Escritor brasileiro Marcelo Rubens Paiva lamenta que Trump enfraqueça o BRICS

por Lusa,    5 Julho, 2025
Escritor brasileiro Marcelo Rubens Paiva lamenta que Trump enfraqueça o BRICS
Fotografiad e Harald Krichel via Wikipédia
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O escritor brasileiro Marcelo Rubens Paiva lamentou hoje que o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, esteja a conseguir enfraquecer o grupo das economias emergentes, pelo qual nutre alguma simpatia.

“O Trump está a conseguir dividir o BRICS, é um cenário um pouco de incerteza”, disse Marcelo Rubens Paiva à agência Lusa.

O também dramaturgo e jornalista, que está em Portugal para falar do seu livro mais recente, “O Novo Agora” (2025), inicia, na tarde de hoje, no Festival Bang, em Vila Nova de Gaia, um périplo de vários dias que o levará igualmente às feiras do livro de Aveiro e Barcelos e ao Café com Letras, em Oeiras, entre domingo e terça-feira.

“Eu apostava muito no BRICS como uma terceira força política e económica importante. Mas, depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, ficou um pouco complicado”, afirmou o autor em entrevista à Lusa, 24 horas antes de aquele grupo de países, presidido pelo Brasil até ao fim do ano, iniciar uma cimeira de dois dias no Rio de Janeiro, entre domingo e segunda-feira.

Para Marcelo Rubens Paiva, “o BRICS tem um papel importante, apesar de ser isolacionista”, constituindo “uma força política de oposição à Comunidade Europeia e aos Estados Unidos”, só que “deu uma enfraquecida” devido às tarifas comerciais fixadas pela administração Trump.

Por um lado, “a Europa está maioritariamente contra a Rússia”, na sequência da invasão da Ucrânia, em 2022, pelas forças militares de Moscovo, por outro, “alguns membros do BRICS, como a Índia, estão fazendo tarifas especiais” negociadas com Washington, salientou.

“Sabemos que a China também faz acordos paralelos com Trump”, acrescentou.

Criado para reequilibrar a ordem mundial a favor do Sul Global contra o Ocidente, o bloco das economias emergentes representa quase metade da população mundial e 40% do produto interno bruto (PIB) do planeta.

Em 2023, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irão e Indonésia ingressaram no BRICS, até então constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e cujas iniciais deram nome ao grupo.

Na opinião de Marcelo Rubens Paiva, o conflito entre a Ucrânia e a Rússia “não afeta quase nada” o Brasil, no continente sul-americano, à distância de milhares de quilómetros.

“O Brasil está do outro lado do oceano. A mesma coisa em relação aos Estados Unidos”, cuja política internacional “não chega a afetar muito o Brasil”, pois “não é mais o parceiro económico principal” do grande país lusófono liderado por Luís Inácio Lula da Silva.

O autor da obra autobiográfica “Feliz Ano Velho” (1982), que lhe deu projeção nacional ao abordar as consequências de um acidente de que ficou tetraplégico, realçou que a Rússia invadiu há três anos um Estado soberano, a Ucrânia, “e ameaça outros países” que são membros da NATO.

“O Brasil tem uma tradição pacifista muito interessante, muito diferente do que está a acontecer hoje no mundo”, ressalvou.

Em termos políticos, “nós estamos muito afastados dos conflitos que estão a acontecer, tanto no Médio Oriente, como na Ucrânia ou em Caxemira, entre a Índia e o Paquistão”, referiu.

Marcelo Rubens Paiva, também autor de “Ainda Estou Aqui”, livro sobre a ditadura no Brasil adaptado ao cinema e que ganhou este ano o óscar de Melhor Filme Internacional, admitiu que o seu país “está a viver um momento difícil”, pois, com o regresso de Lula à presidência, em 2023, o Brasil “conseguiu voltar a ter um ar democrático”.

“Voltámos a ter um estadista que todo o mundo conhecia. As instituições voltaram a funcionar com plena liberdade, [enquanto] o cinema, o teatro, os jornais e os jornalistas voltaram a ser respeitados”, congratulou-se.

Segundo o escritor, contudo, “o Brasil se descobriu refém de um Congresso Nacional de direita”, o que contribui para o facto de ser “um país muito difícil de ser governado”, apesar de Lula ter derrotado o antecessor de extrema-direita, Jair Bolsonaro, em finais de 2022.

“O Congresso barra todas as iniciativas do executivo, o judiciário tem que julgar e o Congresso ameaça o judiciário com intervenção. E fica um país paralisado”, criticou.

Marcelo Rubens Paiva regozijou-se, ainda assim, com o facto de estarem já a ser julgados os presumíveis autores do golpe de Estado de janeiro de 2022, incluindo Bolsonaro, que alegadamente visava derrubar o Governo de Lula da Silva e do seu vice-presidente, Geraldo Alckmin.

“O que realmente conseguimos mesmo foi deixar os generais e o Exército nos quartéis”, tendo os militares “defendido a democracia e aceitado o julgamento dos golpistas”, sublinhou.

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