Entrevista. Maria João: “Tudo o que aprendi, aprendi fazendo”
O que vais ler, ver e ouvir é da autoria do Backstage, um podcast criado por Ana Roque e Vasco Barreiros, que tem o apoio da Comunidade Cultura e Arte.
O sexto episódio do podcast Backstage tem como convidada a cantora Maria João, um ícone do jazz português. Com já longos anos de carreira e concertos por todo o mundo, a cantora “reinventa-se a cada oportunidade”, o que tornou esta conversa num momento de grande aprendizagem para todos.
O início, como já é habitual, fez-se pelo percurso da cantora, que nos conta como veio parar ao mundo da música. Passou brevemente por uma banda de rock, mas “muito poucas pessoas sabem desse episódio”. Esteve ainda durante 6 meses no Hot Clube Portugal onde nos diz: “o que eu aprendi, ali durante aquele tempo, foi a ouvir”.
Com 29 discos com o nome na capa, fora parcerias, são muitas as histórias que a cantora tem para contar. Falou-nos de um episódio em particular, num concerto na Alemanha, onde fez a primeira parte do cantor Egberto Gismonti, que nesse dia demorou demasiado tempo no soundcheck, o que despoletou uma história engraçada entre ambos.
A cantora conta-nos ainda sobre como formou os OGRE Electric, o seu “amor principal”, um projecto que funcionou a duo, a trio e a quinteto. Falou-se sobre processo criativo e a composição colaborativa que se vive na banda. “Somos uma democracia”, diz.
Como é habitual, as rubricas mostraram-e desafiantes, especialmente o Das Duas Uma, onde a cantora foi levada a evitar respostas ou a criar alternativas que lhe enchessem as medidas. Também na terceira rubrica as escolhas foram difíceis, ficando tentada a escolher Al Jarreau como parceiro para tudo.
Na segunda parte da conversa, falou-se de movimento e da sua importância para cantar — “É desde o dedão do pé até à pontinha do cabelo”. A cantora revela como a técnica vocal se mostrou algo que só a própria podia desmistificar — “Tens que te compreender, sentir o teu instrumento”.
Foi também lançado o desafio (ingrato, talvez) de definir a música da Maria João, que o fez dizendo que o jazz, “esse lugar de liberdade”, era o seu pé esquerdo, enquanto o seu pé direito era “um pé super roubador”, por ser a junção de todas as influências.
“Há que ter o cuidado de não explicar tudo” diz-nos a também docente na Escola Superior de Música de Lisboa. “O prazer da procura” é, no seu ponto de vista, fundamental na vida académica. “Tudo o que eu aprendi, aprendi fazendo”.
No final do episódio, a cantora deixa-nos com um belíssimo momento musical: o tema “Tenho Um Verdadeiro Amor”, dos OGRE Electric, onde canta acompanhada por João Farinha. Disfrutem!