Fest, em Espinho, entre a Ucrânia, as alterações climáticas, as tradições e a modernidade
O mundo mudou muito nos últimos dois anos e a ameaça não para de nos surpreender. Ao atingir a maioridade, o FEST – Festival Novos Realizadores | Novo Cinema ensaia o regresso ao que apelidávamos de normal e, mais do que nunca, está alerta para a realidade. Entre 20 e 27 de junho, o Centro Multimeios, o Casino de Espinho e o espaço outdoor Village concentram uma programação eclética em que a qualidade une participantes, convidados e público. Do cinema português às primeiras obras, passando pelo cinema dos parceiros ucranianos do Festival de Odesa, Ucrânia.
Na seleção das primeiras longas-metragens a competir pelo Lince de Ouro da 18ª edição do FEST – Festival Novos Realizadores| Novos Cinema um dos maiores destaques tem de ir, obrigatoriamente, para “Utama“, do estreante boliviano Alejandro Loayza Grisi, grande vencedor do World Cinema Award no Festival de Sundance em janeiro, e de 4 prémios no prestigiado Festival de Málaga. Este retrato de um casal de idosos Quechua, do planalto boliviano, obrigado a confrontar uma seca catastrófica causada pelo degelo de um glaciar nos Andes promete dar muito que falar com o seu inesquecível cruzamento entre a arte e a ecologia.
Dos Andes para os Alpes, outra obra de realce é “A Piece of Sky” do suíço Michael Kosh, obra que surpreendeu no último Festival de Berlim onde conquistou uma menção honrosa na competição oficial. E, ainda a alta altitude, das montanhas rurais do Vietname chega-nos um dos documentários mais louvados do momento, “Children of the Mist” da jovem cineasta Ha Le Diem, vencedor de 3 prémios no IDFA e Cinema du Réel, e que nos apresenta a uma jovem rapariga perdida no limbo entre o progresso e a tradição. A competição conta, também, com a presença de “Immaculate” dos romenos Monica Stan & George Chiper-Lillemark, uma visão claustrofóbica de uma rapariga encarcerada num centro de desintoxicação, que venceu 3 prémios na última edição do Festival de Veneza; o filme do canadiano Philippe Grégoire, “Noise of Engines“, que nos revela as desventuras de um jovem segurança alfandegário perpetuamente em conflito com a moral local; e a obra da cineasta argentina Agustina San Martín, “Matar a la Bestia“, uma das experiências mais ousadas do último Festival de San Sebastian e vencedora de um prémio em Mar del Plata.
Um dos principais objetivos do FEST continua a ser promover e desenvolver de forma sustentada o cinema português, potenciando e promovendo novos cineastas e criando novos públicos. Na programação do Grande Prémio Nacional assistimos a vários regressos, como são os casos de Guilherme Daniel com “Os Abismos da Alma“; Débora Gonçalves com “A Felicidade e Coisas Mórbidas; e Gonçalo Almeida com “A Rapariga de Saturno“, entre outros. O programa conta, por exemplo, com a estreia de “The Event“, corealizado pelo espinhense Hugo Sousa.
Inevitavelmente, a programação reflete o momento conturbado que a Europa atravessa. Em colaboração e solidariedade com os nossos colegas do prestigiado Festival de Odesa, a secção Be Kind Rewind é inteiramente dedicada a uma extensão deste nosso parceiro ucraniano, com um programa repleto de vencedores das últimas edições do festival de leste. Este programa conta com longas-metragens como “Stop-Zemlya” de Kateryna Hornostay, ou o impressionante “Atlantis” de Valentyn Vasianovych, para além de uma sessão de curtas-metragens de alguns dos maiores novos nomes do cinema da região.
Lince de Ouro
Utama de Alejandro Loayza Grisi (Bolivia/Uruguai/França)
Matar a la Bestia de Agustina San Martín (Argentina/Brasil/Chile)
A piece of Sky de Michael Koch (Suíça/Alemanha)
The Noise of Engines de Philippe Grégoire (Canadá)
Immaculate de Monica Stan & George Chiper-Lillemark (Roménia)
Children of the Mist de Ha Le Diem (Vietname)
Grande Prémio Nacional
Quando a Terra Sangra de João Vicente Morgado (Portugal)
Vórtice de Guilherme Branquinho (Portugal)
Femogtyve de João Moreira (Portugal)
Kumaru de Bruno Maravilha, Patrícia Santos & Tânia Teixeira (Portugal)
The Event de Frank Mosley & Hugo De Sousa (EUA/Portugal)
Mansa de Mariana Bártolo (Portugal)
Duas Irmãs de LoTA Gandra (Portugal)
Block de João Vaz Oliveira (Portugal)
They made me believe I was daddy’s girl when I was in fact momma’s boy de Sol Marques Duarte (Portugal)
Ultra de João Lourenço (Portugal)
Da sala ao cinema à rua de Leonardo Miranda (Portugal)
Os Abismos da Alma de Guilherme Daniel (Portugal)
A Felicidade e Coisas Mórbidas de Débora Gonçalves (Portugal)
Mais que Sangue de Sibelle Lobo (Portugal)
A Rapariga de Saturno de Gonçalo Almeida (Portugal)
Kafka de Tiago Iúri (Portugal)
Farol de Henrique Brazão (Portugal)
Nha Sunhu de José Magro (Portugal)
Be Kind Rewind (extensão do Festival de Cinema de Odesa)
Homeward de Nariman Aliev (Ucrânia)
Blindfold de Taras Dron (Ucrânia)
Stop-Zemlya de Kateryna Hornostay (Ucrânia)
Atlantis de Valentyn Vasianovych (Ucrânia)
My Thoughts Are Silent de Antonio Lukich (Ucrânia)
Dad’s Sneakers de Olga Zhurba (Ucrânia)
Leopolis night de Nikon Romanchenko (Ucrânia)
Two people de Vladyslav Vitriv (Ucrânia)
The Secret, the Girl and the Boy de Oksana Kazymіna (Ucrânia)
In Our Synagogue de Ivan Orlenko (Ucrânia)