Festival Colossal: o reavivar do rock ‘n roll em Santo Tirso
Formada no ano de 2017, a Alarido assume-se como uma associação cultural sem fins lucrativos, constituída por jovens de Santo Tirso, que visa dinamizar a cultura na zona de Vila das Aves. A escassez de oferta cultural nesta zona serviu de mote para o nascimento da Alarido; e no seu primeiro ano de existência já conta com nove eventos. O décimo marcou por ser o mais arrojado de todos, e teve lugar nos passados dias 23 e 24 de Março: o Festival Colossal, no Antigo Matadouro da cidade. O cartaz já antevia aquilo que ali se iria viver: dois dias onde o rock é respirado, transpirado e se pompeia pelas veias como bem essencial à vida. O local escolhido para o evento tem também um significado especial: a associação optou por não adornar o espaço com nada daquilo que não fosse a sua verdadeira identidade, mostrando-o ao público na sua integridade (será agora transformado na Casa da Juventude de Santo Tirso).
A abrir as honras desta primeira edição do festival e da noite inaugural estiveram os NU, uma banda que jogava em casa. Filhos da terra, levaram o público a momentos de emoção com o seu rock experimental aliado a spoken-work. O público foi-se compondo e a sala ia enchendo para os El Señor, que subiam em seguida ao palco. A apresentar o EP de estreia, Alvorada Beat, o trio de Fafe animou o espaço que dançava ao som do surf-rock com cheirinho a verão que nos trazem do Minho; e ainda partilhou músicas novas, que trazem um rock mais pesado, a transpirar mais distorções e a apelar ao mosh.
De seguida, os portuenses The Lazy Faithful tomavam de assalto o palco, avisando desde logo que traziam uma setlist especial, inserido na sua «Hablamos Mañana Tour» que tem percorrido o país. Com uma miscelânea de temas que vão desde o seu primeiro EP, Nothing Goes On, passando pelo primeiro álbum Easy Target, e pelo mais recente Bringer of a Good Time, a banda do Porto levou ao rubro o público com o seu rock ‘n roll ousado, riffs de fazer tremer a sala. O público não ficou indiferente a Tommy Hogg, João Pedro Ramos e Luis Dinis, nem ao seu rock irrequieto; a sala rapidamente se encheu de energia, ainda que a timidez tenha levado a melhor, e os presentes que não se tenham atrevido ao mosh (e o rock frenético de The Lazy Faithful bem o pedia). A noite e pista de dança, de resto, ficariam entregues à Alinea A, um dos parceiros do festival.
A segunda noite tem início com uma banda também de Santo Tirso, desta feita os Psychtrus, que logo cedo enchem o espaço. Casa cheia para ver e ouvir estes filhos pródigos, e para cantar a pulmões cheios cada tema, em momentos de arrepiar. A noite começaria assim da melhor forma, e avizinhava-se ainda melhor. Os Sunflowers entravam em cena, um duo frenético que abala qualquer sala por onde passa. O prato da bateria que teimava em não ficar no seu devido lugar não foi suficiente para demover o duo, e acabaram mesmo por arrancar da sala os maiores moshes do evento. Do início ao fim respirou-se rock ‘n roll no espaço, quer em palco, quer no público. O concerto acabaria em apoteose dada a explosão de rock que ali testemunhamos.
Seguiam-se os Paraguaii, uma dupla que alia o rock a elementos mais electrónicos, e que não se deixou intimidar pelo concerto memorável dos Sunflowers; também eles levariama sala a um apogeu de energia, com passos de dança a envolver os presentes, num frenesim de amor pela música. A noite e o final do festival ficariam novamente a cargo da Alinea A, mas não sem antes termos ouvido um sentido agradecimento por parte da Alarido a todos os que estiveram os presentes e aos envolvidos na organização.
A Alarido vem mostrar-nos que nem só de eventos megalómanos se faz a música. A associação pretende combater a falta de oferta cultural, nomeadamente do rock alternativo, na zona de Vila das Aves; e as bandas que lá vão agradecem. O público recebe-as de forma calorosa e torna cada evento inesquecível, com demonstrações de amor pela música que nos aquecem a alma e nos fazem querer sempre regressar.