Festival DocLisboa dá a conhecer a programação completa e dedica 20.ª edição a Jean-Luc Godard
Já é conhecida a programação do Doclisboa’22, que decorre entre 6 e 16 de Outubro, nas salas habituais do festival – Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Cinema Ideal e Museu do Aljube.
A Conferência de Imprensa do 20º Doclisboa decorreu hoje, na Culturgest, com a presença de Miguel Ribeiro (Director – Doclisboa), Joana de Sousa (Chefe de Programação – Doclisboa), Mark Deputter (Presidente do Conselho Diretivo – Culturgest), Marina Sousa Uva (Directora – Cinema São Jorge) e José Manuel Costa (Director – Cinemateca Portuguesa), onde foi anunciada a programação completa desta edição.
Em 2022, o Doclisboa comemora 20 anos. Desde a primeira edição, o festival já apresentou mais de 3.500 filmes, entre os quais 548 estreias mundiais, tendo acolhido mais de meio milhão de espectadores. Ao longo destas duas décadas, o festival não só acompanhou as muitas mudanças do mundo, como procurou construir um espaço de reflexão e de novos olhares cinematográficos sobre a realidade ao redor.
A 20ª edição é dedicada a Jean-Luc Godard, cineasta livre e instigante, comprometido e atento. “Devemos-lhe o programa que apresentamos e celebramos a sua vida em cada projecção.”, pode ler-se num comunicado do Doclisboa.
A nova edição volta a promover encontros e diálogos entre as múltiplas vozes que atravessam o festival e apresenta uma programação composta por 281 filmes, com 47 estreias mundiais e 28 estreias internacionais.
A Competição Internacional viaja por 13 territórios distintos e traz 12 olhares sobre o mundo e sobre o cinema, com uma diversidade formal e estética que questiona o mundo nas suas diversas faces. Uma selecção que apresenta as mais recentes obras de Alejandro Vázquez San Miguel, Amber Bemak, Camille Degeye, Claudia Müller, Dominique Loreau, Gastón Sahajdacny, Jacques Kébadian, Léo Liotard, Nikita Lavretski, Rania Stephan, Shichiri Kei e Vadim Kostrov.
Dos 44 filmes portugueses presentes na edição deste ano, 12 voltam a integrar a Competição Portuguesa, dos quais 8 são estreias mundiais. Ana Vîjdea, César Pedro, Irene M. Borrego, Leonardo Mouramateus, João Rosas, Maria Simões e Tiago Melo Bento, Maxime Martinot, Miguel de Jesus, Mónica de Miranda, Raul Domingues, Rosa Coutinho Cabral e Welket Bungué apresentam propostas que desafiam as nossas construções sobre a realidade, entre espaços, tempos, memórias e afectos,
No coração pulsante do Doclisboa, a dança, música, literatura e o cinema voltam a estar representados. Eis alguns dos 29 filmes da secção Heart Beat que trazem novas abordagens ao universo artístico.
Alexandre O. Philippe monta a relação entre a obra cinematográfica de David Lynch a partir do universo d’O Feiticeiro de Oz em Lynch/Oz. Em Godard Cinema, de Cyril Leuthy, redescobrimos o mestre da Nouvelle Vague e a renovação constante da sua arte. O cineasta e actor francês Mathieu Amalric estará em Lisboa para apresentar a sua trilogia sobre o músico de jazz (e seu amigo) John Zorn. Cinco filmes portugueses fazem a sua estreia mundial no festival: Catarina Alves Costa traça o retrato de Margot Dias (1908-2001), realizadora e antropóloga alemã, João Pedro Moreira leva-nos pelos processos criativos de Rui Reininho em A Viagem do Rei, Diogo Varela Silva retrata a vida e obra de João Ayres – Pintor Independente e Patrick Mendes filma o 40º aniversário dos Mata-Ratos ao vivo no Octógono – Fundão. Na antecipação da série Cinekomix!!!, realizada por Edgar Pêra, que explora a relação entre o cinema e a banda desenhada, o Doclisboa apresenta três episódios sobre três autores de renome internacional — Neil Gaiman, José Carlos Fernandes e Tommi Musturi.
Da Terra à Lua volta a apresentar um conjunto de olhares atentos e críticos sobre o mundo pela lente da história e da contemporaneidade. Solidário com a resistência ucraniana à invasão pela Rússia, o Doclisboa apresenta a cópia restaurada de Earth, de Olexander Dovzhenko,em conjunto com um filme produzido já no contexto actual da Ucrânia.
O realizador ucraniano Sergei Loznitsa, por sua vez, volta a marcar presença com o retrato do antigo presidente lituano Vytautas Landsbergis, em Mr Landsbergis. Alon Schwarz percorre as memórias e feridas da desaparecida vila palestina de Tantura. A teoria de conspiração sobre a morte de John F. Kennedy torna-se cada vez mais real com as novas provas apresentadas por Oliver Stone em JFK Revisited: Through the Looking Glass. Frederick Wiseman mergulha na intimidade da relação conturbada de Lev e Sofia Tolstói, em Un Couple, e Sébastien Lifshitzpresta uma comovente homenagem à comunidade queer que, nos anos 60, encontrava refúgio na Casa Susanna. Em Artistic Differences: Colectivo Cine Mujer, o Doclisboa, em parceria com o UnionDocs e Artistic Differences, exibe 4 restauros de curtas de cineastas deste colectivo mexicano dos anos 70 e 80, pioneiro na articulação de um cinema abertamente feminista.
A secção Riscos volta a expandir as fronteiras do cinema, com uma programação que arrisca novas linguagens cinematográficas e questiona os vários tempos e territórios. Éric Baudelaire e Ana Carolina são os realizadores convidados desta edição. O cinema de Želimir Žilnik, alvo de uma retrospectiva em 2017, regressa ao festival com a exibição de 4 curtas outrora consideradas perdidas. Laurent Achard filma Patricia Mazuy na construção do seu filme Saturn Bowling e Peter von Bagh revela o fascinante cinema do finlandês Mikko Niskanen, cujo filme Eight Deadly Shots pode finalmente ser vista, graças aos esforços de recuperação e restauro de von Bagh e de Martin Scorsese.
Nos programas temáticos, podem ainda encontrar-se os mais recentes filmes de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata (Onde fica Esta Rua? ou Sem Antes nem Depois), deJames Benning (The United States of America), de Ruth Beckermann (MUTZENBACHER), de Mike Hoolboom (Waves), Elisabeth Perceval e Nicolas Klotz (Song of the Buried City), entre outros.
De 11 a 16 de Outubro, o Nebulae, o espaço de networking do Doclisboa, é palco de novos encontros para profissionais da indústria e traz novidades. Em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, realiza-se a primeira edição do Jumpgate — Inspiring European Producers, cimeira anual dirigida a produtores europeus de áreas diversas e níveis de experiência diferentes no âmbito da produção de cinema de não ficção. O Nebulae acolhe ainda a França como País Convidado, assim como mais uma edição do Arché, debruça-se sobre a Retrospectiva A Questão Colonial e sobre o trabalho com o debate Mulheres no Cinema, Mulheres no Trabalho e reúne profissionais da indústria para debater sobre métodos e ferramentas para a criação de públicos em mais um Estado da Arte.
A programação do festival já está disponível em doclisboa.org e as bilheteiras físicas e online estão oficialmente abertas.