Estou outra vez com ‘FOMO’, e agora?

Estamos todos com muita pressa para viver, mas não sabemos bem o quê. Há uma urgência de estarmos sempre a fazer coisas e de acompanhar os outros. E se não formos aos almoços, jantares, festas, eventos e convívios, parece que não estamos a viver. Sentimos que estamos a perder algo ou alguma coisa. Mas estamos a perder exactamente o quê? E que urgência tão grande é esta?
Estamos numa corrida e não podemos parar. É uma corrida olímpica colectiva sem ninguém saber qual é a meta. E quando estamos cansados, quando temos outros compromissos ou simplesmente não nos apetece ir, sentimos automaticamente o peso da perda. E se decidirmos parar, será que estaremos a perder tanto quanto achamos? E porque é que sentimos automaticamente culpa?
A culpa é uma emoção complexa que está associada à percepção de que cometemos um erro ou falhámos de alguma forma. Mas se não formos ao jantar, estamos a falhar? A culpa também está associada ao nosso sistema de valores, crenças e normas sociais. Seja este sistema imposto por nós ou pela sociedade. Quando decidimos não ir a algum evento, a culpa que sentimos está também associada à expectativa social (nossa para com os outros e vice-versa) e à nossa necessidade de pertença. Valoriza-se muito a participação em eventos sociais como uma forma de manter e também fortalecer os laços sociais. E esta pressão imposta por nós e pelo que nos circunda, também conhecida como FOMO, leva-nos a sentir que devemos estar sempre disponíveis.
Temos muito medo de desiludir os outros e a imagem que os outros possam ter de nós e muitas vezes, por isso, não cedemos ao nosso cansaço e vamos na mesma. Queremos alimentar as nossas relações, mas será que se deixarmos de ir a um evento, deixamos de as alimentar? Será que por não irmos, as outras pessoas vão-nos achar menos “cool”? Parece que existe uma falta de consciência da importância do auto-cuidado, que leva precisamente à culpa. Se nos sentirmos confiantes na nossa decisão, se aceitarmos que estamos cansados e que precisamos de descansar, se aceitarmos que precisamos de tempo para nós, ou se aceitarmos que precisamos de outra coisa, não surge o FOMO e também não há culpa. Queremos muito agradar os outros e esquecemo-nos dos nossos limites e de nos agradarmos a nós.
O FOMO está de mãos dadas à utilização intensa das redes sociais, que nos expõem constantemente à vida dos outros. Como já foi referido, temos a necessidade intrínseca de corresponder às expectativas sociais e de sentirmos pertença. Ao vermos os outros a desfrutar de algo, sentimos que podemos estar a ser excluídos, não apenas da sua presença, mas também da experiência, e que não estamos a acompanhar as pessoas de quem gostamos. A comparação social é um conceito-chave no FOMO que nos faz pensar, sentir e acreditar que estamos a ficar para trás.
Tudo isto está também associado ao desejo de acumular experiências, de viver ao máximo e à ideia de que nada nos pode escapar. Mas será que é mesmo assim? Será que quando dizemos que sim aos outros, não estamos a dizer que não a nós? E se invertêssemos e sentíssemos FOMO quando não acedemos às nossas verdadeiras necessidades?
Podemos lidar com o FOMO de várias formas. Primeiro, focarmo-nos nas nossas escolhas e questionar se não estarmos presentes significa realmente estarmos a perder algo essencial ou importante para a nossa felicidade. O que é que é realmente importante na minha vida? Quais são as minhas prioridades? E quais são as experiências que vão realmente enriquecer-me, em vez de preencher um certo vazio ou seguir as restantes pessoas? Em segundo lugar, podemos dedicar certos períodos do dia ou da semana a estarmos realmente no presente e desligarmo-nos das redes sociais (parando assim a comparação). Devemos focar-nos em actividades que nos tragam bem-estar e que estão realmente alinhadas com os nossos valores. Estabelecer prioridades e aprender a dizer que não, sem peso, faz-nos respeitar os nossos limites e consequentemente fortalece a nossa auto-estima. Aceitar que é impossível estar em todo o lado e que não ir a um evento não significa que não sejamos suficientes, que estaremos a perder felicidade ou a não alimentar as nossas relações.
A verdadeira realização pessoal não consiste em estar em todo o lado, mas sim o que realmente ressoa connosco e nos faz sentir bem. A vida é realmente vivida quando paramos de desejar tudo e começamos a estar onde realmente precisamos de estar.