Este mês nas livrarias. Ensaios sobre Saramago, histórias de Itamar Vieira Junior e a chegada da poesia de Pedro Freitas

por Magda Cruz,    5 Fevereiro, 2022
Este mês nas livrarias. Ensaios sobre Saramago, histórias de Itamar Vieira Junior e a chegada da poesia de Pedro Freitas
Capas dos livros
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O mês de fevereiro é o mais curto do ano, mas nada indica que terá menos novidades literárias nas prateleiras das lojas. Entre livros novos e reedições, temos a chegada do primeiro livro de uma série muito popular lá fora, especialmente junto dos jovens e jovens adultos; o primeiro livro de poesia do Poeta da Cidade; e um conjunto de ensaios sobre o nosso Nobel de Literatura, em ano de centenário. E a fechar o mês, a reedição de “A lentidão”, de Kundera. Aqui está mais meia dúzia de escolhas da Comunidade Cultura e Arte.

José Saramago: a escrita infinita, organização de Carlos Nogueira (Tinta da China)

A chegar a meio do mês, 17 de fevereiro, este é um livro de ensaios sobre Saramago. Para celebrar o vencedor do único Nobel da Literatura português, vinte autores escreveram um ensaio. 

Neste que é o ano do centenário de Saramago, este livro traz “ensaios que dialogam com as palavras de um escritor radicalmente implicado com a vida e a linguagem verbal. Uma linguagem infinita que nos (re)escreve e torna menos limitados”, escreve a Tinta da China na apresentação da obra. 

Com organização e prefácio de Carlos Nogueira, diretor científico da cátedra José Saramago da Universidade de Vigo, podemos ler textos de Álvaro Domingues; Ana Cláudia C. Henriques; Bárbara Natália Lages Lobo, que escreve o texto “Democracia e Universidade: aprendizagem cidadã por José Saramago”; Diego J. González Martín, mas também de Fabrizio Uechi; Fernando Venâncio; Filipe Reblin, que escreve o texto “O Ano da Morte de Ricardo Reis: o labirinto que Saramago construiu para Ricardo Reis”; de José Eduardo Reis; José Vieira, que escreve “Um Elogio da Lentidão: A Viagem do Elefante como metáfora da vida” (livro que está em destaque no clube de leitura do podcast Ponto Final, Parágrafo este mês)*; Luiz Humberto Marcos, que escreve “Textos de Saramago nos cortes da censura”; Manuel Frias Martins; Maria da Luz Lima Sales; Maria de Lourdes Pereira; Maria Irene da Fonseca e Sá; Maria Leonor Castro; Miguel Alberto Koleff; Miguel Real, que assina “José Saramago: o narrador oral (1980/1982)”; Monica Figueiredo, que escreve “Aprender a morrer… José Saramago e a escrita da finitude”. 

Os restantes textos são de Paulo Rafael Bezerra Cardoso; Raquel Lopes Sabino. que escreve “Homens no lugar das coisas: diálogos entre atualidade e Objeto Quase”; Ricardo Rato Rodrigues e Vera Lopes da Silva, que assina o texto “Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez: estética e engajamento promovidos por José Saramago, leitor de Karl Marx”.

“Não há uma única linha na escrita de José Saramago que suscite mera leitura recreativa, consolo para o tédio da vida ou ostentação de cultura”, escreve a editora. “A literatura e o pensamento de Saramago desassossegam e atraem pela largueza e pela profundidade da visão. Também as leituras que dele fazemos podem ter uma energia indomável, podem ser um modo de acção. É isso que este livro propõe”. 

*O clube de leitura do podcast “Ponto Final, Parágrafo”, que é parceiro da CCA, elegeu o “A viagem do elefante” como livro a ler no mês de fevereiro. Um livro curto para um mês curto. O clube está a ler todos os meses um livro de Saramago. Em janeiro, 70 pessoas leram o livro “As intermitências da morte”, discutindo-o em grupo no final do mês. Se se quiser juntar, mande mensagem nas redes sociais do podcast (@pontofinalparagrafo no Instagram; @ParágrafoFinal no Twitter).

Corte de Espinhos e Rosas, de Sarah J. Maas (Marcador)

Este é o primeiro volume do que está a ser apresentado em Portugal como uma trilogia, da popular Sarah J. Mass. O livro “Corte de Espinhos e Rosas” dá o nome à série, que no estrangeiro já está completamente publicada e é conhecido como ACOTAR. Em Portugal vai estar traduzido por Ricardo Jorge da Silva Rodrigues.  

Originalmente chama-se “A Court of Thorns and Roses” e visitando o site da autora, deparamo-nos com duas informações: a série tem cinco livros e é uma série em desenvolvimento, o que quer dizer que poderá haver continuação.

Este livro muito acolhido pelos leitores nas redes sociais, especialmente o Tik Tok, tem Feyre, uma caçadora de dezanove anos, como protagonista. Ela mata um lobo na floresta e, como consequência, uma criatura monstruosa aparece em busca de vingança e arrasta-a para uma terra encantada conhecida apenas através de lendas. 

A série da autora do livro de Young Adult “Throne of Glass“ está a ser transformada numa série de televisão, como revela a autora no seu site. 

“Ela, metaforicamente d’outro mundo”, de Pedro Freitas 

Depois de sete anos de trabalho, chega o primeiro livro do jovem Pedro Freitas, também conhecido por Poeta da Cidade.

“Ela, Metafisicamente d’outro Mundo”, chega em edição independente “dos pés à cabeça”. Como conta Pedro Freitas à CCA, este é “um livro que é, ao mesmo tempo, um exercício intelectual e um testamento a um amor inigualável”, um livro “que tenta mergulhar no sentido mais íntimo e imperscrutável de um amor verdadeiro”, “um amor digno de mitos, um amor endeusado”. 

Ao longo de 180 páginas de poemas originais, esta é uma narrativa poética, onde se nota o amadurecimento emocional e literário, na opinião do autor. 

“Ela, Metafisicamente d’outro Mundo” tem ilustrações de Ana Yael e está à venda no site do Poeta da Cidade.

Daqui a Nada, de Rodrigo Guedes de Carvalho (Dom Quixote)

Nas livrarias a 8 de fevereiro, o livro “Daqui a Nada” é um romance a três vozes, que segue Pedro, que arrasta consigo a mágoa de não ter tido a relação que gostaria com o pai. 

Numa nota da editora, sabemos que regressado da guerra colonial, e tendo descoberto que a mulher, julgando-o morto, o traíra com um amigo, Pedro decide abandonar tudo, incluindo a filha, a quem nunca mais procurou. Agora, passada uma década, recorda aquilo que lhe dói ter abandonado e a que deseja regressar.

Esta é uma reedição. “Daqui a Nada” foi publicado pela primeira vez há 30 anos, e nele seguimos as perspetivas de pai, mãe e filha para chegar à história de uma família devastada pelas feridas da guerra colonial, pela dificuldade de comunicação e pelos encontros e desencontros da vida.

A editora escreve que numa “escrita sensível e intensa, muito mais do que o retrato de uma época, o primeiro romance de Rodrigo Guedes de Carvalho faz uma profunda reflexão sobre relações entre pais e filhos, sobre pais que não sabem ser pais, sobre filhos que crescem à sombra de um pai emocionalmente distante ou mesmo ausente”.

Doramar ou a Odisseia, de Itamar Vieira Junior (Dom Quixote)

Depois do sucesso conseguido com o romance “Torto Arado” – que em Portugal venceu o Prémio LeYa e, no Brasil, os prestigiados prémios

Jabuti e Oceanos, Itamar Vieira Junior vê publicado em Portugal o seu livro “Doramar ou a Odisseia”, que está nas prateleiras brasileiras desde junho do ano passado. 

Na nota da editora na edição brasileira, lemos que quem se deslumbrou com a “maestria narrativa, a sólida e delicada construção de personagens, a linguagem apurada e a temática brasileira de «Torto Arado» (…) vai encontrar neste «Doramar ou A Odisseia» ainda mais motivos para celebrar a ficção do autor”. 

Itamar regressa com uma coletânea de histórias que o confirmam como um grande narrador. “Com linguagem rica e poética e estrutura variada e

inovadora”, escreve a editora Dom Quixote, “as narrativas aqui presentes são herdeiras da tradição literária brasileira, mas ao mesmo tempo

profundamente contemporâneas no tratamento de questões como a destruição da floresta, a exploração dos mais fracos, a construção de muros entre países, as lutas pelos direitos humanos”. 

Parte dos textos deste volume, informa a nota da edição brasileira, foram publicados em “A Oração do Carrasco (2017), finalista do Prémio Jabuti em 2018. A estes juntam-se outros, inéditos em livro. 

Tal como em “Torto Arado”, as heroínas destas histórias são maioritariamente mulheres obrigadas a lutar contra a adversidade, como Doramar, que dá nome ao livro. Estará nas livrarias a 22 de fevereiro.

A Lentidão, de Milan Kundera (Dom Quixote)

Já com uma edição da BIS, de 2016, “A lentidão”, de Kundera, chega às livrarias com a nova edição da Dom Quixote no final do mês: 28 de fevereiro. 

Com tradução de Miguel Serras Pereira, a nota da editora explica que em “A Lentidão”, Kundera “usa, ao mesmo tempo, um romance libertino do século XVIII e uma viagem que ele e a mulher fazem a um castelo em França, transformado em hotel, para dar vida a uma série de personagens do passado e do presente que se cruzam num colóquio de entomologistas realizado num dos salões desse castelo”. Parece um cenário no mínimo peculiar. 

Personagens e histórias misturam-se e o leitor segue o narrador através de uma noite de verão em que duas histórias de sedução, separadas por mais de duzentos anos, se entrelaçam e oscilam entre o sublime e o  cómico.

“Mulheres da Minha Ilha, Mulheres do Meu País”, de Ana Cristina Pereira (Bertrand)

Ainda em fevereiro, chega às livrarias dia 17,  “Mulheres da Minha Ilha, Mulheres do Meu País”, da jornalista Ana Cristina Pereira.

A autora traça um percurso da mulher em Portugal através dos relatos e das experiências de vida das várias gerações de mulheres da Madeira. Entram relatos das mulheres que não estudaram, estando confinados aos trabalhos em casa, com os filhos, e trabalhos no campo. Mas também o inverso: os relatos das que conseguiram tirar um curso superior e que trabalham fora de casa. 

As mulheres neste livro nasceram com um intervalo de 50 anos. No resumo deste livro podemos ler uma frase forte: “Este livro resgata a história dessa transformação a partir de vozes que não fazem parte das estruturas de poder”. Será interessante contemplar a mulher mais velha e a mais nova e ver que diferenças marcam a vida delas. Em que mundo vivem no pós-25 de abril? Que liberdades, possibilidades e dificuldades têm nos seus caminhos?  

O livro já está em pré-venda.

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