Dia de Star Wars. Uma Força que atravessa gerações

por Espalha-Factos,    4 Maio, 2020
Dia de Star Wars. Uma Força que atravessa gerações
Fotografia de Cade Roberts / Unsplash

Uma retrospetiva pela saga épica que, mais de 40 anos depois, continua a garantir viagens à galáxia distante aos fãs do cinema de ficção científica.

May the Fourth be with you. É assim que a 4 de maio se celebra o dia de Star Wars no universo da cultura popular. A data assinala o sucesso da franquia, com 43 anos de existência – a história de uma galáxia muito, muito distante mas que, ao longo dos anos, se tornou um dos elementos mais próximos dos fãs de ficção científica.

A data escolhida pelos fãs deste universo representa um trocadilho da icónica frase May the Force be with you (em português, “Que a Força esteja contigo“) com a forma como os norte-americanos habitualmente leem as datas (mês, dia e ano). Daí nasce May The Fourth, data celebrada oficialmente desde 2011.

Pormenores geek à parte, Star Wars é mais que uma saga cinematográfica. É um universo repleto de heróis, vilões com uma imensidão de criaturas misteriosas e planetas por descobrir. George Lucas é o grande visionário por trás de personagens como Luke SkywalkerHan Solo, a princesa LeiaDarth Vader ou Yoda.

Tudo começou com um sonho de aglomerar várias histórias da cultura ocidental e oriental num único produto audiovisual. As personagens não são propriamente originais. São arquétipos que o público já viu em imensos contos ao longo dos anos, mas a forma como se apresentam nesta Guerra das Estrelas é distinta e faz com que a maior parte dos espectadores se relacione com as mesmas.

A primeira longa-metragem, intitulada hoje como Episódio IV: A New Hope (ou Uma Nova Esperança), estreou no dia 25 de maio de 1977 nos Estados Unidos; desde então, tornou-se mais que um simples filme. É uma aventura que junta fantasia e aventura com personagens emblemáticas. No nosso universo, Star Wars tornou-se num fenómeno lucrativo e é hoje um produto de massas.

Para dar a entender esta viagem, Espalha-Factos revisita a Saga Skywalker – ou seja, os nove filmes que fazem parte da história que, no ano passado, se deu como terminada com Episode IX: The Rise of Skywalker.

A Trilogia Original (1977-1983)

Pode ser um exercício díficil de perspetivar, mas George Lucas enfrentou muitos obstáculos para conceber o primeiro filme da saga. O jovem realizador tinha apenas dois filmes no seu currículo (THX 1138 e American Graffiti) e a ideia de conceber uma space-opera com influências de produtos épicos no género era algo que os estúdios de cinema tinham receio em apostar. A ficção cientifica e a fantasia não eram vistos como apostas seguras em Hollywood, porém a 20th Century Fox quis correr esse risco.

O elenco de atores e o staff técnico não estavam plenamente confiantes da visão de Lucas. O realizador experienciou vários problemas pessoais, que, juntamente com o constante “braço de ferro” com os executivos da Fox, complicou ainda mais a conceção do filme.

Surgiram, ainda, vários problemas de comunicação. O mais gritante foi o facto de a primeira versão de Star Wars, editada por John Jympson, não corresponder ao que George Lucas tinha visionado. Jympson foi substituído por três editores: Paul HirschRichard Chew e Marcia Lucas, na altura casada com o realizador. Esta decisão acabou por dar frutos, visto que o trio ganharia o Óscar de Melhor Edição em 1978.

A longa-metragem, estreada no ano anterior, esteve nomeada na categoria de Melhor Filme, mas quem levou a cobiçada estatueta foi Woody Allen por Annie Hall. Fora isso, a película conquistou Óscares técnicos e o compositor John Williams leva para casa o prémio de Melhor Banda Sonora.

Num orçamento estimado de 11 milhões de dólares da época, o primeiro filme de Star Wars rendeu mais de 770 milhões em receitas de bilheteira. Tornou-se no filme com maior receita de sempre até que ET: O Extra-Terrestre, de Steven Spielberg, quebrou esse recorde em 1983.

Para a sequela, George Lucas mantém as decisões criativas mas entrega a pasta de realização para Irvin KershnerEpisode V: The Empire Strikes Back (ou O Império Contra-Ataca) provou ser um sucesso ainda maior. Ao invés de ser uma repetição dos trunfos do filme anterior, a trama torna-se mais densa e coloca os heróis em clara desvantagem em relação aos seus inimigos. Darth Vader profere uma frase que põe o confronto intergaláctico num nível mais pessoal. É considerado por uma grande parte dos fãs como o melhor melhor filme da franquia.

Episode VI: Return of the Jedi (ou O Regresso de Jedi) culmina o enredo. Há certas críticas a esta conclusão, como a inclusão de uma nova Estrela da Morte, repetindo a mesma ideia do primeiro filme, e os Ewoks (criaturas que se assemelham a ursos de peluche). Apesar disso, o filme, realizado desta vez por Richard Marquand, volta a ser um estrondoso sucesso de bilheteira.

A Trilogia das Prequelas (1999-2005)

Foram precisos 16 anos para que os fãs de Star Wars pudessem voltar ao cinema para assistir um novo capítulo na história dos Skywalker. Representou também o regresso de George Lucas à cadeira de realizador, após um hiato de 22 anos. Nos anos 1990, o entusiasmo pela saga era saciado de outra forma – sem filmes, as histórias continuaram em livros, banda-desenhada ou videojogos.

Em 1997, a trilogia original voltou aos grandes ecrãs com melhoramentos visuais e novas cenas feitas no computador (em CGI), versões que ficaram conhecidas como as Special Edition. Até hoje, as mesmas são criticadas pelos fãs mais puristas, apontando o dedo a George Lucas, que recusa disponibilizar comercialmente as versões originais dos filmes no mercado. Até hoje, não existe uma forma legítima de assistir a essas versões sem recorrer a plataformas de downloads ilegais.

Dois anos depois, Episode I: The Phantom Menace (ou A Ameaça Fantasma) chega às salas de cinema no dia 19 de maio. O entusiasmo era, de facto, de outro mundo, como algumas reportagens televisivas retrataram. Os efeitos especiais práticos foram postos em segundo plano para dar lugar ao efeitos em CGI. O filme foi um sucesso tremendo nas bilheteiras, mas os fãs ficaram divididos.

Houve quem adorasse, mas também houve quem detestasse. As principais críticas devem-se à performance de Jake Lloyd como Anakin Skywalker e Ahmed Best como Jar Jar Binks, atores que até hoje sofrem duras críticas nas redes sociais pelas suas interpretações.

O facto de George Lucas não ter realizado um filme durante mais de 20 anos reflete-se num enredo disjunto, que tanto enfatiza tramas políticas deste universo e cenas claramente feitas para entreter um público mais infantil. Críticas à parte, o filme foi responsável por rejuvenescer o interesse no universo Star Wars em camadas mais jovens, que se viria a manifestar em anos posteriores.

Em Episode II: Attack of the Clones (ou Ataque dos Clones), estreado em 2002, as críticas não atenuaram o tom. Desta vez, o foco foi o relacionamento amoroso entre Anakin Skywalker e Padmé (Natalie Portman), que contém diálogos e cenas algo embaraçosas. O universo voltou a expandir-se com cenas CGI impressionantes na altura (que continuam a sê-lo em certos momentos).

Depois de dois filmes pouco consensuais, Episode III: Revenge of the Sith (ou A Vingança dos Sith) representou a redenção desta trilogia das prequelas. As sequências de ação voltaram a superar a fasquia, mesmo que os diálogos possam ser, por vezes, atabalhoados.

Objetivamente, a trilogia das prequelas tem muitos defeitos, mas o produto final foi todo supervisionado por George Lucas, o grande criador da saga. Por outras palavras, a visão do realizador e do seu argumento foi cumprida, apesar de não agradar todos os gostos.

A Trilogia das Sequelas (2015-2019)

Em 2012 surge uma “bomba” no universo Star Wars. A Disney, a conhecida empresa produtora de entretenimento, adquire a franquia a George Lucas por mais de 3 mil milhões de euros. Para além da compra, Bob IgerCEO da Disney, revela que irá existir uma nova trilogia de filmes, que acontecem depois do desenlace do Episódio VII. Devido à imensidão de histórias que foram criadas ao longo dos anos, a empresa do Rato Mickey decide descartá-las do cânone do enredo, em vista p

Há um novo elenco. Há um novo realizador. Há nostalgia. Parece que a Força volta a despertar. No entanto, as críticas regressam, desta vez, com megafone chamado redes sociais. Depois do lançamento em dezembro de 2015, Episode VII: The Force Awakens (ou O Despertar da Força) de J. J. Abrams contém elementos que fazem os fãs considerá-lo uma espécie de remake de Episode IV: The New Hope.

Apesar disto, o público volta a apaixonar-se por este universo e o futuro parece risonho para os fãs de Star Wars. A junção entre a velha e a nova escola de personagens perspetiva os fãs que algo memorável pode ser criado nos restantes dois capítulos da saga.

Com as expectativas ao rubro, Episode VIII: The Last Jedi (ou O Último Jedi) gera bastante controvérsia com os fãs da franquia. O ponto de discórdia é o tratamento que Rian Johnson, realizador e argumentista deste capítulo, adotou perante certas personagens no enredo. A cinematografia é esteticamente irrepreensível, mas a trama perde foco.

Apesar de não ter sido um fracasso na bilheteira, a preocupação da Disney em querer recuperar a credibilidade aos fãs mais desiludidos foi notória. Colin Trevorrow tinha sido o escolhido para realizar e escrever o argumento do último capítulo da saga Skywalker, mas foi dispensado para dar lugar novamente a JJ Abrams, com Chris Terrio a ajudá-lo no guião.

Mesmo assim, “o tiro saiu pela culatra”. Episode IX: The Rise of Skywalker (ou Ascenção de Skywalker) é tentativa forçada de tentar agradar todos com a nostalgia a falar mais alto em certos momentos. Como um todo, a trilogia falhou o sentido de oportunidade contar uma história densa. Nesse aspeto, faltou planear o enredo para os três filmes, algo que transparece quando a trilogia é analisada como um todo.

Apesar das possíveis e válidas críticas, há algo que não mudou em mais de 40 anos de Star Warsa sensação de aventura e de deslumbramento que atravessa várias gerações. É um universo que está longe de ser perfeito – e que, ao mesmo tempo, proporcionou alguns dos momentos mais marcantes na História do cinema.

Artigo escrito por João Pardal e originalmente publicado em Espalha Factos.

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