Entrevista. “A revista FOmE é para guardares no meio dos teus livros e fazeres colecção”

por Comunidade Cultura e Arte,    19 Dezembro, 2019
Entrevista. “A revista FOmE é para guardares no meio dos teus livros e fazeres colecção”

Por altura do seu primeiro aniversário, tivemos oportunidade de entrevistar as duas pessoas por trás da revista FOmE que se propõe a revelar muitos e novos artistas num estilo de revista mais visual, de pouca escrita e que aposta sobretudo na qualidade de fotografia e grafia. À conversa na Associação Juvenil Odisseia, no Pinhal Novo, local de nascimento da FOmE, falámos sobre as suas origens, as suas normais dores de crescimento e sobre o futuro num dos projectos mais interessantes no panorama artístico e cultural nacional.

De 14 a 22 de Dezembro, a Casa da Avenida em Setúbal recebe as comemorações referentes ao primeiro aniversário da FOmE. Com exposições dos artistas que irão constar no IV volume. A entrada é gratuita. Antes disso, tivemos oportunidade de falar com a Margarida Mata e o Pedro Cunha, as mentes por trás deste projecto.

Como é que começou a revista?
Pedro: Eu sou designer gráfico e sempre fui freelancer e há alturas onde temos mais trabalho, outras menos, então houve uma altura sem trabalho nenhum onde fui obrigado a apanhar o primeiro emprego que me apareceu, na Continental, na fábrica. Estive na linha de montagem quase um ano com contratos mensais renovados automaticamente e um dos dias saio às três, e às três e cinco recebo um telefonema a dizer que não precisaria de voltar amanhã. Nesse período começámos [Pedro e Margarida] a falar sobre o que ia ser da nossa vida pois ia ser menos um ordenado. Eu tinha respondido há pouco tempo a um anúncio de uma revista ou jornal que ia haver em Palmela e lembro-me de fantasiar ao pedir-lhes uma página de artistas emergentes e coisas do género. A Margarida também já tinha participado numa revista que era, de nome, “Revista”, então começámos a falar da possibilidade de ter uma revista que seria para alimentar uma possível empresa minha onde podia mostrar o meu trabalho, como designer, aquilo tornar-se-ia apelativo e poderia com isso receber clientes, ou seja, era uma maneira de trazer clientes. Empresa ainda não há [risos] mas surgiram alguns trabalhos da revista e o feedback tem sido bom. Foi mais ou menos assim que começou. Tínhamos noção que de há uns anos para cá que havia muitos projectos, muitos sítios e muitas pessoas interessantes mas às quais não era dado o verdadeiro apoio, e também sentimos que a Margem Sul está muito desconexa. As três grandes cidades, Setúbal, Barreiro e Almada não têm grande ligação. Setúbal – e digo isto com todo o amor – é um buraco negro, onde nada sai de lá. São muito bairristas, muito do sítio. Conhecemos uma quantidade de pessoas com o 265 tatuado, o código postal. Gostam mesmo muito do sítio mas não saem de lá. Barreiro tem o seu próprio ecossistema e está muito ligado a Lisboa e Almada em parte. Barreiro agora com o facto dos barcos serem super rápidos e estar lá o estúdio do Vhils tens pessoal de Lisboa a ir lá com a maior facilidade. Foi basicamente assim que começou. Dar apoio aos artistas, ligar a Margem Sul e tem sido esta luta. Planeámos logo tudo. Seria uma revista trimestral, baseada nas revistas de skate dos anos 90, ou seja, fotografias de grande qualidade, uma coisa muito visual, com muita fotografia, pouco texto, com qualidade do papel e construção boa, diferente, daí o nosso formato ser diferente, quadrado, com papel vegetal à volta. É uma revista que se destaca logo das outras, tanto pelo formato como pelo papel vegetal à volta.

E o teu background, Margarida?
Margarida: Eu tirei Belas-Artes. Tirei Escultura, era extremamente infeliz no curso [risos] e nessa altura fiz um estágio no Museu de Arte Antiga e decidi fazer Mestrado em Museologia. Trabalhei em museus ainda algum tempo. Passei por alguns daqueles mais fixes tipo Museu das Comunicações, Museu do Chiado, Museu de História Natural, portanto, passei por alguns até que houve uma altura em que fiquei com menos trabalho, pois és freelancer, e estás a saltar de um para o outro e fui assistente da Joana Vasconcelos durante um ano até ir para o Teatro O Bando durante cinco anos e na altura da FOmE pedi uma licença sem vencimento, estive a trabalhar com outra companhia ao mesmo tempo mas basicamente estou entre a mediação e a produção. Tem sido isso a minha vida.

Actualmente são já uma associação. Como foi esse passo da revista surgiu?
Pedro: O primeiro ano foi um pouco o ano teste. No primeiro volume, todas as pessoas que entram nós conhecíamos pessoalmente. Costumamos dizer na brincadeira que qualquer pessoa dessas podia ir lá a casa jantar. Tentámos arriscar mas não arriscar na estupidez. É um crescimento natural, mas que já estava programado. Não temos qualquer tipo de apoios. A revista é impressa e esse valor é pago pelo nosso bolso, logo à cabeça, e é essa a forma de termos algum tipo de apoios camarários, etc.

Margarida: Enquanto projecto acho que planeámos logo que a revista poderia ter associado algum trabalho de produção e programação de eventos. Isso já estava mais ou menos pensado, o que nunca achámos é que seria tão rápido. Nós fizemos o primeiro volume, tivemos um pouco de medo em termos de legalização e até pedimos apoio jurídico para perceber que estávamos dentro das normas. O que acontece é que quando lançamos o segundo volume temos vários convites para exposições e foi aí que criámos o projecto do “Gabinete de Curiosidades”, paralelo à FOmE, e que são os projectos de exposição, e isso fez-nos pensar que se calhar isto não é só uma revista. Se calhar tem uma orgânica diferente e isso interessa-nos muito mais, ou interessa-nos ter como paralelo. Ou seja, temos a revista como base, mas aquilo que vais fazendo em paralelo é uma forma de tu trazeres de uma maneira mais directa os artistas para o público, através de quem pode ir a esses espaços, ver uma exposição ou um concerto. Tudo isso foi fruto das oportunidades que surgiram.

Pedro: Tudo isso até começou na ADAO [Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios, no Barreiro], onde explorámos uma sala, e a Margarida lembrou-se que podíamos começar um Gabinete de Curiosidades, baseado nos gabinetes do século XVII, que era o pessoal rico, que vivia em palacetes, com salas enormes e os enchia com artefactos, etc, do resto do Mundo. Ora, na altura não se viajava, praticamente. Não se saía da aldeia. Decidimos pegar um pouco nesse conceito e pegar numa sala, sempre ela diferente, só com os artistas FOmE. Por exemplo, onde estivemos, na ADAO, esteve sempre a dar música, do Jibóia, a música que o pessoal escolhia para acompanhar os artigos. O objectivo era aumentar esta rede.

Margarida: Temos tentado não tropeçar. Óbvio que há artistas com quem queremos trabalhar mas tentamos não desvendar antes da revista sair. Os artistas desta próxima revista estão contactados desde Junho, e pensámos algumas vezes o quão bem ficava um quadro de uma artista da próxima edição numa exposição, mas tentamos não desvendar. A questão da Associação, de repente, é também tu já não estares sozinho, entendes? Já não somos só os dois a pensar nisto, como por exemplo a Inês Pucarinho, que esteve connosco no primeiro número que também pensa nos projectos ou nos recomenda artistas. Temos também o João Fortuna na mesma situação, que nós não conhecíamos antes do projecto e que de repente nos traz inputs muito importantes em termos artísticos. De repente vimos que já não estávamos sozinhos, já não era uma coisa bicéfala, então era algo que precisávamos formalizar e também ter um gesto político de te mostrares como colectivo. Óbvio que continua ancorado em nós os dois, mas não estamos sozinhos e isso é importante.

O vosso objectivo era dinamizar aqui na Margem Sul, mas vocês não se cingem só aos artistas locais.
Pedro: Sim, no primeiro número inclusive tivemos um artista que é de Lisboa mas está a morar no Porto há muitos anos. Queremos dar maior foco à Margem Sul. Para já somos inflexíveis a que os lançamentos sejam na Margem Sul. Já tivemos no segundo volume pessoas a dizer “ah, em Lisboa…” e nós sabemos que provavelmente teríamos mais pessoas, mas isso vai contra o que definimos inicialmente, mas não colocamos de parte.

Margarida: O momento do lançamento é o momento em que mostras o que andaste a fazer durante estes três meses, os artistas que queres mostrar, etc. Se tu a primeira vez que mostras é em Lisboa ou no Porto o que é que estás a fazer? A ir contra aquilo que defendemos acerrimamente, que é uma descentralização das artes. Os focos grandes nunca estarão aqui, mas lutamos para que alguns hot spots possam passar a estar, e que tu percebas que há coisas muito boas a acontecer aqui, elas estão é debaixo do tapete e não nas galerias em Lisboa. Lançar em Lisboa não, mas também não nos recusamos seja ao que for, porque aí também estávamos a negar o princípio, e o princípio é nós mostrarmos estas pessoas em qualquer sítio.

Vocês vão fazer curadoria na Lourinhã, como surgiu?
Margarida: Um colega meu da faculdade, que está à frente desse projecto, soube da FOmE e mostrou-nos a programação que tinha para o resto do ano, então nós criámos uma programação em específico para eles, com base nos nossos artistas. Tudo isto porque estamos a tentar arranjar dinheiro para dois projectos aqui na zona de Palmela/Pinhal Novo com base nos artistas FOmE. É com base num desses projectos, que se chama “Acordar Espaços”, que temos estado a trabalhar. Se tu conseguires fazer isto noutros sítios talvez consigas mais dinheiro e mais meios para trazer estes projectos para cá.

Pedro: E é uma forma de mostrares que está a funcionar. Com o “Gabinete de Curiosidades” sabíamos que iria ser um grande investimento sem retorno nos primeiros anos, só que é mesmo muito pesado estares a trabalhar para uma coisa constantemente e não teres algum tipo de retorno ou no mínimo o breakeven. Fizemos em pouco tempo, 9 meses, 11 exposições e 9 concertos, sem qualquer tipo de apoio. Torna-se impossível continuar com este modo. Quando começámos a trabalhar nisto a Margarida tinha isenção de horário e vamos passar a estar os dois a full time, então temos de pensar em fazer estas coisas mais fortes mas que nos ocupam menos tempo, e não perdermos dinheiro com isso. No próximo ano vamos ter dois tipos de eventos, o Acordar Espaços e o outro ainda não tem nome.

Do que irá tratar o Acordar Espaços?
Margarida: O Acordar Espaços é muito parte de uma ideia de pensar a Vila do Pinhal Novo com os artistas da FOmE. É uma vila super recente, portanto não tens muitos espaços históricos, consagrados, etc, mas tens espaços muito importantes que as pessoas se lembram deles de uma determinada forma. Dou-vos o exemplo da estação, então a nossa ideia é nos espaços que não estão a ser programados ou aproveitados, e aproveitá-los para apresentar artistas. Ou o antigo espaço da GNR, onde queremos levar a bailarina Inês Oliveira que tem um espectáculo sobre a violência. Temos também a proposta de ter um concerto na plataforma da estação, ou um workshop de cerâmica numa padaria muito antiga. O objectivo é aproveitar estes espaços para ter programação. Quando nos têm pedido propostas temos aproveitado outras versões deste projecto.

A FOmE tem tido cores diferentes nas suas edições. Porquê e como é que surgiu?
Pedro: O trabalho da primeira edição foi um trabalho recusado [risos]. A Margarida adorou aquela ilustração e isto passou. Ficou guardado no computador. Quando começámos a falar sobre isto veio-me à cabeça essa ilustração e só com o azul por trás. Daí surgiu logo ideias para as novas capas sempre com base numa única cor. A última capa foi problemática, demorou muito tempo a fazer. A ideia original que eu tinha era diferente. As outras edições foram mais orgânicas. Tivemos azul, amarelo, verde, a próxima vai ser preta, simbolizando um bocado o conteúdo da revista. A próxima deverá ser uma cor mais alegre, e sempre com base numa ilustração que eu faço. A cor é uma forma de identificação da própria revista. Temos stickers.

Quando abordam o número da revista pensam numa história ou num conceito?
Margarida: Esse aspecto está em crescimento em nós. Pensámos que a escolha ia ser mais orgânica. O que aconteceu no segundo volume é que ficamos com algo entre o animal e o geral. Na terceira já tivemos um chapéu, com foco nos colectivos, e nesta não tens um tema, o que tens é uma ambiência. Vais agarrar na revista e o que queremos é que as pessoas sejam levadas para um ambiente e forma de estar. A escuridão e a mesma trabalhada pela cor e pelo tema.

Também tentam conjugar os artistas dentro desse tema?
Margarida: Sim. O que acontece com a música é que queremos não levar apenas música, mas sim músicos que tenham a capacidade para construir plásticamente e é esse lado que tentamos mostrar.

Pedro: Queremos também ter algum tipo de consciência. Neste próximo número a banda são os Farsa, que têm uma consciência ambiental, política e cultural – eles têm um manifesto. Cantam em português, as músicas são fortes politicamente. Queremos sempre mais alguma coisa dos artistas musicais. No segundo volume tivemos o Jibóia, que é um caso especial. É nosso amigo, ensinou-me a tocar guitarra, tem “milhões” de projectos, é designer… Um dos princípios que tínhamos para apresentar os artistas era também a dualidade, o facto dos artistas fazerem mais coisas.

Margarida: Salvo raras excepções, apenas queremos inéditos nas nossas revistas. Ou foram produzidos para a revista ou nunca foram mostrados. Queremos que os artistas criem para a nossa edição. Sinto que nos temos mais centrados nesta questão de ter algo novo para nós. Salvo raras excepções temos ligação com todos os artistas. Geralmente vamos a todos os estúdios, acompanhamos a produção dos trabalhos.

Pedro: Nós vamos ter com os artistas. Vais a um café, uma cerveja, um jantar e daqui já nasceram mesmo amizades. O João Fortuna que já faz parte da associação é um desses casos em que não conhecíamos, fomos à ADAO, convidámos a ir a uma nossa exposição, ele gostou e fomos falando e actualmente é mesmo nosso amigo. Ou o Tiago, mandou-nos uma mensagem a dizer que nasceu o filho então fizemos um cartãozinho a dizer que o filho era o sócio honorário. Há esta ligação. Queremos acompanhar os artistas. É um trabalho contínuo e queremos continuar com esta ligação muito pessoal. O que se ganhou mais neste ano de FOmE foi saber que existem pessoas boas, trabalhar com pessoal fixe. Regra geral até podes ter dez páginas, e podes ter as dez páginas em branco, mas tens de me justificar, tem de haver um conceito por trás das páginas em branco. Damos o maior à vontade. Não queremos que as pessoas digam que entraram na FOmE, queremos que digam que fizeram parte da construção daquele volume da FOmE, o que é completamente diferente.

Margarida: Até porque há artistas que acabam por influenciar todo o volume, foi pela ambiência negra dela que idealizámos todo o resto. É através dela que criámos o núcleo para o próximo número. O que não quer dizer que seja a principal ou isso. Quer dizer que foi através dela que criámos todo o pensamento à volta deste número, esta lógica do escuro na revista.

Este novo lançamento vai sábado, dia 14, na Casa da Avenida. O que vamos ter por lá?
Pedro: O que já tivemos nos outros lançamentos da FOmE. Vamos ter o concerto dos Farsa a fechar. O que vamos ter na Casa da Avenida é o que fizemos nos outros lançamentos. Atribuímos uma sala ao artista e ele pode meter lá a exposição, pode ser o que tem na revista, pode ser uma continuação, pode ser um novo trabalho… é à vontade. Cada sala tem um artista, é como se estivesses basicamente a passear dentro da revista. Digo sempre para as pessoas levarem uma revista e acompanharem as exposições pois há coisas que só consegues acompanhar ou perceber com esse auxílio. Por exemplo, neste número teremos o Jorge Charrua, que é pintor e está muito ligado à pop culture, é um nerd. Fomos ao estúdio dele e tem umas quatro Megadrives e caixas e caixas de jogos. Vai ter quadros, fotografias, um vídeo da arte dele e uma consola, retro, para o pessoal poder jogar. O nosso objectivo é que os artistas estejam mesmo à vontade. Têm o seu cantinho, a sua sala, e lá fazem o que quiserem.

Vocês acreditam no formato papel que se está a perder todos os dias?
Margarida: Acreditamos na colecção e na ideia de coleccionar. Dizemos que o uso de papel está em declínio mas ao mesmo tempo a colecção está a subir, há mais coleccionáveis. Não quer dizer que não venhamos a ter componentes digitais.

Pedro: A ideia da revista não é daquelas em que guardas na sala, um dia levas para a casa de banho, fica húmida e deitas fora. A revista é para guardares no meio dos teus livros e fazeres colecção. Daqui a uns anos teres ali todas as cores das edições. A ideia é também ir um bocado contra-corrente, mesmo com a ideia de colecção. A nível pessoal vai desde tudo, desde jogos de cartas até livros. Gosto mesmo de ter o papel.

Qual o futuro da FOmE?
Margarida
: Acho que se está a definir melhor agora. O campo editorial é a base de tudo, mas cada vez sentimos mais que que passará pela programação de eventos, com base nos artistas da FOmE, do que apenas ter a revista. Sentimos que estamos a crescer para isso e que as pessoas estão a vir ter connosco nesse sentido.

Pedro: Queremos mostrar, queremos que as pessoas frequentem os espaços onde fazemos as apresentações e que sigam os artistas. Há de mudar alguma coisa. Não é por acaso que estes projectos não duram muito tempo.

Margarida: Adaptar de alguma forma. Não quer dizer que deixemos os nossos trabalhos e passemos a viver da FOmE. Neste momento estamos a fazer algo a que nos opomos, que é ter os artistas muitas vezes a trabalhar de borla. Isso tem de acabar. Algumas coisas já conseguimos pagar de forma simbólica, mas o objectivo é capacitar o projecto para conseguir pagar pelos trabalhos. Queremos combater a precariedade de forma activa. Para mim e para a Margarida é mais importante para nós que os artistas recebam do que nós, nem que seja de forma simbólica. É por isso que agradecemos muito aos artistas que entraram nestas actividades no nosso primeiro ano. Muitas das vezes até nos cediam os quadros, a nossa casa parecia um atelier [risos]. Queremos consolidar o trabalho que temos estado a fazer. Queremos estar mais fixos nas localidades, mas ao mesmo tempo se há um artista do Porto ou da Nazaré, e que tem dificuldade nalgum aspecto, nós vamos lá e ajudamos.

Entrevista feita por João Estróia Vieira e Pedro Piedade

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados