Entrevista. Alex Francis: “Já tive experiências inesquecíveis com uma audiência de 30 pessoas num clube minúsculo e numa arena com uma plateia de 3 mil”

por Maria Moreira Rato,    22 Abril, 2020
Entrevista. Alex Francis: “Já tive experiências inesquecíveis com uma audiência de 30 pessoas num clube minúsculo e numa arena com uma plateia de 3 mil”
Alex Francis

Aos 30 anos, afirma-se como uma estrela em ascensão resultante da fusão entre a soul, o pop e o rock. Entre o crescimento da paixão pela música em Hitchin e os passos consolidados no British & Irish Modern Music Institute (BIMM), onde apreciou a primeira arte enquanto negócio e compreendeu as complexidades inerentes à formação de um artista, trabalhou num supermercado e foi o opening act de artistas como os Stereophonics ou Alanis Morissette. Com o irmão mais novo, James Bay, só discorda naquilo que diz respeito a uma das paixões que partilham para além da música: o futebol. Em setembro passado, realizou uma tour de cinco datas na Alemanha e, dessa experiência, nasceu a EP [extended play] Live In Munich, 2019. Numa conversa descontraída com a Comunidade Cultura e Arte (CCA), explicou que tem um grande objetivo: passar o resto da vida a fazer aquilo de que mais gosta e, com isso, ser capaz de ter na música não só um grande amor como um ganha-pão. Ei-lo: Alex Francis.

“Aquilo que mais me fascina no meu trabalho constitui o conjunto de diferenças existentes em cada concerto” começou por contar à CCA, acrescentando que “nenhum concerto é igual a outro, ainda que se atue no mesmo local noite após noite”. No currículo, apresenta  aberturas de concerto para Sting, espectáculos em nome próprio no Reino Unido e na Alemanha assim como uma atuação no SXSW [South by Southwest) em Austin, no estado norte-americano do Texas. O percurso de Alex Francis não começou agora mas sim nos pequenos estabelecimentos, como pubs, que o receberam quando ainda não tinha a certeza do rumo que tomaria: “Nutro uma enorme gratidão por todas as pessoas que não se importaram com a quantidade absurda de barulho que fiz nos primeiros dias”, disse entre risos.

Alex Francis

Nos órgãos de informação internacionais, as opiniões convergem numa linha de pensamento. “É uma mistura algures entre Ray LaMontagne e Allen Stone. A voz é emocional e cativante” escreveu o site de crítica musical norte-americano CHILL FLTR enquanto a CLASH Magazine o descreveu como “silenciosamente inspirador”. À cidade-berço, Hitchin, agradece “a personalidade própria, a atratividade para quem desenvolve diversos estilos de vida” e o facto de ter constituído “o cenário perfeito” para que abandonasse a “familiaridade” do meio que já tão bem conhecia. Durante o Ensino Secundário, na Hitchin Boys’ School, foi membro da banda Shakey Jake e, apesar deste grupo ter sido “um acidente” por nem Francis nem os seus amigos terem “objetivos definidos para além de fazer música”, em retrospetiva acredita que cresceu “do ponto de vista da composição” para que tivesse autoestima e coragem suficientes para “criar e mostrar ao público” o material que compunha e não continuar a ouvir os seus versos cantados por outros aspirantes a artistas.

Em 2016, contou com o apoio da revista Time Out. Ganhando um impulso por meio do programa Rising Stars, apercebeu-se de que começava a ser denominado por “uma das estrelas de amanhã” e não esquece a influência positiva que o órgão de informação anteriormente mencionado exerceu na sua vida: “Foi um apoio maravilhoso. Ao promover a minha música, comecei a angariar ouvintes fiéis que ainda hoje acompanham a minha evolução”, confessou antes de traçar diferenças entre os concertos mais intimistas e aqueles que ocorrem ao ar livre. “Já tive experiências inesquecíveis com uma audiência de 30 pessoas num clube minúsculo e numa arena com uma plateia de 3 mil”, avançou não deixando de constatar que “a adrenalina sentida” quando se expressa “nunca muda”.

Naquilo que concerne os efeitos menos positivos da notoriedade e do estatuto de “famoso” que se possa acumular, Francis é assertivo: “Quando consolidamos a nossa presença como figuras públicas, acabamos por atrair mais interesse e, obviamente, as pessoas sentem curiosidade e querem conhecer detalhes do nosso foro privado” admitiu o cantor que tomou uma decisão a priori, antes de pisar palcos como cantor e compositor soul-pop: “Decidi que as minhas experiências, e as dos meus familiares e amigos, influenciariam as mensagens que transmito nas minhas músicas” explicitou ao transmitir também que o seu objetivo primordial passa por “transportar a realidade e os sentimentos verdadeiros” para as suas criações.

Alex Francis

“Há coisas aleatórias que me inspiram. Temas como o amor, a perda, a felicidade, a luxúria ou o desejo surgem constantemente na minha mente” revelou o britânico para quem Foy Vance, Theo Katzman, Michael Jackson, The Rolling Stones, Aretha Franklin, The Beatles, Leon Bridges, Dawes, John Mayer, Carole King e Marvin Gaye constituem algumas das maiores influências enquanto artista. Porém, lançámos-lhe um pequeno desafio. Se só pudesse colaborar com um músico, quem escolheria? A resposta não foi imediata. “Isso é injusto [risos], é sempre difícil realizar este combate interior. Mas diria o Ray LaMontagne [cantor e compositor norte-americano de música folk]” destapou entre indecisão, “porque adoraria escrever com ele, perceber o seu processo ou pura e simplesmente assistir ao processo de composição e aprender com o mesmo”. A razão tem que ver com “as músicas profundas e o entendimento daquilo que explora tanto interior como exteriormente para obter versos tão fortes”.

Em setembro do ano passado, realizou uma pequena tour por cinco cidades alemãs distintas. Uma delas, Munique, que arrecadou o lugar de musa no lançamento de uma EP [extended play] dedicado ao concerto que recebeu. “A tour foi uma experiência incrível até porque nunca tinha atuado em solo alemão em nome próprio. Estava muito entusiasmado!” começou por adiantar o cantor de singles como Make Believe ou Whatever Happened. “Gravámos os concertos e, ainda que tenha adorado todos, houve uma certa energia que se destacou no espectáculo de Munique. Já tinha decidido lançar algo relativo à tour e, por isso, Munique acabou por ser a escolha certa!” concluiu Francis que integrou quatro músicas na EP disponível no Spotify desde o dia 3 de abril.

Para além de Make Believe [2017], Whatever Happened e Desire [2019], Francis decidiu interpretar Human Nature [Thriller, 1982] de Michael Jackson e incluí-la igualmente na EP. Mas, que significado tem a canção para o jovem artista? Terá realizado uma cover da canção por Jackson representar uma das suas grandes inspirações ou pretendia que a mesma ganhasse uma “nova voz”? “Essa é uma boa pergunta. É uma mistura de ambos. A obra do Michael [Jackson] sempre me influenciou e moldou a forma como me expresso e crio. A Human Nature nunca deixará de ter uma vibração especial e mágica” declarou o britânico antes de esclarecer que analisa regularmente a estrutura, o arranjo e a letra do êxito que aborda o encanto que a cidade de Nova Iorque suscita nos visitantes misturado com a atração romântica que faz, igualmente, parte da natureza humana. “Tentei a minha sorte. Adaptei-a à minha forma de fazer música e senti-me bem com isso. Toquei para audiências novas durante a tour e esta foi uma forma de ancorar o meu ADN musical de um modo mais consistente nas setlists” contou à CCA.

 

Mas os espectáculos na Alemanha não consolidaram somente o lugar de Alex Francis nas rádios alemãs. “Fizemos uma campanha que se tornou útil no sentido de captar ouvintes. As minhas músicas foram incluídas em várias playlists do Spotify, isto é, a utilização de estratégias de marketing para promover a tour acabou por se transformar numa “manobra” que me ajudou a desenvolver uma conexão com a audiência a um nível mais pessoal, algo que sempre ambicionei” referiu não esquecendo a captação de ouvintes em locais onde nunca atuou: “É uma vantagem que prova o poder da era digital em que vivemos”.

Atualmente, Francis trabalha com os compositores Mark Taylor (já trabalhou com personalidades como Diana Ross, Rod Stewart ou Tina Turner) e Patrick Mascall (colabora ativamente com artistas como James Morrison, The Vamps ou JP Cooper). Poderemos ouvir músicas novas brevemente? E essas composições terão nuances de outros estilos musicais? Francis não escondeu a chegada de novidades a curto prazo: “Tenho uma química incrível com o Mark e o Patrick e isso permitiu que tenhamos criado um extensivo banco de material durante um período de tempo relativamente curto! Podem esperar novos temas e, sem dúvida, estilos que influenciam o meu próprio som. Orgulho-me daquilo em que temos estado a trabalhar”.

“Não compito com outras pessoas, muito menos com o meu irmão. Ele está orgulhoso de mim, assim como estou dele” realçou no decorrer da entrevista à CCA. A relação de Alex Francis e James Bay [autor de êxitos como Hold Back The River ou Let It Go] pode ser descrita como “tensa no campo de futebol, fácil na vida”. Tal como o irmão mais novo, arrecada uma legião de fãs na Europa e não exclui Portugal de uma próxima tour: “O meu guitarrista [Gui Rezende] viveu em Lisboa durante dez anos, logo, já sei bastante sobre a cidade! Tenho o sonho de tocar no NOS Alive, não só porque é reconhecido internacionalmente, mas porque seria uma excelente plataforma de lançamento para mim no país”. Por outro lado, destacou o crescimento de ouvintes portugueses nos últimos meses através da cover de Human Nature: “Assim que a pandemia [coronavírus] desaparecer, espero atuar em Portugal!”.

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Entevista de Maria Moreira Rato.

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