Escritor francês Laurent Mauvignier vence Prémio Goncourt com romance “La Maison Vide”
O escritor francês Laurent Mauvignier venceu hoje o Prémio Goncourt, com o romance “La Maison Vide”, uma saga familiar ambientada na década de 1970, anunciou hoje a academia.
“La Maison Vide”, publicado pela Minuit, foi o escolhido de uma lista de quatro finalistas apurada no dia 28 de outubro e que contemplava também a escritora mauriciana-francesa Nathacha Appanah, com “La nuit au coeur”, o francês Emmanuel Carrère, com “Kolkhoze”, e a belga Caroline Lamarche, com “Le Bel Obscur”.
“La Maison Vide” é uma saga familiar ambientada na década de 1970, que segue a história de uma família marcada por silêncios e segredos, revisitando diferentes gerações e abordando os rastos deixados pelas guerras e as relações de dominação da época.
A narrativa percorre três gerações marcadas a ferro por duas guerras mundiais, uma história romanceada dos antepassados do autor, vista pela perspetiva das mulheres.
A ação decorre em La Bassée, localidade inspirada na vila da Turene, antiga província de França onde o autor cresceu.
Através de arquivos, cartas, fotografias antigas e recordações reconstruídas pela imaginação, Mauvignier recompõe a “catástrofe familiar” que moldou o seu passado, centrando-se sobretudo nas figuras da bisavó Marie-Ernestine, viúva de guerra, e da sua filha Marguerite, uma mulher esmagada pela violência, pela pobreza e pela maldade humana, descreve o jornal Le Figaro.
O romance retrata o peso dos legados familiares, o silêncio e a vergonha transmitidos entre gerações, a opressão doméstica e social, e o modo como o passado continua a projetar a sua sombra sobre os descendentes, até ao próprio pai do autor, que se suicidou quando este era ainda adolescente.
Com uma linguagem de “refinamento literário” e um “brio narrativo contido”, o “copioso e ambicioso” décimo romance de Laurent Mauvignier, de 58 anos, “representa o auge da sua arte narrativa, que vem aperfeiçoando há mais de um quarto de século”, classifica o mesmo jornal.
No entanto, Laurent Mauvignier não tem qualquer obra traduzida e publicada em Portugal.
Já o prémio Renaudot 2025, anunciado sempre a seguir ao Goncourt, foi atribuído a Adélaïde de Clermont Tonnerre, pelo romance “Je voulais vivre”, que faz uma reinterpretação feminista e humana da personagem Milady, de “Os Três Mosqueteiros”, de Alexandre Dumas, tratando-a não apenas como vilã lendária, mas como uma mulher de carne e osso que lutou por sobrevivência, liberdade e ideal, num mundo dominado por homens, segundo a imprensa francesa,
A autora tem apenas uma obra publicada em Portugal, “O Último dos Nossos” (Clube do Autor, 2017).
O anúncio dos vencedores foi feito hoje no restaurante Drouant, em Paris, onde os jurados se reuniram.
O Prémio Goncourt, fundado em 1903, distingue anualmente o melhor romance escrito em língua francesa, sendo considerado um dos mais importantes prémios literários do mundo francófono.
O Goncourt tem um prémio monetário meramente simbólico, já que o vencedor recebe um cheque de apenas dez euros, mas garante ao seu autor notoriedade, tiragens milionárias e traduções em dezenas de línguas.
No ano passado, o Goncourt foi atribuído ao escritor franco-argelino Kamel Daoud, pelo romance “Houris”, um relato ficcional dos massacres durante a “década negra” da Argélia (1992-2002).

