Hotel Quartet: “O Fado comunica emoções e encontrámos uma forma própria de as comunicar”

por Linda Formiga,    27 Novembro, 2018
Hotel Quartet: “O Fado comunica emoções e encontrámos uma forma própria de as comunicar”
O Fado Também é Nosso

Começou ontem, dia 26 de Novembro, no Capitólio em Lisboa, o ciclo “O Fado também é nosso”. Depois de Ângelo Freire, um talento na guitarra portuguesa, ter subido ontem ao palco, é hoje a vez de Hotel Quartet se estrear.

Hotel Quartet é o quarteto de cordas constituído por Maria da Rocha (1.º violino), Denys Stetsenko (2.º violino), Bruno Silva (viola d’Arco) e Válter Freitas (violoncelo) formado originalmente para acompanhar Rita Redshoes na Tour “Her”. Com um espectáculo original dedicado às raízes portuguesas, revisitando vários clássicos do fado e guitarradas, não só com arranjos próprios como ainda a partir de consagrados compositores portugueses, numa perspectiva contemporânea. Ana Bacalhau, Marco Oliveira, Pedro Jóia e Rita Redshoes são os convidados especiais deste concerto.

Tivemos oportunidade para falar com os membros de Hotel Quartet para percebermos o que podemos esperar para a noite de hoje, 27 de Novembro.

Nos últimos anos temos assistido a um renascimento e a reinvenções do fado. Reinventar o Fado é a melhor forma de lhe prestar homenagem?

De facto, de forma a que uma tradição se mantenha viva existe a necessidade, por um lado, de investigar a tradição, conhecer os nomes que marcaram gerações e de que forma foram originais ou mostraram uma identidade no seu tempo, tornando certos nomes mais que outros, imortais. O Fado como fenómeno social, intimista, perante uma comunidade restrita é uma situação a ter em conta quando falamos de fado. No entanto, quando o fado passa para um palco, existe a meu ver, sempre, a necessidade de o re-inventar, pois o simples facto de ser um espectáculo, exige repensar a apresentação tendo em conta a intimidade e intensidade que um palco proporciona em relação a, por exemplo, uma casa de fado.

Reinventar o Fado tem vindo a ser feito das mais variadas formas ao longo dos tempos. Desde cruzamentos com outros estilos musicais à mudança da sua instrumentação original. De facto, tocar temas com a formação de quarteto de cordas é algo em si já diferente. No entanto, em pesquisas e experiências anteriores, muitas vezes os quartetos de cordas têm uma sonoridade muito clássica a tocar fado e pouco parecida ao ambiente intenso de improviso e de decisões feitas no momento que tornam as palavras do fadoconversar com os comentários dos instrumentistas. A forma como tentámos ultrapassar esta situação foi restabelecer este ambiente de fadista mais trio, alternando funções dentro do quarteto, encenando o fado, sempre tendo o contexto das palavras do poema que escolhemos em conta. Para além de termos escolhido temas clássicos que prestam homenagem a Amália, dentro da instrumentação do quarteto, temos também influências estilísticas que a experiência musical de cada elemento denota: clássico, contemporâneo, europeu, rock, metal. Também a escolha dos convidados assinala essa influência: Pedro Jóia, guitarrista de excelência que se dedica ao fado e flamenco como solista e acompanhador de grandes nomes; Rita Redshoes, cantora e madrinha do nosso projecto com sua voz única, que canta em português um novo discurso de empoderamento da mulher, bem diferente daquilo que era apregoado no fado dos tempos da ditadura; Ana Bacalhau, que dispensa apresentações, Marco Oliveira, fadista e guitarrista, autor dos seus fados que nesta noite irão contar com os arranjos do compositor Tiago Derriça. Contamos ainda com um arranjo para quarteto de cordas do Maestro e Compositor Vitorino d’Almeida.

O Fado actualmente tem influências variadas, existe algum limite para o que é o Fado?
Obviamente que existem limites. Quem os define não somos nós. Duvido que tocar temas de fado sem o estilo que lhe é inerente seja suficiente. Foi esse o nosso maior desafio: recriar estilisticamente os temas sem ser uma cópia, dando-lhe um cunho de identidade. No fundo, o poema e as palavras da fadista são necessariamente um contexto para cada fado que tentámos recriar com o fraseado nos instrumentos, O balanço o fado, as brincadeiras e respostas da guitarra portuguesa, são algo único de cada músico e que requer uma vida para ficar perfeito. Nesse aspecto, fomos buscar um sentido rítmico e de balanço que nos é natural de outros estilos, sendo por isso mais verdadeiro no nosso caso e permitindo uma maior comunicação com o público. No fundo, o fado comunica emoções e nós encontramos uma forma própria de as comunicar. Escolhemos ainda temas de fado com algumas influências hispano-árabes, escalas e interpretações que relembram a diáspora portuguesa e as influências culturais que passaram pelo País.
Qual é o critério dos fados a (re)interpretar?
A proposta para este concerto foi-nos feita tendo em consideração a comemoração do aniversário do “Fado, Património Imaterial da Humanidade”, assim como a aproximação do centenário da fadista Amália Rodrigues. Escolhemos maioritariamente temas do seu repertório que tivessem uma melodia e harmonia que nos comunicasse algo especial. Ai Maria, mais cigano, outros temas mais alegres e ritmicamente intensos, outros mais conhecidos como a Gaivota ou o Alfama. Aos convidados, tentámos sugerir temas seus que pudessem mostrar a sua identidade em relação ao título do festival „O Fado também é nosso“. Outros temas espelham as vivências musicais de cada um de nós que conjuntamente tentámos traduzir numa linguagem do fado. Temos ainda uma selecção de guitarradas que prestam homenagem aos mestres da guitarra portuguesa Armandinho e Carlos Paredes.
É o primeiro concerto em nome próprio do vosso projecto. O que podemos esperar?
Podem esperar um concerto intenso. Partimos da tradição dos temas e escolhemos fazer um percurso histórico até aos dias de hoje, com ambientes mais cinematográficos e uma mise-en-scène distinta. Temos uma equipa de luxo connosco, desde os convidados a cada um dos elementos que está nos bastidores, incluindo a produção da Sons em Trânsito. Será uma oportunidade única poder mostrar a nossa proposta musical numa sala tão especial: Capitólio, 27 de Novembro, 21.30.
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27 Novembro | Hotel Quartet e convidados especiais
Abertura de portas: 20h30
Início do concerto: 21h30
Bilhetes: 15€

28 Novembro | +351 FADO – Os fados de João Gil e João Monge
Abertura de portas: 20h30
Início do concerto: 21h30
Bilhetes: 15€

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