E os professores?
Acordei a pensar nisto.
E os professores, o que se pede a quem é professor, o que se exige de capacidade de adaptação, de capacidade para sem tempo e num clima de emergência fazer diferente do que sempre fez?
Não é fácil imaginar ou colocar-me na pele de muitas professoras e professores. Maltratados nos últimos anos, esquecidos bastas vezes, a ter de lidar com as aceleradas mudanças sociais em que perderam a respeitabilidade que lhes era devida, menosprezados nos seus papéis, atacados por pais e alunos e sem poder para impor uma disciplina mínima na sala de aula.
Nas últimas semanas falei de médicos, enfermeiros, auxiliares.
Mas ainda não escrevera sobre professores, uma das mais belas profissões a que se pode ambicionar. Muitas das suas reivindicações são justas – se são praticáveis ou não é um outro departamento, um outro texto que um dia escreverei. Os professores existem, são feitos de carne e de osso, têm sentimentos e todos os dias estão na primeira linha entre os que constroem o nosso futuro. Sem eles não há futuro.
E tem sido muito bom ver a forma como os professores disseram presente. Tem sido muito bom ver o modo como se têm tentado adaptar a um ensino à distância, tecnológico e que obriga a usar ferramentas que uma larga maioria certamente jamais experimentara desta forma. Provaram estar vivos. Provaram com enormíssima coragem o seu brio profissional, a sua capacidade de adaptação e a sua resiliência.
Não me esqueço também do que tenho visto na telescola. Sem tempo para serem preparados cerca de 100 professores avançaram e estão a fazer genericamente bem. Melhor do que muitos profissionais que não são capazes de ser tão empáticos ou genuínos.
E toda esta mudança foi feita num clima de instabilidade psicológica e profissional. A média de idade dos professores no ensino secundário está bem acima dos 50 anos. Muitos estão numa idade já crítica se forem contagiados. O assunto ainda não se colocou, mas estará certamente na cabeça de muitos quando voltarem a dar aulas na presença física de alunos. Como na cabeça de muitos estará também o que está em cada uma das nossas – receio, insegurança, incredulidade. Foi neste cenário que disseram presente e será pelo seu esforço e capacidade que passará uma parte importante do sucesso do regresso à vida.
Era só isto, pouco para o que desejava dizer. Se os médicos e enfermeiros ajudam a salvar vidas, professores ajudam vidas a encontrar-se com o futuro.