Documentário “Marcha Sobre Roma”, de Mark Cousins, estreia nos cinemas portugueses a 26 de Outubro
A Marcha sobre Roma foi um evento significativo na história italiana que ocorreu em Outubro de 1922 e marcou a ascensão ao poder de Benito Mussolini e do Partido Fascista na Itália.
Durante a Marcha sobre Roma, dezenas de milhares de Camisas Negras, esquadrões paramilitares leais a Mussolini, reuniram-se em várias cidades italianas e marcharam em direção à capital, Roma. A Marcha foi concebida como uma demonstração de força e uma exigência de que Mussolini fosse nomeado Primeiro-Ministro, efetivamente assumindo o controle do governo italiano. Temendo uma possível guerra civil ou revolução, o rei Vittorio Emanuele III decidiu evitar um confronto e convidou Mussolini a formar um governo. Em 28 de outubro de 1922, Mussolini e os Fascistas chegaram a Roma sem encontrar muita resistência, e Mussolini foi logo depois nomeado Primeiro-Ministro.
A Marcha sobre Roma marcou o início do domínio fascista na Itália e a consolidação do poder de Mussolini. O governo de Mussolini estabeleceu assim um regime totalitário que perdurou até o final da Segunda Guerra Mundial. Este evento é um momento crucial na história italiana, pois levou ao estabelecimento de uma ditadura que teve um impacto significativo na Itália e consequências de longo alcance no cenário global, criando uma espécie de pauta que outros totalitaristas puderam usar como guia para implementar o mesmo regime no seu País, como aconteceu, por exemplo, em Portugal com Salazar.
Uma das ferramentas que permitiu a ascensão deste líder ao governo italiano sem grandes impedimentos, foi a disseminação da sua mensagem e impacto político retratado no filme “A noi! Dalla sagra di Napoli al trionfo di Roma” um documentário realizado por Umberto Paradisi. Em português, para que se entenda: “Para Nós! Da Festa em Nápoles ao Triunfo em Roma”. Este documentário tornou-se numa peça significativa da história cinematográfica italiana como o primeiro filme oficial do Partido Fascista que documenta (e manipula, como vamos descobrir depois da análise cuidada de Mark Cousins) os eventos em torno deste acontecimento.
“A Noi!” foi criado para celebrar e glorificar o regime fascista. De natureza propagandista, toma partido de um modo muito engenhoso das ferramentas do cinema para retratar um apoio aparentemente unânime do povo italiano a Mussolini e à causa fascista; e assim fazer crer todas as partes que a tomada de posse de Mussolini era inevitável. “Com amor se possível, pela força se necessário” ameaçava ele do palco que furtivamente construiu para si próprio.
O documentário de Mark Cousins, com o mesmo título, reflete sobre as técnicas de propaganda empregadas pelo regime fascista para manter e fortalecer o seu domínio sobre o poder. A sua análise das imagens de arquivo e a sua relação com o presente instável que vivemos, é essencial para entender o papel e impacto dos média no nosso quotidiano. A sua mensagem é clara, informada e urgente: cuidado! Estamos demasiado próximos do abismo, que se abrirá aos nossos pés se não impedirmos que o passado se repita.
Cem anos se passaram. Avançamos cegos e surdos perante o passado, acreditando que está demasiado longe e enterrado para que volte a ser uma ameaça no nosso presente. No entanto, enquanto nos distraímos com a constante onda de informação que nos chega à palma da mão através das redes sociais e fontes mediáticas, a Rússia avança sobre o território Ucraniano, gerando o maior confronto militar europeu desde a Segunda Guerra Mundial; Israel declara abertamente ao mundo o seu plano de exterminar o povo Palestiniano residente na faixa de Gaza, reavivando ideais que esperávamos terem morrido no bunker com Hitler; e tantos outros conflitos violentos dispersos pelo mundo impedem os povos de se libertar de governadores totalitaristas e criar a sua estabilidade social económica e política, fazendo uso das mesmas ferramentas que Mussolini, Salazar e Hitler usaram. Temos a responsabilidade, enquanto europeus, de compreender e analisar a nossa História, refletir sobre as ferramentas de propaganda e manipulação da verdade que serviram para condicionar e destruir a Europa no século passado; e, acima de tudo, unirmo-nos contra a decadência dos valores que formaram a União Europeia: liberdade, igualdade, solidariedade e justiça!
Mark Cousins convida-nos a fazê-lo em “Marcha Sobre Roma”, disponível num cinema perto de si a partir de 26 de Outubro.
Sobre Mark Cousins:
Nomeado para um BAFTA de Melhor Documentário em 2011 com o filme “The First Movie”, e vencedor de um Golden Eye no Festival de Cannes com o documentário “The Eyes of Orson Welles”; Mark Cousins, nativo de Edimburgo, é reconhecido pela sua extraordinária capacidade de documentar a arte do cinema.
Um verdadeiro amante do cinema e dos seus autores, Cousins alcançou o reconhecimento mundial com “The Story of Film: An Odyssey”, onde resume os primeiros 100 anos do cinema, inspirando o expectador com uma viagem mágica e analítica sobre o olhar dos realizadores e os seus filmes.
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