Do Cirque du Soleil para Ílhavo: Rui Paixão é o criador apoiado da edição de 2020 do LEME
Vamos por partes. O LEME, festival de circo contemporâneo em Ílhavo, vai já este ano para a sua terceira edição. Acontece sempre no início de dezembro, sendo um festival de inverno que além de trazer a Portugal várias estreias nacionais, promove o debate em torno do circo contemporâneo, fora e dentro do país, desafia à criação artística e envolve o circo em espaços pouco convencionais ilhavenses.
Todos os anos, o festival, organizado pelo 23 Milhas, projeto cultural do Município de Ílhavo, em parceria com a Bússola, que desenvolve projetos artísticos, apoia um criador nacional no sentido de apresentar no festival uma criação única da sua autoria, que estabeleça uma relação com o território, passando nele, aliás, grande parte dos meses que antecedem o festival. Em 2018, Ana Jordão apresentou “Chama do Mar”, recrutando dois músicos da região para trabalharem consigo; em 2019, Daniel Seabra estreou [HOSE], com Miguel De e Maria Trabulo, recrutando por sua vez materiais e inspiração na indústria da região.
Em 2020, é Rui Paixão, regressado há poucos dias da China, onde trabalhava com o Cirque du Soleil, quem encabeça a criação nacional do LEME. Uma das grandes referências da técnica de clown contemporânea a nível nacional, Paixão viu o seu trabalho reconhecido, há dois anos, por um jornalista francês, como mais que contemporâneo, “clown transgressivo”.
Desta vez, o LEME não vai sozinho (Rui Paixão também não, já lá vamos). Esta será a primeira coprodução do festival, em parceria com o FiraTárrega, o maior festival espanhol de criação artística para o espaço público e um dos maiores mercados do setor a nível europeu. A criação estreará, assim, em Tárrega, em setembro, quando acontece o festival da cidade espanhola. Segue para o LEME, de 3 a 6 de dezembro.
Quanto ao que esperar desta criação, que já tem nome, “Huaxia”, parte de um dos grandes propósitos de Rui Paixão: focar o seu trabalho na investigação e criação para o espaço público e reabilitar o conceito de “praça, cidade e arte na cidade” através da técnica clown. Esta é para si, garante, “muito mais do que uma mera apropriação de códigos já estabelecidos”, mergulhando numa obsessão constante, que o leva a encontrar no seu trabalho inspiração filosófica e várias formas de manifestação artística.
O projeto irá explorar novas abordagens e experiências para o público, bem como uma exploração dramatúrgica para o espaço público e a interação com as dinâmicas da região. Terá ainda uma dimensão audiovisual crucial e intensiva, desenvolvida pela Casota Collective, uma produtora de Leiria. O processo de criação arranca em maio e decorre, depois, em várias residências artísticas, durante todo o ano entre Ílhavo e Tárrega.
A Rui Paixão já lhe chamaram muita coisa: o maior palhaço português, o palhaço “selvagem”, é “o palhaço português do Cirque du Soleil”. “Huaxia”, a sua nova criação, estreia em setembro em Espanha e em Portugal em Ílhavo, no LEME, no dia 3 de dezembro.