Diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues, defende concursos para diretores de teatros municipais
O diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues, defendeu que os diretores artísticos dos teatros municipais devem ser independentes em relação ao poder autárquico, saudando as autarquias que se “preocupam em abrir concursos” para o cargo.
Numa mesa redonda sobre “Como descentralizar a oferta cultural em Portugal?”, no festival MIL, em Lisboa, Américo Rodrigues reconheceu que a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses (RTCP) “tem muito a ser corrigida, e deve sê-lo, nomeadamente a independência dos diretores artísticos em relação ao poder autárquico”.
O diretor-geral das Artes dava a RTCP como exemplo de algo que tem sido feito em prol da descentralização cultural em Portugal, “algo que está em construção há muitos anos e que não deve ser abandonado como luta”.
A RTCP foi criada para combater as assimetrias regionais e para fomentar a “coesão territorial no acesso à cultura e às artes em Portugal” e assenta “na descentralização e na responsabilidade partilhada do Estado central com as autarquias e as entidades independentes”, lê-se no ‘site’ da DGArtes.
Atualmente, são 94 os equipamentos que fazem parte da RTCP, entre auditórios municipais, casas de cultura, teatros e cineteatros, centros culturais e centros de artes, 38 dos quais apoiados para programação entre 2022 e 2025.
Para Américo Rodrigues, os artistas “deviam ‘tomar conta’ da rede, porque há possibilidades espantosas”: “94 teatros e outros equipamentos culturais por todo o país dá muitas possibilidades”, disse.
O diretor-geral das Artes lembrou que o poder local é “o maior financiador da descentralização”, e desempenha “um papel muito importante” neste processo.
“Só agora é que o Estado central, através da DGArtes, comparticipa despesas associadas à programação dos teatros. Há câmaras municipais que se preocupam em abrir concursos para os diretores dos teatros, mas outras não, e ter um diretor artístico autónomo do poder autárquico e central é prioridade”, afirmou.
Durante o debate, Américo Rodrigues salientou haver “muito bons exemplos” de novos centros de criação e programação artística fora dos grandes centros, sublinhando a dificuldade de se ficar pela definição de grande centro como sendo as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Isto porque, “dentro desses centros, há periferias muito mais periféricas do que a cidade da Guarda”, “um desses centros distantes do poder”, onde o atual diretor-geral das Artes nasceu e viveu durante 50 anos, e cujo teatro municipal dirigiu, entre 2005 e 2013.
“Há periferias na zona de Lisboa que precisam de toda a atenção e oportunidade de desenvolverem entidades artísticas criativas e interventivas”, defendeu, reforçando que a “criação de outros centros é prioridade da DGArtes”.
Do trabalho feito pela DGArtes em prol da descentralização cultural, Américo Rodrigues lembrou ainda as quotas regionais estabelecidas nos concursos de apoio sustentado.
O diretor-geral das Artes referiu ainda que a questão centro/periferias “não é apenas geográfica”.
“Passou a haver programas a cruzar com ambiente, saúde mental, e há um recente de coesão territorial, um programa de apoio a estruturas que trabalhem em territórios de baixa densidade cultural, não apenas populacional, onde há menos oferta de programação e criação”, recordou.
Durante o debate, surgiu a questão da falta de verbas nos concursos de apoios sustentados e de apoios a projetos para apoiar todos os projetos considerados aptos, pelos respetivos júris, a receber apoio, deixando centenas de fora.
Quanto a isso, Américo Rodrigues assumiu ser “óbvio que devia haver mais dinheiro”.