Festival de Cannes começa hoje e tem cinema português, uma greve e rumores de um #MeToo francês
O Festival de Cinema de Cannes começa hoje, em França, com seis filmes portugueses, uma ameaça de greve de trabalhadores e no meio de rumores de uma vaga do movimento de denúncia de crimes sexuais no setor.
Este ano a competição oficial de Cannes, aquela em que se disputam os prémios máximos do festival, apresenta dois filmes portugueses: a longa-metragem “Grand Tour”, de Miguel Gomes, e a curta-metragem “Bad for a Moment”, de Daniel Soares.
Na competição de longas figuram, entre outros, “Megalopolis”, de Francis Ford Coppola com mais de 40 anos, “The Shrouds”, de David Cronenberg, “Motel Destino”, do realizador brasileiro Karim Ainouz, ou “Kinds of Kindness”, do grego Yorgos Lanthimos, novamente com Emma Stone.
O júri é este ano presidido pela atriz e realizadora norte-americana Greta Gerwig.
Nos programas paralelos do festival, na Quinzena de Cineastas figuram a longa-metragem “A savana e a montanha”, de Paulo Carneiro, e as curtas “Quando a terra foge”, de Frederico Lobo, e “O jardim em movimento”, de Inês Lima.
Na Semana da Crítica estreia-se o filme “As minhas sensações são tudo o que tenho para oferecer”, de Isadora Neves Marques.
Há ainda a assinalar duas coproduções portuguesas presentes no festival: “Miséricorde”, de Alain Guiraudie, coprodução pela Rosa Filmes, de Joaquim Sapinho, e “Algo viejo, algo neuvo, algo prestado”, de Hermán Rosselli, com a Oublaum Filmes, de Ico Costa.
Este ano, o festival abre com o filme “Le deuxième act”, de Quentin Dupieux, e com a presença da atriz Meryl Streep, que receberá um prémio de honra.
Da programação, destaque ainda para a estreia, na quarta-feira, de um filme que foi adicionado já depois de ter sido apresentada a programação: “Moi aussi”, da atriz e realizadora francesa Judith Godrèche, a partir de histórias de vítimas de violência sexual.
O título do filme remete para o movimento de denúncia de abusos sexuais na indústria cinematográfica dos Estados Unidos #MeToo e que tem abalado também o setor francês, com “rumores sobre personalidades do cinema a circularem nas últimas semanas nas redes sociais, mas sem acusações confirmadas ou desmentidas”, escreve a agência France-Presse.
Na semana passada, numa entrevista à revista Paris Match, a presidente do festival, Iris Knobloch, disse que Cannes estava “extremamente atento” e a acompanhar a situação e que “se surgir um caso de uma pessoa acusada”, tomará “a decisão correta caso a caso”.
Na segunda-feira, em conferência de imprensa em Cannes, o delegado-geral, Thierry Frémaux, disse que “não há nenhuma polémica proveniente do festival” e que não quer ampliar especulações. Se “há outras controvérsias”, disse, “isso não nos preocupa”.
A 77.ª edição do Festival de Cannes estender-se-á até ao dia 25, durante a qual vão ser atribuídos ainda prémios de honra ao realizador George Lucas e, num gesto inédito na história do evento, ao estúdio japonês de animação Ghibli.
Em Cannes são esperadas cerca de 35.000 pessoas e o ambiente de festa poderá ser ainda perturbado por uma greve, convocada por um coletivo de profissionais ligados ao cinema, como projecionistas, programadores e assistentes de bilheteira, cuja condição de precariedade os leva a exigir um estatuto de trabalhador intermitente.
A caminho dos Jogos Olímpicos de Paris, no verão, em Cannes haverá ainda um cruzamento entre cinema e desporto, uma vez que está prevista a passagem da chama olímpica pela cidade, transportada pelo atleta paralímpico francês Arnaud Assoumani.