Entrevista. Maria da Graça Carvalho: “Se queremos afirmar-nos na área do digital, temos de Incentivar o desenvolvimento da tecnologia, porque é importantíssimo para o nosso desenvolvimento económico”

por Os 230,    3 Abril, 2024
Entrevista. Maria da Graça Carvalho: “Se queremos afirmar-nos na área do digital, temos de Incentivar o desenvolvimento da tecnologia, porque é importantíssimo para o nosso desenvolvimento económico”
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Ainda desconhecendo que viria a ser nomeada Ministra do Ambiente e Energia deste novo Governo liderado por Luís Montenegro, Maria da Graça Carvalho foi entrevistada, no passado mês de Março, pel’Os 230 na sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na condição de eurodeputada eleita pelo PSD, pertencente ao grupo europeu do PPE.

Engenheira desde tenra idade

Formou-se em Engenharia na Universidade Técnica de Lisboa, onde teve a sua primeira experiência de ensino, ao lecionar a cadeira de Análise de Matemática. Depois de dois anos como Monitora de Matemática e de Assistente de Termodinâmica e Sistemas Sustentáveis de Energia, ganhou uma bolsa de doutoramento no Imperial College, em Londres, onde também trabalhou como Assistente de Investigação.

Depois de um curto período de pós-doutoramento na Alemanha, regressou a Portugal quando o país integrou a União Europeia, fazendo, assim, parte dos dois primeiros projetos a nível de investigação científica no Programa-Quadro, de Investigação e Inovação. Ciente da importância do investimento em ciência, revela que os setores do Ensino Superior e da Ciência são os que mais têm transformado o país pós-25 de Abril. Neste momento são já 1500 as bolsas de doutoramento financiadas por Fundos Europeus, o que faz com que a comunidade científica em Portugal cresça em termos de qualidade, de tamanho de consistência e de prestígio internacional.

Em 2003 experimentou pela primeira vez a chefia de um Ministério, quando Durão Barroso a escolheu para liderar a pasta da Ciência e do Ensino Superior. Quando o Primeiro-Ministro da altura aceitou o cargo de Presidente da Comissão Europeia, Maria da Graça Carvalho acompanhou-o na sua mudança para Bruxelas, tornando-se sua conselheira na área da Ciência, Inovação, Energia, Alterações Climáticas e Ambiente. Relembra ainda que foi por essa altura que se delineou a primeira Estratégia para Energia e Clima.

A Produção de Tecnologia na UE

Como Eurodeputada, participou ativamente em muitos relatórios sobre Ciência, Tecnologia e Energia e garante que “se nos queremos afirmar na área do digital, temos de Incentivar o desenvolvimento da tecnologia, porque é importantíssimo para o nosso desenvolvimento económico”. Segundo a própria, o objetivo de muitos países da União Europeia é o de quererem ser produtores de tecnologia, e não só utilizadores, daí que o objetivo passe por dotar a Europa das condições necessárias para poder desenvolver aplicações de inteligência artificial. 

Questionada sobre uma figura histórica que a inspire, Maria da Graça Carvalho responde Marie Curie sem pestanejar, porque se não fosse a ciência, diz “estávamos na Idade Média”. A esse respeito afirma existir uma confiança inata nos europeus, uma grande segurança no que é feito na Europa (medicamentos, produtos…), isto porque as políticas europeias são muito baseadas em princípios éticos, em validação científica, na preocupação pelos valores humanos, na proteção do ambiente, na proteção da saúde, na ciência.

O aeroporto de Beja

Natural de Beja, de um tempo em que as mulheres passavam por muitas dificuldades em termos de abertura social, Maria da Graça Carvalho destaca dois momentos que vieram a contribuir para a emancipação feminina – a conquista da democracia, e dos direitos que vieram a ser garantidos às mulheres com o 25 de Abril, e a abertura à Europa, que lhe trouxeram a possibilidade de viajar e de ver o mundo.

A recente ministra critica também o governo central pelo esquecimento a que votou o distrito de Beja, uma vez que a capital de distrito não está ligada por autoestrada e a própria ferrovia está agora com piores ligações do que há décadas atrás, não existindo comboio direto a partir de Lisboa. Segundo a própria ministra, estes são alguns dos aspetos que poderiam ser melhorados com fundos europeus.

Defensora do distrito que a viu nascer, Maria Graça de Carvalho confessa que o aeroporto que existe em Beja, construído por fundos europeus, é pequeno, mas extremamente eficiente e que “é um crime público não ser utilizado para turismo”. Mais adianta que o complexo de Sines com o porto, o aeroporto em Beja, a ligação à ferrovia e às autoestradas, fariam da cidade um polo muito importante. 

Artigo escrito por Mónica Mota, colaboradora do Projeto Os 230.

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