Entrevista. Paula Cordeiro: “As pessoas não estão preparadas para pessoas multidisciplinares, que têm múltiplas dimensões”

por Magda Cruz,    20 Abril, 2021
Entrevista. Paula Cordeiro: “As pessoas não estão preparadas para pessoas multidisciplinares, que têm múltiplas dimensões”
Paula Cordeiro / Fotografia de Aline Macedo
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Podem conhecê-la como Urbanista, mas é também a voz da Maria a Granel, professora universitária, podcaster, mãe e agora mãe de mais um livro. Paula Cordeiro lança “Vida Instagramável”, e mesmo dizendo que o pior que lhe podem fazer é pô-la a falar sobre ela própria, conta a sua história neste livro editado pela Penguin Random House do qual fala no podcast Ponto Final, Parágrafo

Convidada do podcast de Magda Cruz, Paula revela que em pequena queria ser arqueóloga, mas só para irritar a mãe que, por sua vez, queria que a filha fosse médica. A vida ditou que se tornasse comunicadora, apesar de alguma timidez que parece desvanecer quando conta histórias às pessoas, seja atrás do microfone e ao ouvido dos que ouvem, seja atrás de uma câmara de computador, como se tem revelado ser hábito agora que as aulas que dá na universidade passaram para casa.

Quando era (mais) jovem, disse às amigas que o seu caminho passava pela rádio. Por isso, de uma forma muito natural, diz, manipulou os testes psicotécnicos para validar essa ideia e entrou na primeira opção na universidade onde se formou em comunicação. E até começou na rádio mais rápido do que pensava: convenceu os responsáveis da rádio Marginal a aceitá-la como repórter no programa Surf Report, mesmo sem experiência. Subiu com facilidade nessa rádio e fez um pouco de tudo. Provou ser muito boa. 

No entanto, as oportunidades que foi aceitando afastaram-na cada vez mais da rádio. E no novo livro, “Vida Instagramável – um diário de likes, amor próprio e mudança de vida”; publicado pela Arena, da Penguin Random House em abril de 2021, Paula escreve aquilo de que gostava mesmo: “Comunicar, partilhar ideias e música, contar histórias e entrevistar pessoas”. 

O passado conta que entre mais coisas, já esteve na Rádio Renascença, coordenou a primeira rádio de lifestyle em Portugal, a NitFm, e foi a primeira mulher provedora do ouvinte na RTP. No caminho, aprendeu que tudo se podia equilibrar e geriu academia com meio profissional. Continuando a olhar para o passado, tudo mudou num dia, como conta o livro “Metamorfose”, em que o protagonista acorda como um inseto. 

Para Paula, também houve um momento kafkaesco em que renasceu, qual fénix. Um dia acordou, tudo estava no sítio, tudo corria muito bem, mas Paula sentia-se deslocada e desnorteada. Com esforço afinou a bússola e encontrou o norte em pelo menos três coisas: a falar atrás do microfone, a escrever e a interagir com música e imagem. Percebeu que a vida dela iam ser as palavras. Agora, escreve semanalmente para a revista Sábado, tem uma newsletter (chamada rádio Amor e que sai à sexta-feira), criou uma produtora de audiovisual storytelling, a Streaming ideas, e é professora universitária no Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa.

Ao podcast, Paula diz que “as pessoas não estão preparadas para pessoas multidisciplinares, que têm múltiplas dimensões”. E acrescenta: “Eu sou um bocado camaleão, do ponto de vista profissional. Do ponto de vista social sou mais estável. Ao escrever este livro, percebi que a minha vida se organiza mais ou menos em ciclos de cinco anos e que durante esse tempo estou a fazer uma coisa e depois passo a fazer outra.” 

Os únicos elementos mais estáveis na vida de Paula são a rádio e o ensino. Destes dois não larga mão. Sobre o futuro, uma revista ajudou-a a descortinar o que a vida lhe reservava. Leva a frase da revista dentro de si: “Quero ser muito boa, independentemente daquilo que faça”. Essa determinação já ajudou muito a manter um padrão de qualidade em tudo o que fazia.

No episódio, falamos de muitos mais livros. Passamos os olhos pelo “The Filter Bubble – What The Internet Is Hiding From You”, de Eli Pariser; voltamos a encontrar-nos com “Silêncio na Era do Ruído”, de Erling Kagge; surpreendemo-nos com “A Natureza Cura”, da jornalista Florence Williams; percebemos que é, finalmente, Elena Ferrante (estou a brincar, é segredo), mas falamos do livro “A Amiga Genial” e terminamos com o primeiro volume de diários de Rita Ferro, “Veneza pode Esperar”. 

Ponto Final, Parágrafo é um podcast sobre literatura, conduzido por Magda Cruz, da ESCS FM em parceria com a Comunidade Cultura e Arte. Já conta com 42 episódios principais em três temporadas. Pode ser ouvido em todas as plataformas de áudio.

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