Festival de Cannes repudia condenação de realizador iraniano Saeed Roustaee
O Festival de Cinema de Cannes repudiou a condenação do realizador Saeed Roustaee a seis meses de prisão no Irão, devido à exibição de um filme naquele evento em França, considerando-a “grave violação da liberdade de expressão”.
Além dos seis meses de prisão, o realizador de “Os irmãos de Leila”, filme apresentado na edição de 2022, e o seu produtor, Javad Norouzbeigui, foram proibidos de trabalhar por cinco anos por um tribunal de Teerão, com o festival de cinema a descrever as penas como “uma grave violação da liberdade de expressão de artistas, cineastas, produtores e técnicos iranianos”, em comunicado enviado à AFP.
“Como muitos profissionais ao redor do mundo, o Festival de Cinema de Cannes expressa o seu apoio a todos aqueles que sofrem violência e represálias na produção e distribuição de suas obras. O festival é a casa deles. Está e estará sempre ao lado deles para defender a liberdade de criação e de expressão”, vinca.
Segundo a edição de terça-feira do diário iraniano Etemad, o tribunal entendeu que a difusão da obra “contribui para a propaganda da oposição contra o sistema islâmico” no país.
O tribunal decidiu ainda que o produtor e o realizador só vão cumprir cerca de uma semana da sentença e o restante período fica suspenso por cinco anos, adiantou a mesma publicação iraniana.
Durante o período de suspensão da pena, Saeed Roustaee e Javad Nozurgebi estão impedidos de fazer cinema ou, como refere o tribunal, “estão obrigados a abster-se de atividades relacionadas com o crime cometido e não podem estar em contacto com pessoas que trabalhem em cinema”.
“Os irmãos de Leila”, que já tinha sido banido no Irão, integrou a competição oficial do festival de Cannes em 2022, tendo recebido o prémio FIPRESCI, da crítica.
“Aos 40 anos, Leila passou a vida a tomar conta dos pais e dos quatro irmãos. A família discute constantemente e está afundada em dívidas, tudo isto num país onde as sanções económicas internacionais afetam a qualidade de vida da sua sociedade”, refere a sinopse.
Saeed Roustaee e Javad Nozurbegi juntam-se a uma longa lista de figuras da cultura iraniana que têm sido alvo de repressão pelo regime iraniano, que inclui, entre outros, os realizadores Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof e a atriz Taraneh Alidoosti.