Exposição em Lisboa mostra porcelanas criadas pelo artista chinês Ai Weiwei

por Lusa,    15 Maio, 2024
Exposição em Lisboa mostra porcelanas criadas pelo artista chinês Ai Weiwei
Fotografia de AI WEIWEI STUDIO
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A porcelana, “o mais antigo produto artificial” do homem e que ‘sobrevive’ ao plástico, é o material de quase todas as obras do artista chinês Ai Weiwei que compõem uma exposição em Lisboa, a abrir na quarta-feira.

Intitulada “Paradigm”, a mostra vai poder ser visitada na Galeria São Roque, até 31 de julho, e é constituída por 17 obras inspiradas na liberdade de expressão e criadas pelo artista e ativista chinês, residente no concelho alentejano de Montemor-o-Novo (Évora), nos últimos anos.

Trata-se sobretudo de trabalhos em porcelana, mas a exposição integra também uma nova série de retratos com peças de LEGO, que o artista começou a usar em 2014, quando trabalhou com um material associado ao lúdico para produzir retratos de presos políticos.

Em entrevista à agência Lusa, Mário Roque, proprietário da Galeria São Roque, explicou que Ai Weiwei “é um grande colecionador de cerâmicas, já o seu pai era”, o poeta Ai Qing (1910-1996), possuindo peças desde “a dinastia Song”, que governou a China no período de 960 a 1279.

O artista interessou-se mais por esta arte e tornou-se “um grande ceramista, domina perfeitamente a cerâmica”, frisou o mesmo responsável.

“Neste momento, tem interpretações dessas porcelanas feitas agora, já com um caráter completamente diferente, porque há sempre uma irreverência [no seu trabalho], mas poderiam ser perfeitamente [peças] do século XVI ou XVII, mas feitas por ele”, realçou Mário Roque.

Já Ai Weiwei, em declarações aos jornalistas esta semana, numa visita promovida à sua residência no Alentejo, disse interessar-se muito “pelo que aconteceu no passado” e destacou que “a porcelana é o mais antigo produto humano”.

Trata-se de “um produto artificial que atingiu uma qualidade muito elevada desde tempos muito antigos, talvez desde o tempo das cavernas, e, até hoje, ainda usamos porcelana. É claro que muitas são substituídas por plástico, mas, ainda assim, a porcelana detém uma qualidade muito especial” e está presente em muitas casas, argumentou.

Destacando que a porcelana chinesa sempre teve uma qualidade muito elevada, o artista corroborou que esta mostra em Lisboa, “uma das mais pequenas exposições de sempre”, partiu do seu “interesse antigo por antiguidades” e do “laço de confiança” que criou com Marco Roque, cuja galeria visitou.

“É muito irónico fazermos uma exposição de porcelanas numa galeria de antiguidades”, considerou.

Mário Roque confirmou à Lusa que a exposição “começou quase como uma brincadeira”, mas enquadra-se no foco da galeria, cujas iniciativas “têm sempre a ver com os Descobrimentos e a fusão entre os objetos de arte portugueses e desses países”.

Os portugueses foram “os primeiros importadores” de porcelana oriunda da China e, graças a isso, provocaram “uma revolução nas cerâmicas europeias”, disse.

Até então, estas eram “sempre policromadas”, mas “Portugal trouxe o branco e o azul da China”, levando a faiança portuguesa a ser “comprada e divulgada por toda a Europa e pelo mundo”. E o azul-cobalto até serviu para os azulejos portugueses, “um objeto icónico”, pelo que é clara a fusão de culturas, frisou Mário Roque.

Nascido em Pequim, na China, em 1957, Ai Weiwei tem desenvolvido o seu trabalho em instalação escultórica, cinema, fotografia, cerâmica, pintura, escrita e já expôs em instituições e bienais em todo o mundo.

Em 2023, recebeu o grau de doutor ‘honoris causa’ pela Universidade de Évora, que o distinguiu por ser “uma das figuras culturais mais destacadas da sua geração, e um símbolo da liberdade de expressão tanto na China como internacionalmente”, sublinhou a instituição, na altura.

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