Desigualdade e feminismo em “Titanic” são temas “mais relevantes que nunca”, afirma James Cameron
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O filme “Titanic” regressa às salas de cinema a 09 de fevereiro para celebrar o 25.º aniversário, numa altura em que os seus temas dominantes “são mais relevantes do que nunca”, disse o realizador James Cameron em conferência.
“É o empoderamento feminino e uma grande história de amor, emocionalmente devastador, no final, mas também agridoce pela realização [de Rose] como pessoa”, afirmou James Cameron, na apresentação do relançamento do filme que se tornou num dos mais lucrativos da história do cinema.
O realizador considerou que parte do sucesso de “Titanic”, que ganhou 11 Óscares da Academia, se deveu ao tema da libertação feminina, personificada em Rose, interpretada pela atriz Kate Winslet.
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“O que acho é que as jovens mulheres estão num ponto das suas vidas em que a sociedade lhes diz para não serem quem são”, indicou. “Estão a dizer-lhes para se sentarem, para se calarem e apertarem o corpete. Façam o que a sociedade dominada pelos homens espera que elas façam” continuou.
O apelo de um jovem Leonardo DiCaprio (então com 20 anos) no papel de Jack, disse o realizador, apenas explica parcialmente porque é que o filme foi tão cativante, por exemplo, junto das mulheres.
“Este é um filme sobre a Rose e a sua realização como pessoa. O Jack foi um catalisador mas ela continuou e teve uma vida cheia, realizou todo o seu potencial”, descreveu James Cameron. “Isso fala às mulheres na audiência e aos homens que se importam com estas coisas, como é o meu caso”.
“Titanic”, lançado no Natal de 1997, segue o romance ficcional de Rose e Jack na história verídica da viagem inaugural do navio Titanic, que saiu do porto de Southampton a 10 de abril de 1912, em direção a Nova Iorque.
A colisão com um icebergue e o consequente afundamento a 14 de abril levou à morte de mais de 1500 pessoas, sendo que apenas 706 passageiros e tripulantes sobreviveram.
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“Houve tragédias muito maiores desde o Titanic, como as Guerras Mundiais, mas [o desastre] tem esta qualidade mítica e penso que isso tem que ver com o amor, o sacrifício e a mortalidade”, disse James Cameron. “É o sentimento duradouro do desgosto. O sentimento de perda, de tristeza, de tudo combinado numa história incrível”, continuou.
Sem botes salva-vidas em número suficiente para os 2240 passageiros, o estatuto social determinou a vida e a morte de quem ia no Titanic. Esse é o outro grande tema que torna esta história relevante no nosso século, disse Cameron. “O subtexto do Titanic é a diferença entre os ricos e os pobres, os que têm e os que não têm, quem morreu e quem sobreviveu”, considerou.
“Na terceira classe, quase todos os homens morreram e cerca de metade das mulheres e crianças morreram. Na primeira classe, metade dos homens morreram e quase todas as mulheres e crianças sobreviveram”, descreveu Cameron. “Podemos ver que há uma forte disparidade entre o destino das pessoas pobres e dos ricos numa crise”.
Isso está agora a repetir-se com as alterações climáticas, disse o realizador, que tem como um dos grandes focos da sua vida a preservação dos oceanos.
“Estamos a avisar para isto há anos, vemos que está a vir contra nós, não podemos desviar o navio”, disse. “É exatamente como o raio do icebergue. Vamos bater de frente e adivinhem quem vai sofrer mais? Os pobres, não as nações ricas que as causaram”.
“Os ricos vão safar-se, porque os ricos safam-se sempre”, afirmou. “Estes temas são mais relevantes do que nunca”.
O relançamento de “Titanic” no grande ecrã acontece numa altura em que as salas de cinema procuram reinventar-se depois da pandemia de covid-19 e numa era dourada do ‘streaming’, em que muitas pessoas preferem ver filmes em casa.
Cameron disse que ver este filme numa sala de cinema “é muito diferente” de o ver em casa, não apenas pelo tamanho do ecrã e qualidade do som, mas pelo compromisso e experiencia social que representa.
“Não se pode ‘pausar’ nem dividir por três noites ou vê-lo enquanto se faz outra coisa”, afirmou. Uma pessoa “embarca numa viagem em que a emoção vai aumentando e tem uma sensação maior de presença”.
“Titanic” é o terceiro filme mais lucrativo da história, tendo atingido 2,194 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) em receitas de bilheteira. Se a receita anterior fosse ajustada ao valor atual do dólar, já teria ultrapassado os 4 mil milhões (cerca de 3,4 mil milhões de euros).
James Cameron – que ocupa três lugares no ‘top cinco’ de filmes mais lucrativos de sempre, “Avatar” em primeiro, “Titanic” em terceiro e “Avatar: O Caminho da Água” em quarto – disse que este sucesso “foi realmente uma anomalia”.
Muitas pessoas saíam de uma sessão e compravam bilhete para uma próxima. Era uma experiência emocional que partilhavam uns com os outros, uma viagem marcada pelo “desgosto, a tristeza e a beleza da história de amor que culmina de forma trágica”.
Cameron acredita que “Titanic” manterá sempre este valor e um certo estatuto icónico. “O filme vai continuar presente durante muito tempo a lembrar as pessoas dessa tragédia real que aconteceu”.