Entrevista. Anne Applebaum: “Donald Trump tornou-se um modelo para os líderes iliberais”

por Lusa,    6 Outubro, 2024
Entrevista. Anne Applebaum: “Donald Trump tornou-se um modelo para os líderes iliberais”
Anne Applebaum / Fotografia via Wikimedia Commons
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A jornalista e historiadora Anne Applebaum defende que Donald Trump tornou-se “um modelo para os líderes iliberais” do mundo e que a sua reeleição como Presidente poria em causa a liderança norte-americana entre as democracias.

Donald Trump “é alguém que desrespeitou abertamente as instituições democráticas nos Estados Unidos e tentou alterar ilegalmente o resultado das eleições de 2020”, disse a jornalista norte-americana em entrevista à Lusa a partir de Nova Iorque.

Applebaum alerta que as próximas eleições presidenciais, no dia 05 de novembro, irão ser decisivas para determinar “se os EUA continuam a ser um líder no mundo democrático”, se “continuam a fazer parte da NATO” e se “são capazes de liderar uma coligação para enfrentar a cleptocracia”.

Autora do novo livro “Autocracia, Inc. – Os ditadores que querem governar o mundo”, Anne Applebaum é historiadora e jornalista norte-americana, vencedora do Prémio Pulitzer em 2004. Applebaum é ainda redatora da equipa do The Atlantic e membro sénior do Agora Institute da Universidade Johns Hopkins, onde co-dirige um projeto sobre a desinformação do século XXI.

Capa do livro “Autocracia, Inc. – Os ditadores que querem governar o mundo”

Para a autora, os candidatos às eleições norte-americanas – o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris – apresentam “diferenças acentuadas” face ao papel dos Estados Unidos em dissuadir o branqueamento de capitais, contra a emergência da violência e ainda o papel das instituições europeias.

“Existe um candidato que despreza abertamente a Europa, que não gosta dos aliados e das alianças europeias e que pensa que a Europa é um fardo para os Estados Unidos; e outro, Kamala Harris, que ainda quer que os Estados Unidos sejam um líder na Europa e no mundo democrático” reiterou.
As eleições estão marcadas para 05 de novembro e vários estados já iniciaram o processo de voto antecipado e por correspondência.

O agregado das sondagens da plataforma FiveThirtyEight dá a vice-presidente Kamala Harris como líder, com 2,7 pontos percentuais de vantagem sobre Trump a nível nacional.
A relação próxima do ex-presidente americano com a Rússia e o atual mundo autocrático advém, adiantou Applebaum, de uma “relação financeira muito longa”, nomeadamente no imobiliário, sendo mantidos em segredo os nomes dos compradores de imóveis pelos quais Trump encaixa milhões de dólares.

A autora afirmou ainda que a principal fonte de rendimento do candidato republicano, associada ao seu modelo de negócios, passa pela venda dos seus condomínios nesses países, “de maneiras que indicam que podem estar ligados ao branqueamento de capitais”.

“Não há dúvida nenhuma de que ele tem uma dívida para com esse mundo e não parece ter qualquer interesse em contradizê-lo, por isso não é alguém que vá dizer que é altura de acabar com as empresas de fachada ou que é altura de acabar com o dinheiro ‘offshore’ e com os paraísos fiscais ‘offshore’”, reiterou.

Sobre a invasão da Rússia à Ucrânia, num contexto “em que se sabe que a Rússia está a construir campos de concentração na Ucrânia, tortura e prende ucranianos e raptou cerca de 20.000 crianças ucranianas”, a autora salienta que a indiferença de Trump é “indicativa de uma forte atração”.

No que diz respeito à interferência estrangeira no domínio da desinformação durante o período de campanha, a autora refere que não se trata apenas da difusão de informações que manipulem os americanos, mas sim o facto de os russos trabalharem “diretamente com a extrema-direita americana”.
Esta operação concretiza-se no financiamento direto russo a grupos de ‘YouTubers’ e influenciadores com centenas de milhares de seguidores, cujas plataformas são utilizadas para amplificar os extremos norte-americanos.

“Os russos criaram e construíram este sistema de indignação e extremismo que encontramos especialmente nos EUA, mas penso que o podemos encontrar em todos os países europeus e que agora fazem parte do nosso sistema político”, disse.

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