Entrevista. Matt Hollywood: “Sou um gajo tendencialmente romântico”
O Matt Hollywood é o gajo dos Brian Jonestown Massacre.
Por gajo, diga-se, ex-membro e fundador desta instituição do rock psicadélico.
Por gajo, diga-se, um compositor que seguiu com a sua vida três décadas depois da despedida do conjunto de Antone Newcombe.
Por gajo, destaque-se, foi amealhando canções e projectos, desde os The Out Crowd a Rebel Drones, acabando de lançar o LP de estreia de Matt Hollywood & The Bad Feelings, com double-date marcado em Portugal a 13 e 14 de Setembro (Santarém e Lisboa, respectivamente).
Fomos falar com este gajo.
Como foi a experiência na primeira vez que vieste à Europa com Matt Hollywood & The Bad Feelings? É que as pessoas têm aquela tendência de nos “colar” ao passado, do tipo “é o gajo dos Brian Jonestown Massacre (BJM)”.
A primeira tournée foi incrível. Acho que mesmo sem disco, havia muitas pessoas que queriam ouvir algumas canções que os BJM já não tocam em concerto. Assim como fãs das outras cenas que fui fazendo depois de sair da banda. Fomos maioritariamente bem recebidos, o que me relembra deste meu privilégio de andar aí a viajar, conhecer sítios e pessoas e poder partilhar a minha música com elas.
Estou aqui a ouvir o “Self-Title” (disco de estreia do projecto) e acho que não teria dificuldade em ser bem recebido nos dias de hoje. Tu, de certa forma, contribuíste um bocado para isso com os projectos que foste tendo, com óbvio destaque para os BJM. Não te soa engraçado? Seres bem sucedido com um disco que, passado uns valentes anos, enquadra-se num género que ajudaste a emergir no mainstream?
Epá, não falemos de sucesso para já (risos). O disco acabou de ser lançado. Não tenho bem a certeza do quão contribuí para tal, mas é fixe que digas isso.
Se não tivéssemos a falar de um dos teus discos eu poderia falar das influências e contextos que aqui vejo. Mas sendo um disco do Matt Hollywood, facilitas-me imenso a vida. Podemos dizer que é um throwback à tua carreira e a todas as coisas que conseguiste ir fazendo noutros projectos? É tipo o teu primeiro filho enquanto mãe solteira, digamos.
Bem, nos The Out Crowd e nos Rebel Drones já era eu que compunha basicamente tudo, mas aí era com músicos com quem já estava habituado a trabalhar. Aqui fui convidando pessoas consoante a canção e o músico em si. De certa forma foi bem divertido e bastante refrescante. Deu-me bastante liberdade na produção.
Numa entrevista que desde ao The Phoenix New Times, falaste ironicamente do Antone Newcome e do teu despedimento dos BJM com uma referência a Donald Trump. Disseste algo como: “pelo menos o Trump tem os tomates para despedir as pessoas na cara”. Enquanto cidadão americano, eras gajo de despedir o Trump da presidência ou achas que ele até anda a fazer algumas coisas bem?
Acho horrível aquilo que está a acontecer nos EUA actualmente. Conseguiram dividir-nos de uma maneira que já ninguém pára para reflectir sobre medidas mais ou menos consensuais. Já ninguém ouve ninguém, apenas quem está do seu “lado”. Mas há pessoas bem mais capacitadas do que eu para falar disso.
Olha, quando o Trump recentemente recebeu o nosso Presidente na Casa Branca, foi como se ele tivesse coisas mais importantes com que se preocupar e não pareceu saber muito acerca de Portugal (para além do Cristiano Ronaldo). O que achas que conseguirias ensinar-lhe acerca do nosso belo país?
(risos) Temo que não saiba muito, mas estou ansioso por ver e aprender. A maior parte das cenas que sei sobre Portugal são aquelas que confluem com os temas históricos que mais me entusiasmam, como a cultura Pré-Romana, os Descobrimentos, as Invasões Napoleónicas, enfim. Tudo coisas que, provavelmente, deixariam o Trump aborrecido.
Agora que finalmente lançaste o LP de estreia de Matt Hollywood & The Bad Feelings, podes contar-nos como começou este projecto?
Eu passei uma fase bastante má quando a minha mãe ficou gravemente doente. Ainda demorei um pouco a recuperar do stress de tudo isto mas, quando comecei a ficar melhor, voltei a escrever canções e a trabalhar em ideias que tinha deixado para trás. Comecei a gravar em Atlanta onde vivia e depois acabei de gravar o disco em Los Angeles. Enquanto estava lá, o Bobby Hecksher dos The Warlocks (um velho amigo) ofereceu-se para ajudar-me a reunir uma banda para tournée.
E agora tens um mês inteiro de tournée pela frente. Mas tens mais alguns planos até ao final do ano?
(risos) Eu não sou muito bom a fazer planos mas finalmente vamos lançar o disco dos Rebel Drones, 10 anos depois, e talvez fazemos uns concertos de apresentação. Gostava de fazer algum trabalho de estúdio também.
Com um double-date marcado em Santarém e Lisboa, achas que um fim de semana aqui seria suficiente para te convencer a mudares-te para Portugal, como tantas outras personalidades o fizeram recentemente?
É possível. Eu sou um gajo tendencialmente romântico e, muitas vezes, tudo o que preciso é de um par de boas refeições e umas conversas fixes para começar a sonhar em mudar-me.
O teu concerto em Santarém está envolvido nas Cartaxo Sessions, um ciclo de concertos mensal dedicado ao neo-psicadelismo, tendo recebido bandas como The Wands, Wooden Ships ou os The Asteroid #4. Sendo tu um dos pioneiros, como vês este recente revivalismo do rock psicadélico e a sua entrada no mainstream?
Honestamente, não ligo muito a isso. Eu cresci a ouvir a música dos 60’s e sempre terei uma almofada guardada para estes estilos. Mas depois fui-me cansando de estar sempre a ouvir as mesmas coisas. Quando estou em casa costumo ouvir mais Country, Blues, Soul, ou cenas típicas de outros países. Adoro as cenas brasileiras ali entre os 60’s e os 70’s. É aqui que tenho uma pequena conexão com Portugal.
Bom, acho que vamos ter de acabar a conversa em Lisboa, depois do concerto no MusicBox. Mas antes, diz-me aí um par de bandas/artistas que tens andado a ouvir.
Kris Kristofferson e Howlin’ Wolf. Um abraço.
Matt Hollywood & The Bad Feelings vão estar em Santarém no próximo dia 13 de Setembro, em Santarém, e a 14 de Setembro no MusicBox, Lisboa.
Entrevista de Luis Dixe Masquete