. Juntar a essa identidade outras identidades oprimidas só junta mais gente, não diminui, não fragmenta. Não é uma distracção.