Entrevista: Elisa Rodrigues fala sobre o novo disco ‘As Blue as Red’
A carreira musical de Elisa Rodrigues tem vindo a desenvolver-se desde o início desta década, quer a integrar conjuntos de outros artistas (Rodrigo Leão ou os britânicos These New Puritans), quer a lançar o seu próprio trabalho – o primeiro disco Heart Mouth Dialogues, composto por versões de outros artistas, contou com a colaboração do virtuoso pianista Júlio Resende. Na altura em que acompanhou These New Puritans, chegou a ser erroneamente apelidada de fadista – ideia essa facilmente dissipada pela sua voz aveludada, herdeira do jazz. Tendo gozado de um quase permanente estatuto de revelação ao longo dos últimos anos, 2018 avizinha-se como o ano da sua consagração, ao lançar o primeiro álbum de originais, As Blue As Red.
Elisa respondeu a algumas perguntas da Comunidade Cultura e Arte, maioritariamente sobre o disco saído há meras semanas atrás, passando também pelo seu percurso, escolhas criativas e levantando o véu sobre o concerto de apresentação do disco, marcado para o dia 24 de Maio, no Capitólio, em Lisboa.
A tua carreira já vem durando desde há algum tempo, mas só agora chega o teu primeiro álbum de originais. Sentes que é uma espécie de novo início?
Sinto que sim. Especialmente porque se passaram sete anos desde o meu último disco em nome próprio. Cresci muito em todos os sentidos.
O disco vai bem além do jazz tradicional. Quais foram as tuas fontes de inspiração para este As Blue as Red?
A minha maior preocupação era a de escrever canções. Não pensei demasiado em que tipo de canções, se seriam ou não jazz. Mas ouvi muitos blues, e alguma folk. Passei muito tempo a namorar o Raising Sand, do Robert Plant e da Alison Krauss, e o The Living Road da Lhasa de Sela; é bem possível que se isso se sinta, especialmente no tipo de instrumentos e timbres.
A primeira canção, “Just Start a Fire” tem uma sonoridade inesperadamente forte. Vem de um lugar de revolta?
Posso dizer que sim. Mas de revolta e paz ao mesmo tempo. Vivi uma situação extremamente difícil que me levou a esse ponto. Esta é uma canção de força que fala da importância de não haver nada realmente importante. Somos tudo e não somos nada. Para mim, essa é a beleza da vida e a força que realmente nos move.
Como foi trabalhar com a Luísa Sobral? Porquê a escolha dela para a produção do disco?
Foi uma feliz ideia do meu manager, que sabia o tipo de disco que eu queria fazer e que sabia também que a Luísa tinha o desejo de se estrear como produtora. Fez sentido às duas de imediato. Quem ouvir o disco conseguirá sentir a maneira como nos fundimos de forma muito tranquila e natural. Foi um verdadeiro prazer trabalhar assim.
De onde vem a banda que toca contigo neste álbum? Já tinhas colaborado com eles antes?
Bem, eu já os conhecia a todos! Mas já tinha feito bastantes concertos com o Mário Delgado em formato trio com o Pedro Vidal e já tinha participado num disco do trio de jazz do Carlos Miguel: Kolme. Em comum com o António Quintino tive os workshops de jazz que me levaram a esta vida e chegámos a tocar uma ou outra vez juntos com o Júlio Resende. O Luís Figueiredo conhecia apenas como amigo e talento.
Por que escolhes cantar em inglês?
Porque me é, por enquanto, mais natural escrever assim. Talvez por vir do jazz, em que o inglês é a língua-mãe. Para além disso, penso em ter um disco com potencial para internacionalizar e, não sendo world music, o inglês é importante.
O álbum inclui também duas canções em português [“Vai Não Vai”, “Pontinho”] – que ainda por cima ocupam posições marcantes no álbum (meio e fim) – qual a história por detrás delas? Por que decidiste incluí-las?
Quando convidei o Pedro da Silva Martins e a Luísa Sobral para me escreverem uma canção, não lhes pedi que fosse em inglês. Recebi as canções e apaixonei-me. Tive a certeza imediata de que as queria incluir e não me preocupei com mais nada! Até porque gosto bastante de cantar em português, o português nunca foi um problema para mim.
Em retrospectiva, de que forma a colaboração com os These New Puritans moldou o teu percurso musical?
Eu penso que, musicalmente, tudo o que evoluí com eles não está presente de forma visível neste disco porque são universos mesmo muito diferentes. No entanto, acredito que tudo o que faço se entranha na pele e passa a ser meu. Não seria quem sou, nem musical nem pessoalmente, sem as experiências que já tive.
Que música tens ouvido que recomendes, contemporânea ou não?
Recomendo vivamente os dois discos que referi como referências para este trabalho [Raising Sand, do Robert Plant e da Alison Krauss, e The Living Road da Lhasa de Sela].
O que podemos esperar dos concertos de apresentação do disco?
Podem esperar um palco cheio de pessoas com amor à música e a fazer música com muita garra e coração. Os meus concertos sempre foram intensos e muito sentidos, este não vai ser exceção!