Entrevista. Sónia Lamy: “O sistema educativo não está a acolher a educação e a literacia para os media da forma séria que devia ser vista”

por Lusa,    12 Junho, 2025
Entrevista. Sónia Lamy: “O sistema educativo não está a acolher a educação e a literacia para os media da forma séria que devia ser vista”
Sónia Lamy / DR
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A académica Sónia Lamy afirma que a ausência da consciência sobre o perigo de uma rede social faz com que também não haja consciência do perigo da desinformação, criticando a falta de literacia mediática nos currículos escolares.

Em entrevista à agência Lusa, a investigadora e professora universitária que tem estudado as formas de relação entre os jovens com os meios de comunicação, explica que “a ausência da consciência sobre o perigo daquilo que é uma rede social nos educadores, nas famílias e no espaço escolar” faz com que também não haja “consciência do quão perigoso pode ser o impacto da desinformação do ponto de vista social”.

Neste sentido, Sónia Lamy reitera que para os jovens a tendência atual não é procurar informação jornalística: Essa “não é a preocupação dos jovens, os jovens querem é sentir-se informados” e para isso aceitam “as mensagens que vêm ter com eles de forma acessível, ou seja, através das redes sociais”.

Não é procurar estar bem informado, é procurar estar informado e estar a par daquilo que está acontecer. Não interessa a qualidade do que está presente no tipo de leitura que é feita, mas na forma fácil e acessível com que a informação chega”, afirmou a académica.

Sónia Lamy referiu que mesmo os estudantes de jornalismo na universidade têm cada vez menor interesse em procurar informação, “querem estar informados, ou pelo menos querem estar a par do que está a acontecer, no entanto, não vão aos meios de comunicação procurar informação”.

Para a docente, este contexto abre caminho para a desinformação, porque “as redes sociais não filtram informação”, ao mesmo tempo que se assiste a uma “falta de formação no decorrer da linha de escolaridade”, fazendo com que os jovens sejam “muito permeáveis a todas as influências das mensagens que vão chegando através das redes sociais”.

A investigadora realça que os jovens (12-22 anos) são mais vulneráveis à desinformação através das redes sociais porque “é o abrir a porta para que haja um fluxo constante de informações a chegarem, sem que haja filtro“, pelo que o controlo da qualidade da informação é que é o mais importante.

Há acesso a um meio superpoderoso, de acesso a tudo o que é informação, desinformação, propaganda ideológica, de forma muito precoce (…) num espaço em que os jovens não estão preparados para receber todas estas informações”, afirmou.

Sónia Lamy explica que a adolescência é uma fase de alguma influenciabilidade em relação a fatores externos e o “telemóvel é um fator externo muito forte (…) uma arma poderosa para pessoas que sabem utilizar esse meio para captar os mais jovens”.

O poder das redes sociais está em quem usa as redes sociais”, em quem está a trabalhar para cumprir determinados objetivos “e os jovens acabam por ser fortemente influenciados de forma inconsciente”.

Além disso, “ao olhar para os currículos das escolas, a literacia mediática, neste momento, é algo que está completamente ausente”, o que reflete um “caminho de degradação do interesse pelo jornalismo e até mesmo pela democracia”.

O sistema educativo não está a acolher a educação e a literacia para os media da forma séria que devia ser vista“, afirmou, acrescentando a necessidade de um debate sobre a literacia mediática e educação de media que englobe o jornalismo e a academia para um estudo consistente da desinformação.

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