“Exército de Precários”: série documental revela a precariedade e abusos sistémicos na segurança privada em Portugal
“Exército de Precários” é o resultado de uma investigação de dois anos no interior da segurança privada em Portugal. A série de oito episódios revela um setor de precariedade extrema e violência sistémica, largamente financiado pelo Estado.
O podcast de jornalismo de investigação Fumaça revelou o trailer da sua próxima série documental que estreia a 14 de janeiro. “Exército de Precários” é uma análise aprofundada ao funcionamento dos serviços de vigilância e segurança privada, e a sua relação com o setor público e o poder político.
Desde 2008, o Estado Português celebrou contratos em mais de mil milhões de euros com empresas de segurança privada como os gigantes Securitas, Grupo 8, Prossegur ou 2045.
Frequentemente associadas a episódios de violência em estabelecimentos de diversão noturnas — como os perpetrados por seguranças da PSG, em frente à discoteca lisboeta Urban Beach, em 2017 —, a maioria destes trabalhadores privados são, na verdade, telefonistas em serviços da Segurança Social e das Finanças, porteiros em hospitais e universidades e guardas de estações ferroviárias e supermercados por todo o país.
Ao fim de 60 entrevistas e mais de 100 horas de gravações, com uma banda sonora totalmente original, “Exército de Precários” traça a imagem de um setor milionário sustentado na precariedade laboral e no bullying corporativo, na ineficácia de sindicatos e reguladores e em práticas ilegais normalizadas pelos gigantes da indústria. Há 45 mil seguranças privados a trabalhar em Portugal, mais do que agentes da PSP e da GNR juntos, ou do que militares nos três ramos das Forças Armadas.
O primeiro episódio, “Boinas”, é lançado a 14 de janeiro de 2021. A partir daí, e até 4 de março, um novo capítulo do audiodocumentário, sempre com uma duração aproximada de uma hora, é publicado todas as quintas-feiras. A série pode ser ouvida gratuitamente num website próprio, ou em qualquer aplicação de podcasts.
Sem publicidade nem paywalls, o Fumaça procura ser totalmente financiado pelo público, através de donativos recorrentes mensais. Quem já contribui, integrando a Comunidade Fumaça, terá acesso antecipado aos quatro primeiros episódios de “Exército de Precários”, logo no dia de lançamento, e a entrevistas extra com os principais personagens da série. É possível doar qualquer valor, a qualquer momento, para integrar a Comunidade Fumaça.
A investigação “Exército de Precários” foi parcialmente financiada pelas Fundações Calouste Gulbenkian, que selecionou o tema na primeira edição das Bolsas de Investigação Jornalística, atribuídas em 2018, e Rosa-Luxemburg, já em 2020.
O Fumaça é detido por uma organização sem fins lucrativos e conta com uma equipa de sete pessoas a contratos permanentes e quatro pessoas em regime de freelance, incluindo um jornalista no Brasil. Desde 2016, já conquistaram múltiplos galardões, incluindo o Prémio Gazeta Revelação 2018, pela série “Palestina, histórias de um país ocupado”, Melhor Narrativa Sonora Digital nos Prémios de Ciberjornalismo em 2018, com a série “Aquilo é Europa”, e Podcast do Ano nos prémios Podes 2019.